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27/03/2023 às 15h50min - Atualizada em 27/03/2023 às 15h50min

Paranapiacaba, de onde se avista o mar...

Por Odair Camillo - Jornalista
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Ao aceitar o convite para participar do 9º Festival de Inverno de Paranapiacaba, em julho de 2009, vi também a possibilidade de rever a famosa “Vila Inglesa” onde nasci.
 
A viagem começou na Estação da Luz, de onde partiam os trens da CPTM em direção a Rio Grande da Serra, e depois, alguns minutos num ônibus urbano, que deixou-me no alto da cidade.
A caminho da vila, passei pela Igreja Bom Jesus, chegando à antiga passarela que liga a cidade alta à baixa, sobre os trilhos da estrada de ferro.
 
O tempo estava bom, coisa rara naquela região da Serra do Mar.  Por um instante, tive a impressão - como de outras vezes - de ter ouvido o apito da pequena “loco-breque” preparando-se para levar os vagões para o sistema funicular, na descida da serra até seu ponto final, em Piaçaguera e, de lá, puxados pelas locomotivas até a estação de Valongo, em Santos.
 
Ainda da velha ponte, captei com minha Nikon algumas imagens do que restou do conjunto arquitetônico em estilo Vitoriano da velha estação e da torre encimada por um grande relógio tipo Big Ben. Ao final da passarela, cheguei a um grande pavilhão, com vários bares e restaurantes. Subi a rua Direita, onde ficava o Bar da Zilda que tinha, além de uma gostosa comida, a famosa “pinga com Cambuci”.
 
Em cada passo, uma recordação. Numa casa de madeira, transformada em loja de artesanato, lembrei-me que nela funcionou por muitos anos um bar e pensão de meus saudosos tios Marques e Olívia.
 
Prosseguindo na caminhada, passei por tendas armadas e palcos onde se apresentariam os artistas Lô Borges e Toquinho, os quais seriam por mim entrevistados para o Brand-News.
Logo após ter deixado a mala na pousada, iniciei minha caminhada para redescobrir “minha Vila”.
 
Cheguei até o Clube União Lyra-Serrano e lembrei-me que nele meus pais se conheceram e participaram de muitos bailes. Dei uma passadinha na Varanda Velha, onde moraram por algum tempo. Em seguida, já que estava bem próximo, fui conhecer o campo do Serrano Atlético Clube, construído em 1903 e que foi o primeiro de toda a região do ABC, formado por ferroviários da São Paulo Railway. Hoje ele é conhecido como Campo de Futebol Charles Miller, um dos mais antigos do Brasil.
 
Agora, é chegada a hora de partir.  No caminho de volta, atravessei a passarela, aproveitando para fixar mais algumas imagens à minha câmera. O tempo estava bom. Nem mesmo o fog londrino deu as caras naquele fim de semana. Arrastei a mala pela ladeira William Speers e cheguei à Igreja do Bom Jesus. Não havia ninguém porque a missa dominical havia terminado.
A pequena capela estava linda. Sentei-me num dos bancos para um breve descanso e meditação. Do lado de fora estava o cemitério onde foram enterrados meus avós. Do ponto mais alto do local, avistei como de outras vezes o imenso mar, quilômetros de distância daquele ponto onde estava.
 
Tive a impressão de ter ouvido mais uma vez o apito lamurioso da velha locomotiva. No grande pátio, estava o ônibus que me levaria de volta a Rio Grande da Serra. Ele estava prestes a partir. Antes de entrar, lancei o último olhar para a Vila que ficou lá em baixo. E prometi voltar mais uma vez para rever as imagens saudosas da minha querida Paranapiacaba.
 
Do livro “Memórias de um jornalista globetrotter” - Julho de 2009
 
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