V Na crônica de encerramento, vou contar sobre nosso último dia de viagem à Alemanha - mais precisamente em Berlim - e a volta para casa.
Saímos, Eliza e eu, bem cedo, e não tínhamos como não conhecer o Estádio Olímpico, construído por Adolf Hitler para os Jogos Olímpicos de 1936. Algumas dependências olímpicas ainda estão lá, mas eu estava interessado mesmo era no estádio, restaurado e adaptado para ser um dos palcos da Copa do Mundo de 2006.
Um moderno teto foi instalado para proteger os torcedores da chuva e do frio. Herta-Berlim é o time alemão que manda nos jogos ali para 75 mil torcedores. Dois grandes pilares com os Cinco Anéis Olímpicos, mas sem as cores, estão bem na frente da entrada principal. Vi de perto a famosa Tribuna de Honra do estádio, bem simples por sinal, de onde o ditador assistiu a uma de suas maiores derrotas - o velocista americano negro Jesse Owens ganhou quatro medalhas de ouro, o tornando símbolo da luta contra o racismo na época. O americano calou Hitler sem usar palavras, mostrando com seus resultados que a supremacia branca pregada pelo ditador, não passava de balela. Enormes pilastras de pedra em todo o redor sustentam as arquibancadas. E este mesmo tipo de pedra formam as paredes e o piso. É lindo demais.
Caminhando no lado de fora, nos deparamos com um gigante Sino, hoje no chão. O emblemático objeto soou quando Adolf Hitler inaugurou oficialmente os jogos e soou novamente na cerimônia de encerramento.
A tribuna onde o comandante e seus generais assistiam e intimidavam seus atletas e seus oponentes estava fechada para visitação. A Tocha Olímpica ainda encontra-se lá, muito simples por sinal. Apenas três pilares e uma espécie de panela de aço resistem ao tempo. Ela fica no lado oposto a entrada. Ali também está gravado em três pedras a placa comemorativa aos Jogos Olímpicos, membros do comitê etc. Com a camisa do Brasil, fizemos algumas fotos no local e nos despedimos.
Gostei de tudo o que vi em Berlim, mas confesso que o que mais me atraiu foi a história do Muro de Berlim. Meu sonho era tocá-lo, caminhar sobre o que foi o muro, ver as ruínas, tentar sentir um pouquinho do que ele representou durante 28 anos para aquele povo, que teve sua liberdade cerceada da noite para o dia. Uma energia impressionante no local, chego a me emocionar por várias vezes. Que história, que lugar! Chego a pensar que cresci, tive a minha juventude, Ayrton Senna foi campeão mundial pela primeira vez em 1988, tudo isto acontecendo e o povo alemão permaneceu ali, preso. Parece que eu não sabia! Na verdade, não tínhamos acesso a estas informações. Não nos dávamos conta do que estava realmente acontecendo. Vendo todas as fotos, que parecem ser “recentes”, me pergunto: onde nós estávamos naquele período, o que estávamos fazendo? É impressionante! Me despeço de Berlim com este pensamento e sentimento.
Já era hora do almoço e resolvemos matar a fome no Berlin Mall, shopping bem próximo ao hotel. Pegamos as malas e fomos para o aeroporto, pois nosso voo para Frankfurt, de apenas uma hora, sairia às 19h15.
Já em Frankfurt, fizermos aquele mesmo trajeto da minha chegada na Alemanha, já contado aqui - do aeroporto para estação central de Wiesbaden, e de lá para a vila residencial. Eliza, como sempre, muito ágil na compra dos bilhetes e localização dos pontos de partida. Em poucos minutos já estávamos, enfim, no apartamento, onde “recarregamos as baterias”. Ao acordamos, já era Domingo de Páscoa, e teríamos ainda nosso último dia juntos na Alemanha.
Após o café da manhã preparado por ela, já começo a arrumar as malas e me despedir, pois ali não voltaria mais. Neste momento a emoção falou mais alto.
Em poucos minutos já estávamos na cidade de Wiesbaden para nosso almoço de Páscoa. Antes disto, passamos na Igreja Marktkirche para agradecer à nossa viagem e à vida. Escolhemos o mesmo restaurante/bar do primeiro dia, “Scotch in Soda”, uma mistura de bar irlandês com alemão.
Já eram 17h quando deixamos o local e fomos para a estação de trem. O voo da Lufthansa LH-506 sairia às 22h05, e eu não poderia perdê-lo de jeito nenhum. Sabe aquela pasta, do início da viagem, que levei como precaução, com mais de 60 folhas impressas? Pois é, voltou intacta! A pandemia ajustou o sistema, e o papel não volta mais, tudo agora é online, no celular, no e-mail, nos aplicativos, realmente uma facilidade.
No Portão B do aeroporto nos despedimos. Neste exato momento, captei a mensagem e o significado do local e da palavra “Partida”. Pensa num coração partido. Era assim que estava o meu naquele momento.
Coloco o celular no modo “trem”, aperto o cinto, rezo e preparo para a decolagem. Pontualmente, às 04h55 do dia 18 de abril, o voo aterrissou em São Paulo. Horas depois já estava em casa, minha esposa Renata e minha netinha Elena me esperavam de braços abertos. Gratidão!