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05/10/2022 às 16h20min - Atualizada em 05/10/2022 às 16h20min

Cenas bizarras do mundo real

Parte 1

Adriano Mussolin – Jornalista
E-mail: [email protected]
Foto: Reprodução Google
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Passados poucos minutos das 6h30 de hoje, saí de casa para subir o Cristo. Quando passei pelas bicas de água do final da Assis, um Jeep Renegade me chamou a atenção. Era o único carro naquele local que sempre tem vários veículos parados. Tinha a tampa do porta-malas aberta e diversos fardos de água mineral dentro. Um senhor oriental estava próximo e não trazia nenhum galão para encher com a água das bicas. Até aí, tudo bem, poderia estar enchendo ou já em algum banco. Continuei meu caminho.

Assim que passei pela segunda bica, já na subida, avistei o Profeta, com seus cabelos e barba longas, túnica comprida, cajado e um terço na mão, subindo vagarosamente. Quando estava próximo a ele, uns 20 metros, o Jeep Renegade passou lentamente por mim, ainda com a tampa do porta-malas aberta. Era aquela primeira subida íngreme, o carro automático reduziu a marcha e deu aquela arrancada para continuar. Um dos fardos de água caiu ao chão, bem à minha frente. Imediatamente, abaixei e o peguei, intacto. O veículo continuou a subir e passei a gritar para o motorista: “Ô moço, caiu sua água”. Fiz gestos, gritei de novo e mais algumas vezes. Ele ameaçou parar, mas seguiu. Me deixou lá com o fardo de 12 garrafinhas plásticas de 500ml de água na mão. Seis quilos!
 
Nisso, o Profeta falou: “Essa água caiu daquele carro?” Eu confirmei e ele disse “pelo menos, você pode levar para casa, já que ele não parou”. Eu disse que tentaria localizar o dono lá em cima, se não achasse, eu doaria para ele, que costuma arrecadar alimentos para famílias carentes em supermercados da cidade.
 
E continuei a subir, com o fardo nos ombros. Já na entrada da Pedra Balão, avistei o Jeep estacionado. Fui me aproximando e vi o motorista olhando um mapa de papel, “como faziam os incas”, ele abriu a porta e desceu. Disse a ele que aquele fardo havia caído e que a tampa do porta-malas estava aberta. Levei o fardo para trás do carro e coloquei no bagageiro. O motorista olhava para mim e não falava nada. Então disse um “thank you”.
 
Aí percebi que ele não falava português, saquei meu inglês macarrônico e começamos a conversar. Ele não tinha percebido que a tampa estava aberta e que a água tinha caído. Agradeceu muito e disse que estava adorando a cidade. Disse que tinha ido mais cedo para a rampa para ver o sol nascer, mas estava com muita neblina e estava esperando alguém abrir a porteira da Pedra Balão para ele conhecer.
 
Ele estava encantado com a quantidade de água que existe em Poços. Disse que várias cidades do mundo estão secas, não têm mais água, e que aqui as pessoas podem pegar água livremente e levar para casa. Ele estava achando incrível isso. Eu agradeci os elogios à nossa cidade e disse que ele era bem-vindo. Ele disse que as pessoas aqui têm muita sorte de ter tanta abundância de água e paisagens tão bonitas. Perguntei de onde ele era, resposta: US.

Me despedi e deixei o simpático americano oriental aguardando a hora de ver a Pedra Balão.

Pena que não pude doar a água para o Profeta. Na próxima vez que o encontrar em algum supermercado, farei a doação.




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