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08/01/2021 às 16h24min - Atualizada em 08/01/2021 às 16h24min

Lurdinha, em Frankfurt, falando em alemão?

Por Odair Camillo - Jornalista
Nestes 45 anos de Brand-News, visitando centenas de cidades pelo mundo, um dos momentos mais interessantes aconteceu na cidade alemã de Frankfurt, quando visitávamos mais uma vez a famosa Romerplatz, onde se concentram vários edifícios históricos, como a Prefeitura e a Fonte da Justiça.
Em dado momento, vimos sair de um dos prédios várias pessoas, bem vestidas, acompanhando um casal que acabava de se casar e se dirigia para a fonte, para celebrar o momento.
Lurdinha, muito atenta àquela cena, não se conteve e foi “conversar” com os noivos e familiares. E eu não acreditei no que vi, e escutei.
“Guten tag!” (Bom dia), disse ela para a noiva. “Du bist eine schone braut” (Você é uma bonita noiva). Apresentou-se com essas frases como jornalista brasileira, e misturando um pouco de português com alemão, comunicou-se plenamente. E ambas se entendiam. Em seguida, a curiosidade tomou conta também dos padrinhos, que vieram conhecer aquela “senhora simpática” que, a todo custo, procurava se comunicar com eles. E também, gentilmente, nos foi oferecido a participação de um brinde pelo evento.
Mas tudo isso tem uma explicação. Não me lembro de já ter escrito, mas realmente aconteceu. Quando ainda iniciava meu noivado com Lurdinha, naquela época, por falta de opção para frequentar uma faculdade, dediquei-me ao estudo de línguas.
Iniciei meus estudos de inglês com Miss Tamara, uma “princesa russa” - a qual seria descendente da família imperial que foi dizimada pela revolução russa, tornando-se a única sobrevivente. Muito se comentou sobre sua origem naquela época. Muito culta, falava seis idiomas. Inclusive, Miss Tamara foi motivo de uma reportagem na famosa revista O Cruzeiro, de circulação nacional.
Quando acabei meus estudos da língua inglesa, ainda com ela fiz um curso intensivo de francês. Acabei falando fluentemente estas duas línguas. Só não continuei com o alemão, porque ela faleceu algum tempo depois.
Mas, o mais interessante aconteceu em seguida. Sempre procurando me aprofundar no estudo de línguas, descobri que na rua Marechal Deodoro tinha um velho senhor alemão que morava numa casa de fundos, Sr. Schultz, que poderia me ensinar a sua língua. Depois de algumas aulas, vi que não daria certo. E foi quando descobri que uma jovem brasileira, de olhos azuis, filha de pais alemães, poderia me ensinar. E foi o que aconteceu. Três vezes por semana, aulas individuais, participava delas e, logo em seguida, dirigia-me à casa dos pais de Lurdinha, para noivar.
Dona Nenzinha, sua mãe, muito criteriosa e acima de tudo vigilante, sentava-se ao nosso lado e, como boa mineira e desconfiada, não dava trégua. Ao chegar em sua casa, o cafezinho já havia sido preparado, e o pão de ló, estava pronto.
Na procura de uma solução, resolvi compartilhar as aulas de alemão havidas com a professora, repassando-as totalmente à Lurdinha que, inteligentemente, assimilou tudo que eu aprendia, e passamos a conversar, em nosso namoro, quase tudo em alemão.
Uma noite, um pouco indignado com a situação, tive a coragem de dizer para minha sogra - e hoje, confesso, não me arrependo - a seguinte frase: Bitte, lass uns in Ruhe“ (Por favor, nos deixe a sós).
 
Por Odair Camillo - Jornalista
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