Marcelo Camillo e filha Eliza no Portão de Brandemburgo
v Berlim foi um dos principais motivos que encontrei para a viagem à Alemanha. A queda do Muro de Berlim foi um acontecimento que sempre me intrigou, e ver de perto toda aquela história sempre foi o meu sonho. Como um grande fã da banda Pink Floyd, The Wall estaria logo ali. Apenas uma hora e cinco minutos separam Munique de Berlim, trajeto que seria feito em mais de oito horas de trem. Meus antepassados que me perdoem, mas desta vez não tinha tempo a perder dentro de um trem, preferimos o “trem que voa”.
Uma vez em Berlim, Eliza e eu pegamos um moderno trem do aeroporto com destino à estação central, que por si só já é uma atração turística, quase um shopping center gigante, só que com os trens passando no meio. Um Uber nos leva até ao nosso hotel. Nos acomodamos estrategicamente no coração de Berlim. Nosso hotel, Gat Point Charlie. Como o próprio nome diz, bem ao lado de onde tudo acontece.
Três dias e três noites teríamos para desbravar a capital alemã. Já era mais de 22h quando fiz a famosa foto no Check-Point Charlie. Só após dois dias vim a saber que o “Charlie" não é uma pessoa ou um soldado, como eu pensava ser, trata-se de uma expressão militar para um posto de controle, e outros postos de controle haviam em Berlim durante o isolamento, como Alpha, Bravo etc. Passado este momento de nostalgia, no dia seguinte fomos desbravar Berlim.
Acordamos bem cedo no dia 14 de abril e já fomos direto ao principal ponto turístico. O Portão de Brandemburgo, um ícone da cidade. E ali naquela região estão os mais belos prédios antigos. E foi neste local, com o portão ao fundo, que há 35 anos o presidente dos Estados Unidos da América, Ronald Reagan, discursou para o presidente da União Soviética, Mikhail Gorbatchov, e pediu: derrube este muro. Após algumas fotos, resolvi fazer um vídeo parafraseando o discurso do presidente dos Estados Unidos, feito por ele dois anos antes da queda do muro, em 1987. Bastou trocar as palavras Gorbatchov por Putin, e “derrube este muro” por “acabe com esta guerra na Ucrânia”, e pronto: estava dado a minha mensagem. Só espero que não demore o mesmo tempo para o Sr. Putin ouvir meu discurso e cessar a guerra de vez!
Bem ao lado fica o Palácio Reichstag, que abriga o parlamento alemão, onde pode-se caminhar na cúpula de vidro, mas não tínhamos feito o agendamento prévio de um dia. Uma pena não poder visita-lo. Seguimos pela longa avenida do portão e logo chegamos ao Memorial de Guerra Soviético, em memória aos soldados soviéticos que morreram na Segunda Guerra Mundial. Eu, como Soldado da ReservadoTiro de Guerra TG-04.021,Vasconcellos/136, presto continência e vamos embora.
Caminhamos até Potsdamer Platz, a maior e principal praça da cidade, local de comemorações, etc. E foi ali naquela praça que ocorreu um dos shows mais emblemáticos da banda Pink Floyd. O showThe Wall Live in Berlin, em julho de 1990, para delírio de 350 mil pessoas em comemoração à queda do Muro de Berlim, ocorrido oito meses antes. Este mesmo show, tive o prazer de assistir na turnê da banda aqui no Brasil, em 2012, no estádio do Morumbi.
Chegamos novamente ao portal, e do lado de trás, sentido à grande avenida, o trânsito flui normalmente. No chão está marcado o caminho onde passava o muro, com os dois paralelepípedos lado a lado (e eu desafiando os carros, caminho um bom pedaço bem em cima da linha que dividia Berlim, para o desespero da Eliza).
Também logo ao lado do portal encontra-se o Memorial aos Judeus Mortos da Europa, ou Memorial do Holocausto. São 2.711 blocos de concreto, todos no mesmo comprimento, de 2,38 metros por 0,95 metros de largura. O que difere um do outro é a altura, variando de 20 centímetros e chegando até 4,80 metros de altura. Foram feitos para criar intranquilidade, um clima de confusão. E foi isto que sentimos no local, parece um labirinto. Olhando da calçada, parecem ser todos no mesmo nível da rua, mas ao caminhar pelo interior, é um sobe/desce impressionante. Imagino que à noite aquilo deve ser aterrorizante, já que o piso é todo iluminado. Sem dúvida foi um dos locais mais loucos que eu vi na minha vida!
Dali iniciamos as visitas aos museus, a paixão da Eliza. E eu, que não era adepto destes passeios, depois da viagem mudei minha forma de pensar. Me surpreendi com cada um deles. Se você gosta de história, venha pra Alemanha. Eu nunca tinha visto uma história tão bem contada! Parece que o orgulho deste povo é contar a sua história.
Chegamos à Catedral de Berlim ou Berliner Dom. Após um rápido agendamento, adentramos à mais bela igreja cristã que eu já vi até hoje. Uma cúpula de uns 50 metros de altura, que pode ser vista de vários pontos da cidade. Diversas esculturas, e um belíssimo altar. Impressionante. Meu pai, Odair, sempre me dizia que o que mais o impressionava em suas viagens eram as igrejas. E com razão.
m m m m m m m m m m m m m m m m m m m m De volta à região do hotel, demos início às minhas favoritas atrações. A história do Muro de Berlim. Começamos pelo Die Mauer, um gigantesco painel iluminado que mostra com clareza uma parte residencial de onde ficava o muro. Uma representação de uma vista dos dois lados na época - de um lado uma cidade livre; do outro, como eram as barreiras para quem quisesse se atrever a atravessá-las. Som de sirenes e vozes de ordem no alto falante dão uma sensação de como era estar ali. Não se sabe ao certo quantas pessoas tentaram e quantas tiveram êxito, e quantas morreram na tentativa de atravessar a fronteira. O que se sabe é que foi um número muito pequeno em relação aos 28 anos de isolamento. Também pudera, a construção impressionava. Com 160 km de extensão, 302 torres de observação, 127 redes metálicas eletrificadas com arame farpado, 255 km de pista para patrulhamento com cães de guarda, com militares da Alemanha Oriental ordenados para atirar para matar os que tentavam escapar para o lado Ocidental. Várias fotos da época e textos muito bem explicados, contam ali a história no Dier Mauer, vale a pena.
