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10/05/2021 às 15h58min - Atualizada em 10/05/2021 às 15h58min

Viagem a Dijon, França - Na terra da mostarda Maille, do Crème de Cassis e do vinho Romannée-Conti

Por Odair Camillo - Jornalista
FOTOS: Reprodução Google
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Decididamente, não foram a famosa mostarda Maille de Dijon, o Crème de Cassis e nem mesmo o Romannée-Conti, além de outros vinhos da Borgonha, que me atraíram a visitar a bonita cidade francesa de Dijon.
Pouco ou nada sabia de sua história, de seu passado rico em cultura e arte, de suas igrejas e catedrais em estilo gótico renascentista e capetiano. Na verdade, eu e Lurdinha havíamos deixado Lausanne, na Suiça, e estávamos a caminho de Paris, onde passaríamos alguns dias e depois regressaríamos ao Brasil.
Estávamos viajando num TGV, o trem francês de alta velocidade, apreciando a paisagem quando, ao olhar para o painel eletrônico do trem que marcava a velocidade de aproximadamente 300 km/hora, vi também que a próxima parada seria Dijon, uma cidade francesa que se tornara internacionalmente famosa pela produção das iguarias que citei acima.
No mesmo instante lembrei-me que já havia degustado na casa de um amigo - um dedinho mínimo numa taça - do Romannée-Conti, famosíssimo vinho produzido naquela região da Borgonha, e que era o preferido de Lula e de José Dirceu, nos ágapes por eles frequentados, quando ainda não haviam sido condenados no processo da Lava-Jato. Quem sabe eu poderia comprar uma garrafa dele, a um preço especial?
 
A oportunidade de conhecer Dijon, a capital da Borgonha
 
 
Não tive dúvida. Disse à minha esposa que poderíamos descer em Dijon e, mais tarde, seguiríamos viagem, já que deveria haver várias opções de trens para Paris.
No horário “britânico” (embora estivéssemos na França) previsto para a chegada, o TGV parava na estação. Descemos e logo fomos surpreendidos pela sua beleza e praticidade. Modernizada nestes últimos anos, essa estação foi certamente polo de desenvolvimento de toda aquela região da Borgonha. Por ali devem ter passado milhares de pessoas vindas de todas as partes da Europa, seduzidas por suas riquezas e atrações culturais.
Ao sairmos pela sua porta principal, pudemos observar à nossa frente, prédios majestosos, modernos e antigos, arquitetura típica das principais cidades europeias.
Nada de táxi. A cidade estava logo ali. Arrastamos facilmente as malas pela praça da estação e logo estávamos na bonita Place Darcy, que ostenta no seu centro a Porte Guillaume - guardadas as devidas proporções, uma réplica do Arco do Triunfo de Paris.
De ambos os lados da praça, hotéis, lojas e restaurantes de todas as categorias fervilhavam de pessoas, na sua maioria turistas. A cidade nos recebia carinhosa, de braços abertos, naquela manhã ensolarada e gostosa de setembro de 2010.
Ficamos encantados com a pequena fração da cidade que estávamos conhecendo. E ao mesmo tempo, tivemos o mesmo pensamento:  E por que não ficarmos pelo menos uma noite nesta charmosa cidade?  E foi o que fizemos!
Ali perto, entramos no Le Jura, um simpático hotel três estrelas que escolhemos aleatoriamente entre os demais.  Ele logo nos encantou pela sua decoração, singeleza e hospitalidade de seus funcionários. Havia um único apartamento disponível, e no primeiro andar. Não tinha importância! Providenciamos rapidamente o check-in.

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Comemorando 36 anos de casados
 
Foi a conta de deixarmos as malas no quarto e já estávamos a caminho da centro, afim de descobrirmos mais sobre Dijon.  A parte histórica da cidade é mesclada com construções antigas, de até mil anos, como também de prédios modernos. Numa das esquinas movimentadas, deparamos com a bonita e tradicional loja francesa Galerias Lafayette, referência de boas compras em toda a França, onde tem sua origem, e onde se encontra quase tudo.
 
