10/12/2021 às 16h50min - Atualizada em 10/12/2021 às 16h50min
“Saravá, meu irmão!”
Por Odair Camillo - Jornalista
Não sei não, mas tenho um leve pressentimento de que há alguém fazendo mandinga para que eu não voltasse tão cedo às quadras de tênis do Country Clube para disputar os já escassos torneios que ali se realizem.
Já não bastasse haver sido alijado da COPA ITAÚ, na qual possivelmente teria sido um dos campeões - pelo menos na opinião dos entendidos -, quando num dos jogos preparatórios sofri uma violenta entorse do tornozelo, outros “acidentes” do trabalho sucederam-se.
No ano seguinte fui preterido pela Comissão Organizadora da II Copa - da qual era também um dos membros -, por não me achar presente ao ato de inscrição.
Em seguida, o affair motoca versus o Monza da dona Ofélia, com fratura do braço e ferimento em uma das pernas, cujo resultado foi um afastamento da prática desse esporte por quase quatro meses.
Agora, finalmente, neste último domingo, quando realizava uma boa partida, considerando-se o longo período em que fiquei no “estaleiro”, sou novamente vítima de nova distensão muscular.
Mas, o que mais me deixou chateado é que o meu retorno às quadras de tênis foi meticulosamente preparado. No dia anterior, a minha raqueta, que se encontrava abandonada no fundo de um guarda-roupa, foi devidamente limpa e exposta ao sol para tirar o bolor. Ajeitei o uniforme e até comprei um jogo de bola para estrear na minha reentrêe no esporte branco. Mas que decepção!
Concordo até que um acidente desse tipo possa ser considerado normal. Eu mesmo, quando tive a oportunidade de arbitrar um jogo de decisão no Campeonato Mineiro realizado na cidade de Uberlândia, fui obrigado a paralisar a partida por alguns instantes para que um dos jogadores se recuperasse de uma dolorosa cãibra numa das pernas. O chileno - era uma partida internacional - contorcia-se de dor, sem que pudesse ser atendido, caso contrário seria desclassificado, o que afinal acabou acontecendo.
No meu caso, acho que existe bruxaria visando este modesto jogador. Embora tenha imediatamente friccionado os músculos, e, logo em seguida ser massageado pelo treinador, não mais me foi possível retornar à quadra para terminar a partida. Tive que contentar-me em ser mais um espectador na manhã ensolarada de domingo.
Porém, de uma coisa estou certo. Se persistir essa maré de fatalidades, vou ter que arranjar um bom patrocinador para os meus futuros jogos ou, em último caso, colocar algumas partes de meu corpo no seguro, como o fazem os profissionais do esporte.
Além de tomar todas as precauções que envolvem um certo investimento financeiro, vou ter que apelar igualmente para as crendices populares. Ao entrar na quadra para jogar, primeiramente vou persignar-me como um bom cristão, não sem antes ter colocado um patuá, e ainda riscar na quadra o ponto. E aguardar os acontecimentos.
Se der tudo certo, então, ao final da partida, ao vencer ou não o adversário, poderei cumprimentá-lo e acrescentar: “Saravá, meu irmão!”.
Do livro “Crônicas em Concordata”, Maio de 1984