03/06/2021 às 13h22min - Atualizada em 03/06/2021 às 13h22min
A Lisboa que eu vi
Por Odair Camillo - Jornalista
De uma das principais avenidas de Lisboa, a Duque de Loulê, próxima ao hotel em que eu e Lurdinha estamos hospedados, tomamos o bonde número 20 que vai dar ao Cais Sodré, antiga parte da cidade de onde saem e chegam pequenas embarcações e, também onde se localiza a estação ferroviária que liga a capital portuguesa à Estoril e Cascais.
O bondinho, conhecido como “elétrico”, e que ainda é mantido como atração turística mas que na verdade é um dos meios de transporte mais utilizados na região histórica da velha metrópole, arrasta-se ruidosamente pelos trilhos nas estreitas e sinuosas ruas da zona comercial.
Da janela, vou anotando nomes de coisas que, para nós brasileiros, não as utilizamos e que são notoriamente interessantes.
Numa das paragens (parada de bonde ou de ônibus) há um bem montado talho (açougue) que, por sua vez, fica junto a um prédio histórico que passa por uma beneficiação (restauração). O bonde prossegue em seu roteiro passando pelo Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa e chegando a uma grande praça.
Mais adiante, depois de percorrer a rua Alexandre Herculano, chega-se ao Largo de São Mamede. Nota-se um movimento incomum em frente a uma loja em cuja entrada se lê: “Anda amanhã a roda”, que para nós, brasileiros, significa: “Corre amanhã a loteria”. As pessoas estão todas atrás de uma bicha (fila) aguardando a sua vez de apostar.
O veículo prossegue e logo em seguida passa por um velho e suntuoso prédio, onde numa placa de bronze está escrito: Faculdade Internacional. Logo em seguida, num outro edifício, está localizada a Imprensa Nacional, esta já na rua da Escola Politécnica, que vai dar na Praça do Príncipe Real. Mais alguns minutos e o velho bonde chega ao seu ponto final.
Na praia, predomina o topless
Do Cais Sodré partem os trens a cada 30 minutos com destino a vários pequenos lugarejos, terminando no Estoril e Cascais. A viagem é interessante. Da janela do trem descortina-se, à esquerda, as belíssimas praias do litoral. À direita, as numerosas edificações que, pela suntuosidade, devem pertencer a uma classe bem privilegiada de magnatas europeus. Pouco mais de 30 minutos e chega-se à Estoril.
Considerado o refúgio natural dos abastados portugueses e grande atração turística mundial, a pequena Estoril possui uma infraestrutura invejável. Na sua pequena praia - onde predomina livremente o topless - são vistas pessoas das mais distantes regiões do mundo.
À tarde, o famosíssimo Cassino do Estoril já está em pleno funcionamento. Cascais é a estação seguinte. Praticamente ligada à Estoril, ela já possui um centro comercial mais agitado.
De volta à Lisboa, resolvemos caminhar pelas antigas ruas que se iniciam no Cais. Optamos pela rua do Alecrim, uma ladeira que vai dar no Largo do Chiado. Procuramos saber o porquê do nome tão exótico, imaginando ser o local onde se reunia a população para protestar. Nada disso. Ficamos sabendo que Chiado foi um grande poeta do século 16. Ainda nessa rua, leio uma grande tabuleta à frente de uma loja: “Antiga Casa Faz Frio”. Procuramos saber o nome atual e não acho nada que a identifique. Será que esqueceram?
Já cansados e à procura de um lugar calmo e menos ensolarado, pergunto a uma senhora muito bem vestida, que vem em sentido contrário: “Por favor, onde há uma igreja por aqui?”. E para minha surpresa, a portuguesa responde: “Upstairs”, e completa: “A gauche”. Fico surpreso com sua informação. “Será que tenho cara de inglês?”, penso comigo. Mas, e a expressão francesa “a gauche?”. Bem, deixa pra lá.
E prosseguimos em nossa caminhada, realmente encontrando, upstairs e à droite, uma antiquíssima igreja datada de 1501, a paróquia de Nossa Senhora da Encarnação e, bem defronte, a igreja italiana de Nossa Senhora do Loreto, fundada em 1518. Nesta, descansamos por algum tempo, admirando todas as obras de arte que adornam seu interior.
Depois de alguns minutos, estamos de novo na rua do Alecrim. Apanhamos o bonde com destino ao Rossio, bonito lugar que já estivéramos visitando no dia anterior, próximo à velha Alfama e ao Castelo de São Jorge.
Alguns quarteirões antes de chegarmos ao Rossio, descemos e caminhamos por uma já remodelada rua, transformada em calçadão, onde o comércio é intenso. O sol já se escondia no horizonte nessa tarde gostosa de junho quando, sentados à mesa de um dos inúmeros barzinhos que enfeitam aquela praça, saboreando alguns petiscos da tradicional cozinha portuguesa, planejávamos o que mais conhecer e desfrutar de Lisboa, no dia seguinte.
Junho de 1992