18/09/2024 às 15h09min - Atualizada em 18/09/2024 às 15h09min
Rock in Rio do sofá
Adriano Mussolin - Jornalista
E-mail: [email protected]
No começo da noite da última sexta, sentei com minha mulher, Adriana, no sofá de casa e liguei a TV. Zapeando, vi que estava passando o show de abertura do Rock in Rio: Ludmilla. Assisti uns minutos da apresentação e já comecei a falar para minha esposa, como se eu fosse algum expert:
- Essa moça não tem voz. Não canta nada.
- Vixe, que músicas ruins. Melodia zero.
- Tá ouvindo a letra? Não é possível...
Adriana ouviu e concordou meio desatenta, já que o celular que ela portava estava mais interessante do que o show da TV.
Decidi mudar e ver em outro canal a transmissão de outro palco, do mesmo festival. Conseguiu ser pior do que o primeiro. Dois dançarinos toscos acompanhavam uma cantora de funk pior que a Ludmilla, declamando um palavrão atrás do outro, em um cenário que representava os barracos de uma favela. Cabe aqui ressaltar que não tenho nada contra a cultura dos barracos que tanta gente boa revelou em nossa música.
Voltei à carga:
- Olha que lixo. Isso não é música nem aqui nem na China.
- Onde estão os verdadeiros artistas do nosso país?
- Quem paga mais de 500 reais para assistir essa porcaria?
Adriana repousou o celular no peito e disse:
- Muda de canal!!! Por que você tá vendo isso se é tão ruim? Só muda e para de reclamar.
Ela estava coberta de razão, né?
Só que eu gosto de ver o que rola pelo meu país afora, inclusive em termos musicais. Assistir um pouco do que os jovens ouvem, um sertanejo aqui, um funk ali, uma coreografia disso e um stand-up de comédia dali... Só para ter elementos para poder discutir e criticar. Entender a força que os influencers têm nos youtubes e instagrams da vida. Posso até gostar, como nem sempre acontece.
Existe gente de talento em todas essas áreas, mas muito do que se consome é de deixar a gente triste. Não consigo perceber algo de positivo nesses MCs, nessas cantoras sem voz e canções sem sentido. De alguma forma, elas refletem o que vem acontecendo em nossa sociedade e na cultura dos jovens do Brasil.
O Rock in Rio está completando 40 anos e está dando um show de estrutura, com vários palcos, iluminação de primeira, som potente e claro. O público tem bons banheiros, opções (caras!) de alimentação e bebidas, áreas de descanso e lazer, lojas e diversão. Bem diferente do primeiro evento, em 1985, em que tive o privilégio de comparecer com os parceiros Paulo Durante e Fábio Sólia, sem contar as dezenas de amigos que lá encontramos, entre as centenas de milhares que diariamente compareciam ao evento.
Assistimos a uns dos melhores e mais marcantes shows da história do Festival, Queen, Yes, James Taylor, Paralamas, Ney Matogrosso, Rod Stewart e muito mais. Tudo em meio a um lamaçal descomunal, fruto da chuva constante e do piso de terra que virou um brejo imenso. Mesmo assim, havia um cheiro forte e intenso de mato queimado, estranho... A estrutura era muito precária, tanto de acesso, estacionamento, alimentação etc.. Nada disso tirou a energia contagiante do público.
Não esqueço as pessoas na fila para pegar cerveja, principalmente os cariocas, cantando os refrões das escolas de samba do Carnaval do Rio que estava chegando (essa edição do festival foi em janeiro). Acabava um aqui, começava outro ali. Tudo num clima de muita harmonia e alegria.
No fim, o público acaba se divertindo e trazendo lembranças desses festivais. E é isso que a gente leva desses eventos. E por que não, da vida.
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