(Homenagem ao poema “O Fotógrafo”, de Manoel de Barros)
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto, eu gritava, gritava em cliques, meus dedos nervosos gritavam, mas ninguém me ouvia.
Eu estava saindo de uma igreja.
Eram quase duas da manhã.
Ia o silêncio pela rua, mas as almas, gritavam.
Preparei minha oração.
O silêncio era uma oração que estava acordando o bêbado.
Fotografei seus impropérios.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei o café.
Tinha um perfume de morte e renascimento no café.
Fotografei esse renascer.
Vi uma borboleta virando lagarta.
Fotografei a crisálida.
Vi ainda um beija-flor que não gostava de beijar.
Fotografei seu desinteresse.
Olhei uma paisagem antiga como se fosse nova.
Fotografei a minha resistência.
Por fim enxerguei a luz do sol que representou pra mim que era hora de me recolher.
Fotografei o meu contentamento com o mundo.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma madrugada assim.
A foto saiu tremida, mas cheia de paz.
Colei a polaroid da minha vida no muro de uma escola de crianças que sorriam
e dormi…
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