Logo ali, bem próximo, está a Topografia do Terror, um memorial que documenta a memória do Holocausto. Parte em céu aberto, parte em um enorme prédio, este museu se encontra onde era a sede da Gestapo, as lideranças da SS, o Serviço de Segurança Nazista e o escritório central da Segurança do Reich. Duas a três horas, no mínimo, são necessárias pra conhecer todo o local. Ali os nazistas decidiram sobre o destino de seis milhões de judeus europeus mortos, assim como os prisioneiros de guerra. Ruínas dos porões onde os prisioneiros eram torturados ainda estão por ali. Num setor, várias fotos das pessoas da mesma família, de todos os ângulos. Neste local ainda estão de pé e preservados, cerca de 200 metros do muro original. Dali mesmo pode-se fazer, e eu fiz, marcado no chão da rua, o caminho da continuação do muro até o CheckPoint Charlie.
No dia seguinte, 15 de abril, já estávamos num Uber a caminho do East Side Gallery ou Berliner Mauer. É, na verdade, um pedaço de 1.300 metros de muro de ambos os lados que formou uma galeria de arte. Diversos artistas anônimos deixaram ali suas pinturas, textos, enfim, mostraram a sua arte e indignação. Naquele local um rio separa os dois lados. Penso, realmente seria impossível atravessar o rio e passar pelas barreiras, trincheiras, cercas, cães, militares e ainda ter que pular o muro, sem ser alvejado de balas. Chego a tentar pular o muro para verificar a altura, mas realmente é de desanimar. Quatro enormes pedaços do muro estão expostos ali para termos uma ideia de como eles eram feitos. Em blocos pré-moldados de concreto armado com ferros, de mais ou menos três metros de altura, eram colocados lado a lado, e em cima ainda colocavam uma espécie de bola de concreto.
Caminhamos pelos dois lados do muro, e no final atravessamos uma ponte e chegamos ao lado soviético de Berlim. Ao contrário de prédios modernos, altos e luxuosos, por lá pequenos edifícios antigos e decadentes, de 3 ou 4 andares, resistem ao tempo. Uma região feia, desvalorizada, antiga e que realmente não evoluiu. E assim deve permanecer por muito anos, apesar de ser livre. Um contraste.
Passado mais este momento de curiosidade e perplexidade, fomos em direção ao DDR Museum. Ao lado da Catedral de Berlim, também conta a história do regime nazista. Muito bem catalogado em seus vários ambientes. Me chamou a atenção uma réplica do que era a “Sala do Interrogatório”, onde você coloca os dois cotovelos num buraco na mesa e, com as duas mãos no ouvido, escuta perfeitamente o interrogatório (e fala perfeitamente pelos cotovelos). Acho que vem dali a expressão “falar pelos cotovelos”.
Dali partimos para outro museu dedicado ao muro de Berlim. O Die Mauer The Wall, na Leipzger Platz, bem ao lado do shoppingMall of Berlin. Também é contada a história do muro em diversas fotos e objetos, armas, vestimentas etc.
Bem ao lado está o Museu da Espionagem ou German Spy Museum. Por dois dias tentamos visitá-lo, mas infelizmente não conseguimos. Um dia pelo horário e outro porque os tickets tinham se esgotado. Realmente, todas as atrações turísticas ficam muito cheias.
Resolvemos então ir para ao Museu da Tecnologia Alemã ou Deustsches Technikmuseum. Recomendado pelo meu amigo Edson, que falou que o melhor da tecnologia antiga alemã estaria ali. E com razão, parece que os alemães estão anos e anos à nossa frente. E tudo foi comprovado num gigantesco espaço. Um dia inteiro ali, acho que é pouco, tamanha quantidade de setores a visitar e a quantidade de peças. Desde gigantes locomotivas de ferro a vapor, passando por aviões, barcos, automóveis, tecnologia, aparelhos eletrônicos, máquinas. Impressionante a capacidade e organização deste povo.
Também na nossa programação estava a visita a um bar gelado, o Ice Bar Berlim. Partimos para lá. Paga-se para entrar, porém a experiência é incrível. Drinks à disposição na forma de consumação - é só pedir e carimbar o passaporte para o mundo gelado. Uma breve explicação do que aconteceria ali dentro, vestimos uma espécie de ponche bem grosso, calçamos as luvas e entramos na balada gelada, com menos de 10 graus de temperatura. Esculturas, balcão, copos, enfim, tudo é de gelo. Músicas e luzes agitam o local e tem que dançar, senão você morre de frio. Drinks são oferecidos em copos de gelo, para a nossa alegria. Fotos e filmes são inevitáveis, assim como a tremedeira.
Voltamos para o hotel para descansar, pois no dia seguinte, sábado, 16 de abril, seria nosso último dia em Berlim. Como o texto ficou enoooorme, deixarei essa parte para contar na segunda-feira... até lá!