08/02/2021 às 16h43min - Atualizada em 08/02/2021 às 16h43min
Memórias de um jornalista “globetrotter” - Parte 2
Por Odair Camillo - Jornalista
Como disse na crônica anterior, há pouco mais de quatro décadas o Jornal Brand-News iniciava suas viagens pelo Brasil e pelo mundo. No nosso país, o primeiro convite de uma empresa aérea para um famtour partiu da VASP, saindo de Belo Horizonte com destino a Florianópolis.
Nessa época, a capital catarinense já despontava com sua beleza como um dos mais importantes destinos turísticos brasileiros. Essa viagem foi completada com uma visita à pequenina Santo Amaro da Imperatriz, distante pouco mais de 30 km da capital catarinense, conhecida internacionalmente pelas suas águas que saem do fundo da terra a uma temperatura de 40 graus, consideradas, na época, como as segundas do mundo em qualidade, só perdendo para as de Vichy, na França.
Voltando no tempo...
Entrando com o pé direito
Embora não seja supersticioso, não sei por que nessa minha primeira oportunidade de viajar num Boeing, fiz questão de entrar com o pé direito, hábito este que conservo até hoje, mesmo quando entrei num A-380, o maior avião do mundo (quando viajamos de Dubai a Hong Kong).
Uma bela “aeromoça” me aguardava à porta do Boeing. Apresentei o tíquete da passagem com o número do assento, e ela indicou-me a fileira em que o mesmo se localizava. Após ajeitar minha pasta e outros objetos no bagageiro logo acima da minha poltrona, já assentado ao lado de Lurdinha e admirando o tamanho, a configuração dos assentos, e a grande tela de TV, uma outra comissária de bordo passou oferecendo algumas revistas e um jornal, optando por este que trazia em manchete a cirurgia que o presidente João Figueiredo iria se submeter nos Estados Unidos.
O fato de ter escolhido o Estadão não foi propriamente pela importância da cirurgia, mas eu queria saber quem, e quantos assessores iriam participar com o presidente de mais uma mordomia nos States.
À minha esquerda, um americano lia atentamente a revista Time. Do outro lado, minha esposa folheava a Manchete. Entre os dois, tentando abrir o jornal, senti dificuldade em manuseá-lo, permitindo-me ler unicamente a frente e o verso. No mesmo instante, ocorreu-me a ideia de sugerir ao colega Júlio de Mesquita, que reduzisse o tamanho do seu Estadão para o formato tabloide, como de alguns jornais que já circulavam em outros países.
Cruz credo, Ave Maria!
Logo em seguida, o comandante apresenta-se aos passageiros pelo alto-falante, dando as boas-vindas e as instruções de praxe, enquanto uma comissária vai fazendo as demonstrações práticas de como utilizar-se dos instrumentos de emergência. Uma senhora que está sentada logo à frente, aproveita para persignar-se: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”, proferindo as palavras bem baixinho.
“Cruz, credo, Ave Maria”, pensei comigo, lembrando neste instante de minha sogra, muito carola, quando se achava em perigo, ou mesmo assustada, apelava aos seus santos preferidos com estas palavras.
Em seguida, o comandante levou a aeronave até a cabeceira da pista, deu as últimas informações, pôs toda a potência do motor e começou a deslizar rapidamente pela pista, decolando minutos depois para atingir, finalmente, a altitude de cruzeiro.
Nada de causar pânico ou mesmo de assustar com a primeira e única turbulência que aconteceu durante o voo. Como se dizia antigamente, naquela manhã o céu estava “de brigadeiro”.
Uma hora depois da decolagem de BH, era servido pelas “aeromoças” um gostoso lanche, em pratos de louça branca, copos de vidro e talheres de aço inox, com opção de água, refrigerante, cerveja ou até mesmo uma taça de vinho. Atualmente, conforme a companhia, o lanche na Classe Econômica não passa de um sanduíche quente, snacks e um copo de Coca-Cola.
Tentando conhecer o Brasil
Ao contrário do que a maioria de meus leitores pensa, viajar pelo Brasil sempre foi muito mais difícil e oneroso do que visitar os 58 países - e alguns por várias vezes - que conheci nos cinco continentes, nestas mais de duas décadas de publicação do Brand-News.
Aquele ditado popular que diz que “Santo de casa não faz milagre”, aplica-se perfeitamente a meu caso.
Ter participado de feiras e eventos de turismo em vários países - levando e entregando não só os business cards como também exemplares do jornal, comunicando-me num idioma universal que é o inglês -, fez com que ficasse conhecido e parceiro do trade turístico e de dezenas de profissionais e integrantes dos Escritórios Oficiais de Turismo e de Conventions & Visitors Bureaux das principais capitais do mundo.
Ministério do Turismo e Embratur sempre foram cargos políticos
Com relação ao nosso país, desde o começo percebi o amadorismo na condução das políticas de Turismo. Tanto o Ministério do Turismo quanto a Embratur jamais tiveram no comando pessoas realmente engajadas nessa importante indústria, que até bem pouco tempo só era - e continua sendo - menos importante do que o petróleo.
Nesta hora em que escrevo este texto, a grande imprensa noticia que o atual Ministro do Turismo, ex-deputado federal, está se tornando réu por ter recebido propinas de grandes empresas e estar sendo indiciado no processo da Lava Jato.
Poços de Caldas também não foi exceção
A nível de cidades com potencialidade turística, como é o caso de Poços de Caldas, quase sempre as pessoas indicadas pelo prefeito para dirigirem a Secretaria do Turismo nunca tiveram muita afinidade com essa pasta, e alguns, nunca haviam viajado para fora do Brasil para conhecer o que nesses países havia sido feito, afim de atrair visitantes do mundo todo.
Lembro-me quando fui convidado a dirigir a Secretaria Municipal de Turismo, de 1994 a 1995, embora tivesse um potencial conhecimento do que acontecia no Brasil e no mundo em termos de turismo, pouco ou nada pude realizar, já que o prefeito, na época focado em obras estruturais e visivelmente eleitoreiras, deixou para segundo plano aquelas que seriam prioritárias para o desenvolvimento de nosso turismo.
Mais adiante, num capítulo à parte, dedicarei algumas páginas sobre minha curta passagem por essa pasta.
Minas Gerais e 25 Estados brasileiros estiveram no foco de meu trabalho
Centenas de páginas e outras tantas com fotografias foram nestas quatro décadas dedicadas ao turismo nacional.
Com relação a Poços de Caldas - uma das mais bonitas do Estado foi, como não poderia ter sido diferente, a mais focalizada desde quando comecei a editar o Brand-News.
No entanto, quando percebi a indiferença de seus administradores com relação à preservação e manutenção de seus pontos turísticos, priorizando a construção de casas populares e procurando atrair pequenas e grandes indústrias para a cidade, mudei o foco de minha atenção para outras cidades brasileiras nas quais o Turismo era visto como prioridade. Não só as capitais do país, de Norte a Sul de 25 Estados, tive a oportunidade de visitar, assim como a grande maioria de pequenas e médias cidades onde predominava seu apelo turístico para o seu pleno desenvolvimento.