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10/05/2023 às 15h49min - Atualizada em 10/05/2023 às 15h49min

Rita Lee é história da música popular brasileira

FONTE: Assessoria de Imprensa Instituto Presbiteriano Mackenzie - [email protected] - FOTOS: Divulgação / Reprodução Google
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A mulher que demoliu mitos e enfrentou paradigmas
 
Rita Lee ajudou a transformar o cotidiano brasileiro. No final das contas, ela perseguiu e abriu caminhos. Faz parte de sua herança e legado uma geração de mulheres prontas para enfrentar o final do século 20 e o início do 21, numa sociedade menos preconceituosa.

Dizer que Rita Lee inovou e quebrou regras não chega a ser uma informação nova. Longe disso. Mas, quando se pensa no perfil da artista, é preciso lembrar que uma das inovações que Rita promoveu foi na forma como o ídolo se mostrava ao público. Na década de 60, ela e Os Mutantes não vendiam apenas música. Vendiam, também, um estilo de vida. E como isso incomodou. Assim, boa parte da informação sobre a vida da artista se confunde com a informação de sua carreira. Ao contrário de outros cantores e compositores, que conseguiram preservar um pouco de sua intimidade, a vida de Rita foi pública durante toda sua existência e, por isso, virou história. História da música popular brasileira.

A menina rebelde de pular muros no bairro da Pompeia nunca desapareceu. Só completou a artista que virou o avesso do avesso, mulher capaz de criar filhos e demolir muros. Demolir mitos.
 
Basta olhar o álbum de família de Rita. São amostras de ciclos. Suas fotos mais antigas são lembranças de um modo de vida que a própria Rita ajudou a mudar. A partir de suas fotos mais recentes, podemos imaginar a Rita-mãe, a Rita-mulher, a Rita-popstar, mais recentemente a Rira-escritora, criando seus filhos, depois os netos, lidando, orgulhosa, com o produto da revolução de costumes que ela peremptoriamente ajudou a acontecer.

Ninguém como Rita canta a festa da vida sem pecado, sem culpa, sem aflição, o prazer de se entregar completamente a tudo que a vida oferece. E com isso invadiu a vida das pessoas. De todas as idades, de diferentes classes sociais. Graças a essa menina/mulher o Brasil perdeu o pudor puritano e fingido, sentiu-se capaz de amar sem vergonha, de simplificar as relações e os sentimentos.

Rita Lee conseguiu feitos impressionantes. Ela é, na verdade, o rock brasileiro, filha do tropicalismo, síntese dos movimentos musicais que se sucederam a partir da bossa nova. Por falar em bossa nova, João Gilberto, o maior dos representas desse gênero, dizia que Rita cantava rock com voz de bossa nova. Nada mais verdadeiro.

Se nada tivesse feito Rita Lee Jones, bastaria o fato de cantar nas casas e nos carros de todo o país o convite esperto de Lança Perfume: "Vê se me dá o prazer de ter prazer comigo".

Nada enrustido ou com meias-palavras. Usou sim todas as palavras e as partes do corpo para se abrir ao amor. Amor livre de preconceitos. Rita Lee esfregou na cara das pessoas e de uma sociedade conservadora, o gosto pelo gozo, a alegria da entrega, a cumplicidade esfomeada da mulher no ato de amar. E foi uma das responsáveis pela abertura dentro da abertura (a política, nos anos 80). Rita colocou, como poucas, o feminino em pauta. Não o feminino feminista. Mas o feminino da mulher que entrava cada vez mais no mercado de trabalho, que, ainda timidamente, começava a encontrar melhores cargos; da mulher divorciada que criava os filhos e tinha que se abrir a novas experiências. Rita sintetizava o feminino da mulher-metrópole. Meio mãe, meio dona-de-casa, meio funcionária, meio musa, mas principalmente a mulher cidadã.

Para encerrar, nada como um poema dedicado a ela, escrito ainda nos anos 80, pelo parceiro e amigo de Tropicália Tom Zé:

MAS, E RITA LEE?
Não existe fada nem conto-de-fraldas. Mas, e Rita?
Nada de feitiços, princesas encantadas, musas e bruxas. Mas, e Rita?
Não existe lero-lero, lúdica e lírica. Mas, e Rita?
Fuxico, chicotinho queimado nem criança. Isso irrita!!! Mas, e Rita?
Tirim tirim tirim. Dim dim, abre-se o pano do outro lado do espelho.
É Rita.

 
Por Fernando Pereira - Jornalista, fotógrafo e professor de Cultura Brasileira da Universidade Presbiteriana Mackenzie


 
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