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06/09/2024 às 14h43min - Atualizada em 06/09/2024 às 14h43min

De Eva a Ana Wintour

Beatriz Aquino - Atriz e escritora
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Desde os primórdios, quando Eva desceu flamejante da boca de Deus, sim porque convenhamos, essa história de costela é conversa pra boi ou pra homem dormir, não é mesmo?
Desde os primórdios, quando inventaram a ideia de pecado, os “primeiros” seres desse planeta, que por muito se amarem e por muito buscarem, foram expulsos do suposto paraíso, tiveram que cobrir suas partes. E então nasceu também o que hoje entendemos por criatividade. E a vestimenta humana, que partiu de uma simples folhinha de figueira, começou sua impressionante trajetória. Das peles rudes dos neandertais à opulência dourada das civilizações egípcias, de simples acessórios para se proteger das intempéries do tempo às criações milionárias de Fabergé, a moda foi seguindo seu curso, acompanhando, ilustrando e vestindo a História do Mundo.
 
Dos saltos, perucas e pancakes de Luís XV aos brioches de Maria Antonieta, das vestimentas dos gladiadores aos uniformes espaciais, a roupa, ou melhor, a moda, marcou sua importância ao traduzir o comportamento de uma época. Pois se a ciência tenta recontar às civilizações através do estudo das células e dos céus, a moda e a arte, com suas cores e texturas, fornecem polaroides atualíssimas desses contextos. São elas que traçam a árvore genealógica do desejo de expressão do humano e de como ele tem se posicionado no mundo.
 
E desde então sabemos que tudo tem sido uma repetição do mesmo. O que nada ofusca a beleza do que vê hoje em dia, pois recontar a história é também criar ela própria, fazê-la renascer aos olhos do mundo. Mas é inegável que tanto a moda quanto a arte são exercícios de releitura de sentimentos antigos, pois que há ainda muito a ser revelado, mesmo que não seja de todo novo.
 
Até os dias de hoje foram muitas as revoluções. As francesas com suas guilhotinas, as oitocentescas com suas indústrias, as oitentistas com suas ombreiras. Das supermodelos dos anos noventa aos corpos reais de hoje, com cicatrizes, história e peso, porque por Deus a vida caminha e a moda e a arte também, o vestir é uma ferramenta poderosa de existir, de bancar o que se é, subir no palanque da vida, fazer o seu statement.
 
Cheias de personalidade, porém maleáveis, a arte e a moda vêm se adaptando aos tempos de hoje e de sempre. Não mais a exigência de corpos esquálidos, de espartilhos e vestimentas desconfortáveis. Os padrões, também guilhotinados, agora diluem-se. A expressão volta aos braços do povo, esse sim o grande fornecedor de beleza e cultura. No teatro, a era da autoficções, no cinema o realismo, o regionalismo, na dança a contemporaneidade do sentir de hoje. Nos outdoors (ainda existem?), rostos vizinhos, próximos, mais empáticos, que já não trazem mais tanta ansiedade, a ideia de pódio. Não há mais um lugar para se alcançar além daquele em nós mesmos. Somos nós os protagonistas do que vivemos e do que vestimos. E isso é memorável.
 
São tempos outros. E ainda bem. O corpo a ser alcançado é aquele que carregamos, a arte a ser consumida pode vir da nossa própria subjetividade, a voz a ser ouvida é a nossa. Clara, confusa, maravilhosa e caótica. Ou seja, nós somos o que há de melhor por esses lados chamado Planeta Terra. Porque o diabo pode até vestir Prada. Mas nós, podemos vestir a nossa própria pele. E isso é muito mais poderoso. E divertido.
 


 

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