E enquanto isso…
Beatriz Aquino - Atriz e escritora
24/01/2025 13h40 - Atualizado há 1 semana
Figura meramente ilustrativa - Reprodução Google
E o planeta Terra continua estarrecendo os corações sensíveis. Como se não bastasse a febre hipnótica do reality show que acomete o Brasil há mais de 20 anos, agora temos mais uma vez o monstro laranja eleito nos Estados Unidos. Junta-se isso ao colapso ambiental do planeta com neve nas praias da Florida, enchentes nas grandes cidades e devastação e seca da Floresta Amazônica, temos um verdadeiro cenário apocalíptico.
É isso mesmo. Esqueçam as profecias com suas previsões e coordenadas. O inferno é agora. O final é agora. E o tal Messias, para o bem ou para o mal, não veio.
É impressionante perceber como valores, leis e regras estão sendo esquecidos à toque de caixa. O mundo inteiro entrou numa acelaração imbecilóide onde para ter ou manter os minutos de fama e lugar de poder vale tudo. Lembro que até bem pouco tempo qualquer menção ao nazismo era automaticamente passível de processo e até mesmo de prisão. Hoje, qualquer imbecil pode se reunir com outro bando de imbecis e reproduzir livremente a saudação disseminada pelo homem do bigodinho. Agora os braços se levantam sem nenhuma timidez ou pudor. O gesto é largo, imperativo. Eles não têm medo de nada.
O grande calhorda que não possui nenhuma virtude além de ser milionário e enviar símbolos fálicos para o espaço fez isso na posse do monstro alaranjado, que do seu lado, determinou que a partir daquela data existiria apenas dois gêneros; o feminino e o masculino. Todas as outras subjetividades, sensibilidades e possibilidades de existência serão descartados, desconsiderados, ou seja, marginalizados. E tudo isso porque ele, do alto dos seus cabelos platinados decidiu que seria assim.
Depois disso ele decidiu também sair do acordo ambiental de Paris, sendo que os Estados Unidos é o segundo maior poluente do mundo. Mas enfim, ele pode. Pode até comprar a Groelândia. Isso mesmo, um país inteiro e autônomo com pessoas de carne e osso, com sua história e cultura. E foi ele quem estipulou o valor. Incrível, não é? Agora gente pode comprar gente. É só ter dinheiro.
Ou seja, pessoas como ele e como o tal do homem do foguete, que só pode sofrer de atrofia peniana de tanto que constrói falos metálicos e reluzentes, não apenas acham que podem tudo como estão sim podendo tudo. Um quer manipular leis de outros países para que sua plataforma de disseminação de fake news continue ditando regras. O outro, com sua truculência aos moldes do Velho Oeste, vai angariando seguidores mundo afora e criando um séquito de autômatos que fazem um estrago tremendo em culturas ainda frágeis em seu desenvolvimento. Vide o tal Messias que riu dos milhares de mortos com a Covid e disse a famigerada frase; “Não posso fazer nada. Não sou coveiro!”
Do lado de cá, temos o coiso que chora como uma criança por não ver a posse do seu ídolo pop. E mente. E mente. E mente. Descaradamente. E manda a esposa e o filho para continuar mentindo. Para aos moldes das redes sociais, postar fotos e dizeres afirmando que farão parte da tal posse. E depois o fiasco. E a desculpa. E as mentiras. E mais mentiras. Porque tudo vale. Tudo é aceito. Afinal o seguidor fiel aceita tudo, acredita em tudo. É um idiota convicto e possui um desejo quase fetichista de ser salvo pelo tal Messias, de acreditar nas baboseiras que ele diz, de viver as baboseiras que ele prega. É uma espécie de sodomização coletiva. O Brasil, apesar dessa onda hipócrita de valores familiares e religião nunca esteve tão erotizado, tão promíscuo. Vivemos numa masturbação de massa onde todos os dias, em todos os lugares, pessoas, as mais comuns possíveis, as mais incapazes possíveis, pois claro, essas são sim são o público-alvo dos calhordas de cima, se sentem encarnando importantíssimos papéis de salvadores, de defensores de uma pátria que eles sequer conhecem a legislação.
É preciso lembrar da grande campanha de Hitler onde ele angariava camponeses sem dentes lhes dando uma farda, comida e um ideal heroístico. É preciso lembrar dos tempos da ditadura onde qualquer delegadozinho tinha decisão sobre a vida e morte de centenas de pessoas. Pessoas como você, como eu e como os filhos dessas mesmas senhoras que hoje levantam suas bandeiras verde e amarelo e fazem o diabo para defender seu ídolo e claro, garantir o recebimento da gorda aposentadoria de viúva de militar.
