29/03/2021 às 16h42min - Atualizada em 29/03/2021 às 16h42min
A BRONCA DO CRIPA - 29/03
Figura meramente ilustrativa - Reprodução Google/ Agência Brasil .
O ABUSADOR MORA EM CASA
Em setembro passado, nesta mesma coluna registramos os dados do primeiro semestre de 2020 em relação à violência contra crianças e mulheres em Poços de Caldas. Números que alarmaram parcela significativa da sociedade e indicavam que, entre 60 e 70% das ocorrências aconteciam na residência das vítimas e eram praticadas por pessoas próximas, muitas vezes da própria família. Semana passada, a filha do empresário Paulo Molinari, uma jovem na faixa dos 25 anos, denunciou que o pai a abusava sexualmente desde os oito anos de idade, inclusive em um período de gravidez. O caso foi levado à Delegacia da Mulher e o empresário está preso em Botelhos, cidade próxima a Poços. A denúncia ganhou repercussão nacional no programa Repórter Record Investigação, apresentado pelo jornalista Roberto Cabrini, e mostrou gravação dos abusos cometidos pelo pai. A jovem diz que achava impossível que Paulo Molinari fosse preso por abusar dela, até conseguir gravar a agressão. “Agora é hora de ele pagar”, disse. A investigação corre em segredo de justiça e acredita-se que outras vítimas, que se apresentaram depois da divulgação da reportagem, sejam ouvidas ainda nesta semana.
MAIS COMUM DO QUE SE PENSA
Em 2020, os dados consolidados pelo Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), órgão vinculado à prefeitura do município, indicam que, no primeiro semestre, 243 mulheres foram atendidas e sofreram violências das mais diversas formas em Poços de Caldas entre janeiro e junho: pouco mais de 40 delas a cada mês; mais de uma por dia. A percepção das assistentes sociais do Creas, na ocasião, indicava que, pelo fato de ficarem em quarentena com seus próprios agressores, muitas das vítimas não tiveram como notificar qualquer um dos órgãos de acolhida e que o número pode ser ainda maior. A filha de Paulo Molinari rompeu o medo depois de quase duas décadas e conseguiu levar os abusos sexuais à Delegacia da Mulher. Dentro de 30 dias, aproximadamente, o inquérito será enviado ao judiciário para ser apreciado e julgado.
VERGONHA ALHEIA
Triste é o país onde crimes contra as mulheres são tão comuns; triste também o cidadão ter de defender com afinco e constantemente o SUS (Sistema Único de Saúde) e ainda festejar o fato de receber a vacina contra a Covid-19, que é, a bem da verdade, um direito dele e obrigação do Estado. E triste para Poços de Caldas quando a prefeitura consulta o Ministério Público (MP) para saber se é possível deixar de atender pacientes de outros municípios nos hospitais locais, negando, por princípio, a universalidade do SUS. Porém, feliz pela resistência de grupos que atuam em movimentos contra qualquer tipo de violência, pela população que, em sua maioria, combate a inoperância do governo federal, e pela resiliência do MP que não permitiu deixar sem assistência a população da microrregião de Poços.
ESPERANÇA
Muito embora duas possíveis vacinas brasileiras tenham sido anunciadas nos últimos dias, o caminho ainda é longo e tortuoso até a aplicação dos novos imunizantes. Pela própria dinâmica da pesquisa até a aprovação final, elas só deverão chegar ao mercado, numa visão bem positiva, no final deste ano. Isso se o governo federal não atrapalhar, como tem feito desde a proliferação do vírus em território nacional. O descaso no combate à Covid-19 contribuiu diretamente para o país atingir a marca de quase 313 mil mortos, treze milhões de infectados e causou colapso na rede pública hospitalar. Faltam oxigênio, medicamentos e humanidade no trato da crise sanitária no Brasil por parte do presidente da república.
A CULPA, SEGURAMENTE, NÃO É DO POVO
Até recentemente encontrávamos setores do comércio afirmando não eram eles os culpados pela proliferação do vírus. Agora, eles não só não têm culpa, como também não dispõem de leitos hospitalares para seus familiares, funcionários e todos os novos pacientes da Covid e outras comorbidades. A doença que não escolhe sexo, etnia, religião, idade ou classe social igualou a todos por baixo: fechou as portas dos atendimentos, colapsou o sistema de saúde e agravou a crise sanitária. Por responsabilidade do governo federal, negacionista por excelência, o Brasil é visto com muita restrição pela comunidade internacional. A crise que era apenas sanitária transformou também em crise política por conta de um presidente fraco, assessorado igualmente por ministros diminutos.
ABSOLVIÇÃO PEDAGÓGICA
A absolvição do ex-presidente Lula tem recebido, pelo menos duas interpretações pedagógicas. A primeira, ligada diretamente ao mundo jurídico e trata-se da imparcialidade do julgador. A segunda, política interpreta que a entrada do ex-presidente na disputa de 2022 foi um choque de realidade ao presidente Bolsonaro. Desde o discurso de Lula, dia 10 deste mês, Bolsonaro mudou atitudes pessoas em relação ao coronavírus, como o uso de máscaras, e trocou dois ministros: da Saúde, Eduardo Pazzuelo, e hoje o das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Faltam muitos outros ainda. A percepção é de que o governo está acuado não só por seus opositores, mas também por parcela de seus apoiadores no Congresso Nacional. A saída do agora ex-ministro das Relações Exteriores é um exemplo claro dessa pressão.
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