20/12/2022 às 15h58min - Atualizada em 20/12/2022 às 15h58min

Colarzinho de contas e os Orixás da Bahia

Crônicas de viagem do livro "Lurdinha Camillo - Pelo Mundo"
Foto: Brand-News
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Muita gente torce o nariz quando diz que vai a Salvador. Mas, Salvador? Por quê? Gente, Salvador é linda, alegre, cheia de história, brasileiríssima. Lugar onde sempre se descobre encantos. Rever lugares já vistos, entrar no ritmo e malemolência do baiano, comer devagarzinho um acarajé com pimenta arretada, como se fosse o primeiro.
 
Mas, descobri uma maneira de voltar a Salvador e amar novamente aquela cidade. Levar comigo minhas filhas Kátia e Cláudia. E tem coisa melhor que viajar com as filhas? Dias de dolce far niente, com muita sintonia, alegrias compartilhadas e o prazer de estarmos juntas.
 
Hospedamo-nos no bem localizado Hotel Tropical da Bahia, no Campo Grande, tendo como vizinhos o Teatro Castro Alves e a Praça 2 de Julho, paixão dos moradores do pedaço. A poucos metros do hotel, no famoso Corredor da Vitória, o majestoso prédio onde moradores com DNA poderosos e outros abastados ocupam andares imensos. A cobertura? De Ivete Sangalo, of course!
 
Dela, nem um alozinho na imensa varanda, que tem um pedacinho meu. Ora, e os três DVDs dela que comprei? E os royalites que ela ganhou com esta porcentagem? Mas deixa pra lá! Mesmo porque de Gal e Caetano também não tivemos notícia. Mas nem te ligo!


Manhãzinha, o calor já de grudar a roupa no corpo. No animado café, a decisão do dia: onde ir primeiro. As meninas (como é bom chamar as filhas de meninas!), loucas para conhecer o Farol da Barra, o Pelourinho, o Mercado Modelo, a riquíssima Igreja de São Francisco, a Fundação da Casa de Jorge Amado, a Igreja do Bonfim, etc e tal.
 

Deu fome geral. Fomos conhecer o Restaurante Sorriso da Dadá. Um calorão lá dentro. Optamos por um almoço leve para continuar o sobe-e-desce do agitado Pelourinho.
 
No alto, dominando o cenário, o elegante e majestoso Hotel Convento do Carmo, membro da Rede Pousadas de Portugal. Jane Leal, public relations, simpática e eficiente, nos recebeu para uma visita. O Convento do Carmo começou a ser erguido em 1586, pela Ordem Primeira dos Freis Carmelitas. Ao longo dos séculos, foi palco de grandes acontecimentos na história e é hoje o primeiro hotel histórico de luxo no país.
Passamos horas entre sua arquitetura clássica combinada com o mobiliário e obras de arte que compõem uma atmosfera de pleno requinte.
 
Descemos e subimos o Pelourinho e rumamos para o Elevador Lacerda, sempre abarrotado, todo mundo apertadinho. A Cláudia foi de nariz na fresta da porta, dizendo “este ar é meu.” História para ser lembrada.

 
E a vontade que dá de todo santo dia descer e subir aquele elevador e depois circular pelas lojinhas do Mercado Modelo? Comprar um colarzinho de contas aqui, uma camiseta ali, um artesanato, um punhado de fitinhas do Senhor do Bonfim. Resistir? Nem pensar!
 
Ali pertinho, o Forte São Marcelo pede uma visita. Atravessamos de barco e não nos arrependemos da ideia. Solto no meio do mar, elegante na simplicidade de suas formas, o Forte é um passeio imperdível. Verdade que o restaurante exibe preços bem salgados.

 
Uma visita ao Museu de Arte Moderna, no Solar do Unhão, rendeu bons momentos.
 
Dia de praia. São tantas. Como escolher? Cláudia, exigente como ela só, escolheu a Praia da Aleluia, e a bem montada Barraca do Lôro. Longe, longe, mas valeu. O passeio incluiu a Lagoa do Abaeté, que vai desaparecendo aos poucos do cenário lúdico e histórico. A água, verde escura, vai sendo engolida pelos condomínios luxuosos que se erguem à sua volta.
 
Para as noites, a pedida são os restaurantes que enriquecem a culinária baiana e internacional. O Yemanjá, frequentado por moradores e turistas, é dos melhores. Tem outro lugar para comer moqueca assim? Tem não! O italianíssimo Alfredo di Roma dispensa comentários. A massa desce pedindo benção. Pizza? Experimentamos o Cheiro de Pizza, às margens da Lagoa do Dique do Tororó, onde ficam os Orixás esculpidos por Tati Moreno, artista plástico reverenciado pelos baianos. Comida japonesa? Gatai, dentro do Espaço Gourmet do Salvador Shopping, o mais novo e requintado mall da cidade.
 
Para encerrar com chave de ouro - reserva feita com antecedência -, o bacanérrimo Trapiche Adelaide, restaurante que serviu de palco para o mais lido romance de Jorge Amado, Capitães de Areia. Comer um foie gras com molho de jabuticaba, olhando para a Bahia de Todos os Santos, é um luxo que a pessoa deve se oferecer ao menos uma vez na vida.
 
Conhecer - ou melhor ainda, voltar a Salvador -, isso sim é um luxo que todo mundo tem o direito de se permitir!
 
Março 2008

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