04/03/2021 às 15h04min - Atualizada em 04/03/2021 às 15h04min
Viajando pelo mundo com o Skal Club
Por Odair Camillo - Jornalista
Em 1992, durante um almoço de confraternização do Skal Clube Sul de Minas acontecido em Varginha, fui convidado a integrar essa associação de profissionais de turismo que tem ramificações em mais de 20 capitais brasileiras, e em 90 países dos cinco continentes.
O Skal Club Internacional foi fundado na França em 1932, visando promover o turismo, através do relacionamento e a amizade entre hoteleiros, agentes de viagem, transportadores aéreos, terrestres e marítimos, jornalistas especializados, entre outras pessoas ligadas ao turismo.
Pouco mais de um ano participando da entidade, eu assumia a presidência do clube, trazendo sua sede para Poços de Caldas e ampliando a participação de novos associados ligados ao turismo de nossa cidade e região.
Com o trabalho de divulgação turística que já vinha desenvolvendo no Brand-News há vários anos e graças ao contato que tinha com os Conventions & Visitors Bureaux de inúmeros países, passei a fazer parte da diretoria do Associação Nacional de Skal Clubs do Brasil, com sede no Rio de Janeiro e, com eles, tendo a oportunidade de viajar não só pelo Brasil, como também por vários países do mundo.
A primeira viagem foi a Seul, na Coreia, no MD-11 - McDonnell Douglas, da VASP
Meu primeiro voo ao continente asiático aconteceu quando a Vasp inaugurou sua rota ligando São Paulo a Seul, na Coreia, com a gigantesca aeronave MD-11, fazendo escala em Los Angeles.
Wagner Canhedo, presidente da empresa, havia convidado a diretoria e membros do Conselho Deliberativo do Skal Nacional para realizarem seu congresso naquela bonita capital coreana. Fui o único jornalista convidado, já que também era presidente do clube do Sul de Minas. E foi durante o esse congresso internacional que fui nomeado Relações Públicas, com a incumbência de criar um jornal, o SKAL PRESS - BRASIL, de circulação nacional e internacional, para divulgar todos os acontecimentos relacionados à associação não só no Brasil como em vários países do mundo.
Carne de cachorro faz parte da gastronomia sul-coreana
Folheando uma revista de circulação nacional de alguns anos atrás, li uma reportagem sobre o consumo de carne de cachorro pelos sul-coreanos. Segundo o autor, “cerca de dois milhões de cachorros são sacrificados para consumo humano todos os anos na Coreia do Sul. Uma crença nesse país dá conta de que existem dois tipos de cachorros. Um seria voltado para a produção de carne. Outro seria o de animais de estimação, os pets, formado pelas raças conhecidas: labradores, poodles e chihuahuas. As fazendas de cachorros que existem na Coreia do Sul são abastecidas com muitos animais de raças conhecidas. Todos acabam nos pratos dos coreanos, que não fazem distinção desse tipo de carne. A boa notícia é que, segundo uma pesquisa de opinião feita em 2014, o hábito de comer carne de cachorro está em declínio, e que metade dos coreanos nunca a experimentou”.
A inserção deste texto sobre a carne de cachorro é para informar que, durante a viagem que fiz à Seul, em junho de 1997, pareceu-me verdadeira a hipótese de que eu tenha comido - e gostado - da carne de cachorro. Explico!
Cerca de 20 jornalistas brasileiros, das principais mídias do país, inclusive o Brand-News, foram convidados a conhecer a capital sul-coreana.
No dia seguinte, já restabelecidos da longa viagem, participamos de um almoço típico num dos restaurantes mais famosos da cidade. Lembro-me que ele ficava no alto de uma pequena colina, de onde se avistava o moderno centro econômico e financeiro de Seul. Quando lá chegamos, a “mesa”, quase rente ao chão, já estava posta. Dessa forma, tínhamos que nos assentar sobre uma almofada e enfiar as pernas sob ela.
Os primeiros minutos foram normais, mas depois de algum tempo, sem que pudéssemos encostar nossas costas, aquela posição ficou insuportável. Olhamos um para o outro e ao mesmo tempo decidimos pedir ao nosso guia a possibilidade de passarmos para uma mesa normal. E foi o que aconteceu.
Numa sala anexa havia uma mesa na altura que estamos acostumados, só que sobre o tampo, a cada 80 cm de distância havia um buraco de aproximadamente 35 cm de circunferência. Esse buraco chamou a atenção e a curiosidade dos jornalistas. Para que serviria?
A resposta veio logo em seguida, quando os garçons começaram a colocar dentro deles um cone cheio de carvão em brasa que se encaixava perfeitamente no buraco da mesa. Outro garçom colocou sobre eles uma grelha de forma convexa, certamente onde seria colocada uma carne para grelhar. E foi o que aconteceu. Em poucos minutos, a carne, cortada em tiras, era assada naquela grelha e uma fumaça gostosa desprendia dela, aguçando nossa vontade de digeri-la. Outros pratos também foram servidos, como o kimchi, uma mistura de repolho, acelgas e nabos, além de, naturalmente, o nosso conhecido arroz.
Depois de uma hora, retornávamos ao hotel para um merecido descanso quando, reunidos ao redor do guia, indagamos que tipo de carne havia sido servido no restaurante, tão saborosa e macia - e se, de certa forma, nós voltaríamos lá para saboreá-la mais uma vez. E ele, calmamente respondeu: “Vocês comeram carne de cachorro, uma das especiarias de nosso país! Vocês querem voltar lá, amanhã?”
No mesmo instante, o grupo se dispersou. Uns se dirigindo apressadamente para seus quartos. Outros procurando saber onde ficava o banheiro. Para mim, nada aconteceu. Também, pudera. Eu já havia experimentado pratos típicos tailandeses em ótimos restaurantes de Bangcoc, onde alguns “bichinhos” do mar e da terra são servidos e apreciados, considerados de alto valor nutritivo!
NOTA - Comer carne de cachorro não é tabu nas duas Coreias e em várias regiões da China. Segundo informações apuradas pelo jornalista, no verão ela é valorizada por “combater o calor” e dar mais energia; no inverno, por aumentar a temperatura corporal.
Em junho de 2018, um tribunal da Coreia do Sul concluiu que matar cachorros para obter sua carne é ilegal, em uma decisão que representou um primeiro passo para a proibição do consumo em todo o país.