Em dias onde o dono do Facebook, que criou uma rede de relacionamento para adolescentes é quem dita as regras do jornalismo mundial e decide, ou pior, deixa que qualquer um decida o que é a verdade, a realidade vai ficando cada vez mais distorcida. E então, Auschtwitz, documentários sobre o Holocausto, os milhares e milhares de mortos no período da ditadura militar, os terrores causados pela abominável Ku Klux klan vão ficando no passado. Vão se transformando em filmes fantasiosos e fictícios, pois para o bem do interesse do momento é importante que eles percam força e verossimilhança.
E toda a massa vai acreditando, vai aderindo. Sem nenhuma responsabilidade, sem nenhum compromisso humano. Apenas para o prazer do debate. Do debate não. Da subjugação do outro.
São tempos violentos. Muito violentos. E essa violência não se limita ao plenário, às rodas políticas. Em qualquer boteco de esquina, em qualquer supermercado, em qualquer fila de farmácia, temos gente pronta para matar ou morrer.
O que os atuais ditadores mundiais estão fazendo com a população é dar a faca, o revólver, a espingarda, a bazuca e o discurso de ódio para que a própria população se dizime. Estratégia antiga e sempre muito eficaz, pois basta instalar o caos para que qualquer coisinho possa se auto intitular de messias, de salvador.
Nunca estivemos tão burros. Tão patéticos. E essa frouxidão de caráter ao qual tão largamente nos submetemos vai nos custar caro. Muito em breve não teremos mais ética, bioma, democracia. E o que vai sobrar é um monte de delegado regional posando de xerife. Pastores inescrupulosos serão os responsáveis pela gestão do dinheiro das famílias, déspotas e milícias incendiarão cidades por puro prazer. Corpos dissidentes, àqueles mesmos que de acordo com o monstro laranja não existem, virarão bonecos de tiro ao alvo. Será o caos. O verdadeiro apocalipse do mal. E as senhoras beneméritas e hipócritas tomarão calmamente os seus chás alucinógenos e dirão; “Que coisa…” Enquanto continuarão parindo, criando e educando séquitos e séquitos de crianças machistas, burras e alienadas.
E enquanto isso, enquanto o tal do juízo final não chega de todo. Enquanto as labaredas das queimadas criminosas não chegam aos quintais dessa gente regateira, promíscua e burra, essa mesma gente continuará se empanturrando de frivolidades, sorvendo as canalhices dos pulhas de cima, bebendo da água destilada de ódio e mentira, cevados de ignorância e maldade.
E enquanto isso, o reality show é quem dita as tendências do próximo trimestre, com suas mulheres inflamadas de esteroides, com seus pescoços grossos, seus braços de gladiadores, com suas bundas incomensuráveis. E com seus homens, claro. Muito iguaizinhos, com seus corpinhos musculosos e tatuadinhos. E todos muito barbadinhos, cheios de botoxzinhos, com seus discursinhos elitistas, sexistas e como sempre, machistas.
E a televisão vai continuar representando a caricatura do que é o povo, pois o povo quer se ver na Televisão. E lá está ele. Com suas pobrezas de corpo e espírito, com seus erros de português, com suas baixezas e seus risinhos, e suas vontadizinhas, seus erotismos, seu sexozinho pobre por baixo do edredon. Suas escatologias expostas, suas burrices expostas, suas maldades e conchaves expostas, para que milhares possam rir largamente de suas ridicularidades. Para que o povo possa rir do povo e ainda achar isso bonito. E não saber que quando se tira a dignidade da pobreza, não sobra mais nada. É como colocar uma criança nua e indefesa em pleno horário nobre. Para que qualquer um possa apontar e enfiar os dedos.
E, no entanto, essa pequena comunidade reclusa nunca representou tão claramente a mecânica social em que vivem. Um bando de ratinhos de laboratório com promessa de ração e fama sendo manipulados pelos caras lá de cima que os jogam de um lado pro outro com petiscos ou choques em suas genitálias. Que com suas edições decidem quem é bom e quem é mal. Quem vence, quem sai. Quem é cancelado, quem é agraciado. Ou seja, eles como sempre, decidem quem deve ou não existir.
E enquanto isso quem é estúpido aplaude e agradece a migalha que recebe mesmo que isso custe a própria individualidade. E quem ousa pensar à margem desse mar de lama, escreve. E ora. Porque por um deus ou por uma deusa, é preciso, urgentemente, acordar.
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