V Vejo-me numa manhã de domingo dos anos 60, um rapaz bem trajado, penteado, nos “trinques”, como se dizia, à porta do Bar São Luiz, olhando as garotas desfilarem acompanhadas de amigas ou de parentes, no trajeto compreendido entre a Casa Bella, uma loja de modas da Praça Pedro Sanches, e o Rex Hotel, na mesma praça, e que até hoje existe. Eu nem poderia estar àquela hora ali, participando do “footing”, como era chamada a paquera entre os jovens em busca de uma namorada, uma vez que havia chegado de madrugada em casa. Tinha dançado todas. Estava sonolento e cansado de uma noitada na boate do Palace Casino, época em que a atração musical era comandada pelo “Frontera e seu Conjunto”.
Sentia-me um rapaz normal. Características da juventude! Naquele momento, com 18 anos de idade, já pensava em dar um rumo à minha vida de solteiro, cansado dos namoricos que a nada levavam. Lembrava-me, no entanto, da última namorada que tivera, coisa recente, uma parisiense recém chegada ao Brasil, cujo pai, Jean Manzon, fotógrafo da Paris-Match, e no Brasil, da revista O Cruzeiro, tornara-se um dos mais famosos fotógrafos e cineastas da época, produzindo semanalmente um documentário que era apresentado antes do filme principal, na maioria dos cinemas brasileiros.
Meu flerte com Louise - era o seu nome - chegou a abalar os meus sentidos. Mas não durou muito. Ela passou uma temporada em Poços de Caldas, e confesso, quando voltou para o Rio de Janeiro, e nos separamos, pela primeira vez na vida chorei de tristeza... Estive apaixonado!
Agora, volto a participar do “footing”. Quem será aquela que irá substituir a francesinha de corpo moreno e olhos esverdeados? Foi quando, olhando para a loja Cinelândia, na esquina da rua São Paulo, uma garota tão linda ou mais que Louise, acompanhada de sua mãe, caminhava elegantemente para onde eu estava. Era a Lurdinha.
Já a tinha visto anteriormente na casa de um casal amigo, os Villaça. Ela e a mãe passaram por mim, cumprimentaram-me, e prosseguiram até a esquina do Rex Hotel. Quando voltavam, e passaram novamente onde eu estava, criei coragem e apresentei-me, cordialmente. Seguimos caminhando, e conversando sobre aquele momento. Falei do sol que nos brindava com seu calor e seu brilho naquele domingo outonal. Senti-me um poeta! Um Romeu feliz, ao lado de Julieta.
No final da curta caminhada, ao chegarmos na esquina da Casa Bella, combinamos que às 16h passaria com o meu automóvel Chevrolet 1937 em sua casa, na rua XV de Novembro, para levá-las ao Jockey Club, na rua Junqueiras.
E isso realmente aconteceu. Dali em diante, o amor surgiu e se consolidou. Uma conquista que durou mais de 60 anos, interrompida pela inclemência de Deus que, sem dó e sem piedade, a levou para bem longe de mim...