Mais adiante, chegamos ao Palais des Ducs et des Etats de Burgundy, um elegante edifício em estilo Capetiano e que atualmente funciona como Museu de Belas Artes e a Prefeitura da cidade. Em algumas velhas mansões, nos encantamos com seus telhados multicoloridos, conhecidos como “toits bourguignons”, telhas de Borgonha, pintadas nas cores terracota, verde, amarela e pretas, dispostas no telhado formando desenhos geométricos.

Quando a noite chegou, por volta das 21h, já nos encontrávamos sentados a uma mesa do Restaurant et Caveau de la Porte Guillaume (foto), um dos mais tradicionais da cidade. No cardápio, uma variedade de pratos que combinam a cozinha e as especialidades da Borgonha.
Optamos como entrada os oeufs en meurette, um prato de aparência simples e clássica feito com ovos pochês e servidos sobre torradas com molho de vinho tinto da uva syrah, reduzido com bacon, cogumelos e cebolas. É o molho meurette que dá nome à iguaria. Como prato principal, escolhemos o Boeuf bourguignon, um dos pratos clássicos da região, onde a carne é frita e, depois, lentamente cozida em vinho tinto da Borgonha. Leva bacon, cogumelos, buquê garni e cebolas brancas. Ele veio acompanhado de batatas cozidas.
Esse restaurante é considerado um três estrelas na gastronomia local, e como não poderia deixar de ser, possui uma excelente e variada carta de vinhos. Por sugestão do maître, escolhemos o Morin Père et Fils, pinot noir. Assim, fechamos com chave de ouro aquele dia em Dijon, já que eu e Lurdinha comemorávamos naquela noite, 36 anos de casados.
 
Na “Trilha da Coruja”

 
No dia seguinte, logo após o café da manhã, já caminhávamos em direção ao centro quando percebemos que a cada 30 metros, aproximadamente, uma placa de metal polido afixada ao chão com a figura de uma coruja indicava os pontos turísticos a serem visitados. Estávamos, sem saber, na famosa Trilha da Coruja.
A próxima atração era o Hotel La Cloche, construído em 1882 para acolher os ricos e poderosos da época. No seu livro de ouro, as assinaturas de Grace Kelly, Maurice Chevalier, Napoleon III, o escultor Rodin, entre outros. Em seguida estava a Porte Guillaume, um arco do triunfo como o de Paris, do século 18, em homenagem a Guillaume de Valplano, que reformou a abadia de Saint-Bénigne no século 11, e que hoje é uma atração turística.
Mais adiante chegamos ao Mercado Coberto, uma das maravilhas de Dijon, uma obra de Eiffel que atrai turistas pela sua estrutura em ferro, onde podem ser encontrados uma variedade de produtos de toda a região. E as atrações foram surgindo. O belo prédio do Hotel Aubriot, onde eram guardadas as reservas monetárias da cidade. A Maison Maillard, de 1560; o Hotel Cambellan, de 1490; e finalmente a Catedral de Notre Dame, do século 13, com seu famoso relógio Jacquemart. Na Rue de la Préfecture, se vê uma curiosa escultura em pedra, na forma de uma coruja. Segundo a lenda, dá sorte tocá-la com a mão esquerda, fazendo-se um desejo.
 
À procura do famoso vinho
 
Como escrevi no começo, eu já havia experimentado na casa de um amigo em Poços de Caldas, um golezinho - menos de meio centímetro numa taça - do Romannée-Conti, e, evidentemente que havia gostado.
Naquele momento, andando pelas ruas de Dijon, lembrei-me que, estando naquela região que o produz, talvez pudesse encontrar uma lojinha especializada em vinhos que o vendesse, e que naquela oportunidade de minha visita à cidade, o mesmo pudesse estar em promoção. Mas, não foi bem assim que aconteceu...
Ao entrar nas Galerias Lafayette à procura dele, fui informado que, possivelmente iria encontrá-lo numa loja especializada em grandes vinhos, perto dali.
 
Avez-vous des vin Romanné-Conti, s´il vous plait ?
 
