27/05/2021 às 14h59min - Atualizada em 27/05/2021 às 14h59min
11 de Setembro de 2001: estávamos nos Estados Unidos!
No comecinho de setembro de 2011, eu e Lurdinha estávamos nos Estados Unidos participando de um evento de turismo na cidade de Miami, hospedados no Fontainebleau Beach Hotel. Nessa época, eu desfrutava de grande prestígio junto aos órgãos de turismo e Conventions & Visitors Bureaux da maioria dos Estados americanos, tendo sido convidado a visitar seus mais importantes destinos turísticos.
E uma das melhores amigas que tinha por lá, e que coordenava todas as viagens era a pequena e simpática Margareth Castro Vieira, que fazia parte do staff do “Visit Florida”, que até hoje é um dos mais importantes órgãos de divulgação do famoso Estado americano no mundo.
Em visita à Feira, encontrei-me com ela que, juntamente com sua equipe, trabalhava no estande da Flórida, um dos maiores e mais importantes do evento que atrai todos os anos, no mês de maio, operadores de turismo, transportadores e jornalistas especializados de várias partes do mundo.
Foi quando ela perguntou-me se eu poderia estender minha viagem por mais alguns dias e aproveitar a oportunidade para visitar Key West, a famosa cidadezinha que era um dos principais destinos de férias dos americanos nos Estados Unidos.
Como não tinha qualquer compromisso, aceitei o convite, desde que ela providenciasse junto à American Airlines a mudança de nosso voo de retorno para São Paulo para o dia 11 de setembro, saindo de Miami. Ela evidentemente que aceitou, ao mesmo tempo que providenciou a reserva dos hotéis. O primeiro foi um resort em Islamorada, meio caminho até Key West e nesta, uma belíssima mansão bem no centrinho da cidade, que fora transformada num hotel.
A caminho de Key West
Key West faz parte da famosa Florida Keys, que é um conjunto de ilhas paradisíacas no sul da Flórida. São diversas ilhas interligadas por pontes enormes e Key West é a última e a maior de todas elas.
Aluguei um carro Nissan Altima de uma locadora no próprio hotel e no dia seguinte partimos para Key West, localizada a uma distância de aproximadamente 250 quilômetros de Miami. O trajeto é feito pela Overseas Highway, a US 1, atravessando nada menos do que 42 pontes e com a duração de aproximadamente quatro horas. Esse tempo pode ser maior, visto que durante todo o trajeto você descerá do carro para fotografar as diversas atrações turísticas. Nossa primeira parada foi Islamorada, De acordo com a programação elaborada por Margareth, passaríamos o resto do dia e da noite nessa pequena ilha e, só no dia seguinte seguiríamos viagem para Key West.
Na manhã do dia 8 de setembro, por volta das 11h, estacionava o Nissan defronte à Cypress House, uma mansão histórica e bem preservada, localizada próxima à Duval Street e à Mallory Square.
A tragédia de NYC foi vista em tempo real, “ao vivo e à cores”
Certamente que passamos três maravilhosos dias em Key West, visitando suas atrações, seus excelentes restaurantes e barzinhos da Duval Street e, inclusive, visitando a casa onde viveu por muitos anos o escritor Ernest Hemingway, paparicando e fotografando os descendentes dos famosos gatos que ele cuidava, e adorava.
No dia 11 de setembro, logo de manhã, quando descia a escadaria da mansão com nossas malas para fazer o check-out, não encontrei ninguém na portaria do hotel. Toquei uma campainha que estava sobre o balcão e logo apareceu um funcionário, que pediu que deixasse as malas ali e que o seguisse rapidamente.
Numa sala próxima, estavam várias pessoas de pé, inclusive o gerente, assistindo à televisão, que estava mostrando por repetidas vezes a batida de um avião numa das Torres Gêmeas de Nova York. Enquanto comentava com eles o acidente, logo depois assisti ao segundo ataque. Foi incrível!
Naquele momento os Estados Unidos estavam vivendo o maior ataque terrorista de sua história. Eram quase 9h da manhã em Nova York quando um avião sequestrado por integrantes da organização terrorista islâmica Al Qaeda, sob comando de Osama bin Laden, chocou-se com uma das torres do World Trade Center - um dos prédios mais altos do mundo até então.
