Sob a chuva que teimava em cair, uma parada no Café Paris. Ao lado, a pequena igreja de São Martinho
C Imagine uma cidade meio medieval, meio turística, ensolarada e fresca a maior parte do ano, aos pés de belas montanhas, com vegetação luxuriante, palácios, castelos, conventos e fortificações incrustadas ao longo dos estreitos caminhos.
Como surgiu Sintra (assim mesmo, com “S”), em nossa agenda de viajantes? Da minha paixão por castelos, com suas histórias e lendas, seria uma resposta objetiva para uma jornalista. Seria? E chegar de trem na pequena e graciosa estação, combinava com tudo. “Ornava”, com dizem algumas amigas bricalhonas...
Acho que eu e o Odair já atravessamos uma boa parte do mundo a bordo dos mais diferentes trens. Dos bons e sofisticados, aos ruins e quase caindo aos pedaços. Experiência? Claro, dizemos nós. Falta de grana? Deve falar quem não se aventura!
O centinho e suas lojas curiosas, como a Casa das Queijadas, com deliciosos doces à base de queijos, aqui e ali; o artesanato do Ilha da Madeira e as ricas toalhas bordadas à mão; as famosas louças azuis de Sintra; tricôs coloridos e artesanais; vinhos e geleias com seus potes pintados com cenários do lugar, sem aqueles produtos que a gente encontra com facilidade na internet.
Sei, sei que pode parecer fora de época viajar de trem, visitar castelos, comprar toalhas bordadas, mas há todo um encanto nisso tudo. Mas, de repente embarco num moderno 777 da American Airlines, pouso no Aeroporto John F. Kennedy, e me acabo na 5ª Avenida. E aí?
Lá em cima, falei em sol? Pois é! A chuva fina e fria parecida fazer parte do cenário. Tempo para tirar umas fotos com clima “Em algum lugar do passado...”. Na hora, escolhemos o Café Paris para o almoço. Endereço para ficar na memória. Dentro, clima de realeza, paredes pintadas com cenários de bosques, em tons delicados, poltronas em veludo vermelho, castiçais e toalhas de linho. O vinho escolhido pelo atencioso maître, foi perfeito. Até 1945, o lugar era conhecido com o pomposo nome de Pérola de Sintra, e só a partir desta data ganhou definitivamente o nome de Café Paris. Foi palco de suntuosos jantares de republicanos do Conselho de Sintra.
PALÁCIO REAL - Bem, hora de subir a estradinha íngreme e sinuosa para conhecer o Palácio da Pena. Expoente máximo da arquitetura portuguesa do Romantismo do século 19, constitui o mais importante polo da paisagem cultural de Sintra. No topo, o ambiente natural de rara beleza e importância científica. A neblina densa tornava causa e efeito numa coisa só. Passamos pela Ponte Levadiça e, por um momento, imaginei cavalheiros da época com suas armaduras, e damas da Corte com suas vestimentas ricamente bordadas, sapatinhos de seda e sombrinhas de renda. Nada confortáveis, é verdade. Dentro, corredores intermináveis intercalam salas luxuosas abarrotadas de pratarias, porcelanas, telas e ourivesarias. Um folheto explicava a razão do excesso de objetos: a realeza ali reinante tinha verdadeiro horror a espaços vazios e lotava tudo com centenas de obras de arte. Uma boa psicóloga, na época, ficaria riquíssima escutando os probleminhas de D. Amélia e D. Carlos I, último casal a reinar no Palácio, por volta de 1889 a 1908. Última ala a ser vista: a cozinha real, com utensílios usados na época para preparação de grandes banquetes. Tudo impecavelmente limpo. Uma espiada rápida, estava de bom tamanho. De cozinhas... nem a de castelos!