Minutos depois adentrávamos à loja, muito parecida com a Mercearia Lider, de meu amigo Jair Silva. Vinhos nacionais e internacionais das melhores procedências, bem como as mais ricas especiarias. Olhei de um lado para outro, de cima para baixo, e não vi nada parecido com o tal de Romannée-Conti. Nem mesmo um painel, uma propaganda para que me orientasse quanto ao valor. E muito menos qualquer informação que indicasse algum tipo de “promoção”. Não gostei! Mas como estava ali, não custava nada perguntar ao funcionário, se ele tinha o vinho, e qual seria o preço.
Foi quando arrisquei usar algumas frases do meu pobre francês, e perguntei ao atendente: “Avez-vous des vin Romannée-Conti, s´il vous plait?  Ele prontamente respondeu: “Sim, certamente. Mas eu não o tenho agora. Eu preciso de duas horas, até buscá-lo em nosso depósito”. Eu o interrompi, dizendo: “Não se preocupe. Voltaremos amanhã, já que ficaremos em Dijon mais alguns dias. Mas eu gostaria de saber quanto custa a garrafa? E ele me passou a lista de preços, informando que o tal vinho só é vendido num pacote que inclui outras 11 garrafas de vinhos Grand Cru, e que ele, sozinho, em algumas ocasiões poderia custar até 3 mil euros.
Eu já tinha conhecimento, através de meus amigos sommeliers, que ele era um dos mais caros do mundo, já que a sua produção anual não passa de cinco mil garrafas, e há uma lista de espera para recebê-lo, e degustá-lo.
Agradeci sua atenção e prometi pensar sobre o assunto, e que possivelmente voltaria no dia seguinte. Saímos dali e voltamos à Galerias Lafayette. No setor de vinhos, acabamos comprando uma garrafa do conhecido Mercurey Domaine Faiveley, de uvas pinot noir, e uma Bourgogne Rouge, um vinho mais popular, tão saboroso quanto o Morin Père et Fils, que havíamos tomado na noite anterior. Quanto ao Romannée-Conti talvez eu voltasse a experimentá-lo na próxima vez que visitasse meu amigo de Poços de Caldas...
 
Na manhã seguinte, deixamos o hotel da mesma maneira como que ali chegamos: arrastando as malas até a estação ferroviária, agora um pouco mais pesadas. Cada uma das garrafas vieram embrulhadas e protegidas no meio das roupas de cada mala. Antes do meio-dia o TGV entrava, menos apressado, na Gare du Nord, em Paris.






 
“No hotel Du Nord, comi a melhor lasanha de lagontim do mundo, com o Borgonha descendo redondo”, escreveu Lurdinha
 
Abaixo, um trecho da crônica assinada por Lurdinha, que fala sobre Dijon, e que está no livro “Pelo mundo”, lançado por ela em novembro de 2018
 
“E então, munidos do passaporte do li­vre arbítrio, seguimos para Dijon. Gente, amei Dijon! Acho que em outra encarna­ção morei em alguma cidade medieval.
  Nosso hotel, La Jura, ficava perto da estação. Táxi? Nem pensar! Cada um carrega sua mala.   
  Dijon é um luxo, com seus museus com entradas franqueadas ao público, cate­drais majestosas, grifes famo­sas. Nas movimentadas e estreitas ruas, a cultura está no ar.
  Na bem pensada mistura de estilos, a moderníssima Galerias Lafayette ganha visual eclético, fazendo contraponto às fortalezas medievais. A gastronomia valorizadíssima pelos condimentos como o foie gras, a famosa mostarda, mais as ervas de Provence, fazem a festa dos mais conceituados restaurantes, como o La Concordia, e o reservadíssimo restaurante do hotel Du Nord, onde comi a melhor lasanha de lagostim do mundo, com o Borgonha descendo redondo.
    Ai, ai, ai! Dia de pegar o trem das onze. Na digital em minha bolsa, Dijon estava indo comigo. Mas, peguei minha agenda e sorri, afinal estávamos indo para... Paris. E, falar o quê de Paris? De Paris a gente não fala, a gente vai!”.
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