A princípio, a cena parecia de um trágico acidente aéreo. Mas, após 20 minutos do primeiro ataque, outro avião colidiu com a segunda torre do WTC, ficando evidenciado que se tratava de uma ação premeditada.
Alguns minutos depois, um terceiro avião atingiu o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA que fica próximo a Washington D.C., capital do País.
Uma quarta aeronave caiu em uma área rural no estado da Pensilvânia antes de atingir seu alvo, após os passageiros tentarem retomar o controle da aeronave. O plano dos terroristas era jogar o avião contra o Capitólio.
Três edifícios do complexo do WTC desmoronaram, incluindo as famosas Torres Gêmeas. As cenas da fumaça tomando conta das ruas de Nova York e de pessoas se jogando pelas janelas para tentar fugir das chamas foram transmitidas ao vivo e chocaram o mundo. Ao todo, quase três mil pessoas morreram, incluindo os terroristas.
Após assistirmos e comentarmos sobre esse triste acontecimento, o gerente aconselhou-me a permanecer em Key West por mais alguns dias, até que a situação se normalizasse, já que todos os aeroportos do País estavam daquele momento em diante fechados para pouso e decolagem.
Agradeci a sua hospitalidade, já que nada mais seria cobrado, e acabei ficando mais um dia, tendo a oportunidade de conhecer outras atrações da bela ilha americana.
O inferno se instalou no Aeroporto de Miami
No dia seguinte, no entanto, decidimos partir e tentar a sorte. Pegaríamos qualquer voo que saísse de Miami para o Brasil.
Ao chegarmos no aeroporto, o movimento era intenso. Centenas de pessoas se locomoviam de um lado para outro do terminal, alguns deles, em determinado momento gritavam “Bomba, bomba”, e era aquela correria. Mas felizmente eram alarmes falsos! Pessoas se aglomeravam em qualquer canto disponível e ali aguardavam a chamada para o check-in, que não acontecia.
Eu e Lurdinha nos revezávamos na fila da American Airlines. Ambos fotografávamos quase tudo que acontecia à nossa frente. Naquela noite resolvemos nos hospedar num dos hotéis do aeroporto, já que pressentíamos que não haveria qualquer possibilidade de os voos serem restabelecidos.
No outro dia, bem cedo já estávamos de volta ao balcão de embarque da companhia. Quando chegou minha vez, uma das atendentes da empresa me chamou de lado e perguntou a razão pela qual eu e Lurdinha estávamos fotografando tudo. Eu disse a ela que éramos jornalistas brasileiros e, como tal, tínhamos como hábito documentar tudo que acontecia. Ela entendeu a nossa situação e, falando baixo para que ninguém escutasse, disse-me que, embora elas estivessem ali durante todo o dia, garantiu-me que o nosso voo só sairia no dia seguinte. Em seguida, pegou um voucher de hotel, cortesia da empresa aérea, me entregou e disse: “Vocês podem ir agora para este hotel, descansem bastante e amanhã, bem cedinho, estejam aqui para o check-in”.
Finalmente, nosso voo partiria para o Brasil
Realmente, no dia seguinte, depois de passarmos por uma forte revista pelo sistema de segurança do aeroporto, às 8h já estávamos dentro do avião, com saída prevista para às 9h.
Agora mais tranquilos, ficamos aguardando a comunicação do comandante, ou dos comissários de bordo. Mas o tempo foi passando e nada do anúncio da partida. Uma hora depois, o comandante anunciava que, embora duas pessoas houvessem feito o check-in e despachado suas malas, até então não haviam se apresentado para o ingresso no avião. Por esse motivo, a companhia aérea iria esvaziar todo o compartimento da bagagem, localizar os viajantes que até então não haviam comparecido para o embarque, e fazer uma nova inspeção em suas malas.
Depois de todo esse aparato, somente às 12h30 nosso Boeing 767 da American decolava de Miami rumo a São Paulo. Na chegada à Guarulhos, muitos jornalistas nos aguardavam à saída do terminal, e alguns foram entrevistados pela grande imprensa. Afinal, este era o primeiro voo que chegava ao Brasil, vindo dos Estados Unidos, após os atentados terroristas em Nova York.