16/07/2021 às 14h16min - Atualizada em 16/07/2021 às 14h16min
Viajando de comboio pelas cidades portuguesas: a beleza de Estoril e Cascais
Por Odair Camillo - Jornalista
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Já tive a oportunidade de escrever sobre a minha atração pelas viagens de trem. Cruzei várias vezes a Europa em quase todas as direções a bordo de trens e de comboios especiais, como o TGV, de grande velocidade, e de outros, nem tão confortáveis e velozes.
Talvez essa minha preferência pelo “caminho de ferro” se deva à minha origem. Filho de ferroviário e de ferreiro nas horas vagas, nasci na mais importante e poética Vila inglesa do século passado, construída pelos ingleses no Brasil, quando da implantação da SPR - São Paulo Railway, no alto da Serra do Mar, conhecida como Paranapiacaba.
A Vila foi construída para abrigar os funcionários e engenheiros ingleses incumbidos de ligar, por via férrea, o planalto paulista à cidade portuária de Santos, transportando as riquezas produzidas no estado e no país, principalmente café, exportando-os para o mundo inteiro. A vila existe até hoje e pertence à cidade de Santo André, sendo atualmente uma atração turística na região do Grande ABCD.
Na última vez que estive em Lisboa, observei que a belíssima Estação do Rossio estava em funcionamento, depois de haver passado por uma grande restauração. E novamente a atração pelo trem foi bem maior. Depois de tomar conhecimento do trabalho que ali foi feito, de admirar suas obras de arte, de tirar algumas fotos de seu interior e de ver na plataforma de embarque o moderníssimo comboio aguardando o exato momento para partir em direção a Sintra, numa viagem de pouco menos de uma hora, resolvi seguir a minha impetuosidade e o desejo de viajar de trem. Fui até a bilheteria e logo estava com os cartões magnéticos na mão, embarcando num dos vários vagões que compõem o comboio - e tão feliz como uma criança que acabava de ganhar um sonhado brinquedo.
Na hora prevista, chegávamos, Lurdinha e eu, à pequena e charmosa estação ferroviária de Sintra. No balcão de informações apanhei um mapa turístico e fiquei sabendo que, para se visitar as suas atrações, com seus castelos, fontes, museus e o famoso Palácio da Pena, o ideal seria pegar um ônibus que partia a cada dez minutos de um ponto nas imediações. Ao sairmos da estação, havia um deles estacionado, aguardando os passageiros que chegavam de trem.
Conhecendo alguns palácios de Sintra
Um pouco afastado do centro histórico está o Palácio de Seteais, um edifício neoclássico, cor-de-rosa, que foi mandado construir por Daniel Gildemeester, cônsul da Holanda em Portugal, no final do século 18. O Palácio se encontra rodeado por um magnífico jardim de acesso público, conhecido como o Jardim de Seteais, e o palácio foi transformado em hotel de luxo da Rede Tivoli de Hotéis.
Mais adiante, chegamos ao Palácio de Monserrate, que é dividido em diferentes espaços, destacando-se um corpo central e duas alas unidas através de átrios e uma belíssima galeria. O que me chamou a atenção nesse palácio foi o Átrio Principal, onde está a fonte de alabastro, estátua e cúpula, e a Sala Indiana, com mobiliário de diversas origens, sobressaindo-se o estilo indiano.
Mas o que mais me impressionou no pequeno tour foi o Palácio de Pena, o mais notável exemplar da arquitetura portuguesa do Romantismo, situado num dos cumes da Serra de Sintra.
Mandado construir por D. Fernando II no ano de 1840, sobre as ruínas do antigo Mosteiro de Nossa Senhora da Pena, do século 16, ele representa uma mistura de estilos exóticos e medievais.
A zona do convento foi pintada de vermelho e a parte nova de amarelo, e todo o conjunto destinou-se à residência de verão da Família Real, sendo o último palácio a ser construído na dinastia de Bragança.
A beleza de Estoril e Cascais
Agora estou com Lurdinha no Cais do Sodré, de onde partem os comboios em direção a Estoril e Cascais. Essa região é uma das mais vibrantes, atraentes e frequentadas de Lisboa. Ela sempre teve papel de destaque na história da velha capital portuguesa. Foi uma importante zona de construção de navios, assim como recebia os marinheiros que desembarcavam na cidade. Lojas de artigos de pesca, bares e prostíbulos faziam parte da área, que acabou se tornando cada vez mais degradada.
Mas as coisas mudaram. Os bares mantiveram as fachadas, mas foi incrementando o visual; outros se reinventaram completamente, como o Mercado da Ribeira. E o bairro voltou a ficar na moda, aproveitando a boa localização, porque o metrô fica muito perto, e a oferta de ônibus e eléctricos na região, que é grande. O Cais do Sodré passou a ser a continuação do burburinho noturno de Lisboa. Com mesinhas na rua, o agito começa nas primeiras horas da tarde e não tem hora para terminar.
A viagem de trem é fascinante
É uma pena que a viagem de trem entre o Cais do Sodré e essas duas cidades seja tão curta. Saindo de Lisboa, a viagem é atraente. O trem vai margeando o rio Tejo e, depois o, Atlântico, revelando as belíssimas praias e paisagens da Costa do Estoril.
Tanto Estoril como Cascais tornaram-se um dos locais mais cosmopolitas e turísticos de Portugal, a partir do momento em que o rei D. Luís I escolheu a baía para sua residência de verão, no final do século 19.
Com um clima ameno e gostoso, e uma média de 260 dias sem chuva por ano, elas atraíram as famílias mais abastadas da época a seguirem a Casa Real e aí terem as suas residências e palacetes.
Estoril faz parte do “concelho” de Cascais e é um local bem charmoso, frequentado pela alta sociedade. Na frente do Casino Estoril há uma área bem grande, verde e arborizada, onde as pessoas costumam caminhar e relaxar. Durante a noite, o cassino fica todo iluminado e é bem comum vermos, ao seu redor, Ferraris, Porsches e BMWs. Os táxis são quase todos da famosa montadora Mercedes Benz.
Localizada a oeste de Lisboa, fica a outrora adormecida vila de pescadores de Cascais, que se tornou o local de verão pelas suas excelentes baías arenosas e sua incrível marina.
Quando saímos da estação de Cascais, logo chegamos ao Largo de Camões, onde há várias opções de restaurantes e lojinhas de artesanato local.
Caminhando por ruazinhas estreitas, chegamos ao Largo 5 de Outubro, de onde se pode apreciar o antigo Palácio dos Condes da Guarda. Dali, é possível seguir pela costa e acompanhar a Praia da Ribeira até a Cidadela, construída no século 16 e que hoje abriga a Pousada de Cascais, que foi instalada sob a gestão do grupo Pestana de Hotéis.
Com toda a área externa preservada, o local é uma belíssima experiência tanto para quem se interessa por história quanto por quem gosta de arte. Na área da Cidadela, almoçamos no restaurante Maris Stella, apreciando toda a marina de Cascais. Embora esse passeio possa ser feito num mesmo dia, recomendo que se faça pelo menos por mais uma noite, quando se terá a oportunidade de conhecer o Casino Estoril, inaugurado em agosto de 1931.
Durante a Segunda Guerra mundial foi ocupado por espiões, monarcas destronados e aventureiros de guerra. Na década de 1960, ele foi ampliado, tornando-se o maior cassino da Europa.