Vamos abraçar as Thermas Antônio Carlos. Somos sulfurosos por geologia e DNA
FOTO: Brand - News
20/01/2025 15h52 - Atualizado há 2 semanas
Engenheiro agrônomo, gestor ambiental e empreendedor pede atenção à perniciosa tendência de acatarmos as inabilidades do Estado
Em 17 de janeiro de 2025, às 18h da sexta feira, no mais favorável e propício momento para um bom happy hour com amigos, realizou-se a audiência pública para um processo de concessão das operações do balneário Thermas Antônio Carlos. Talvez, não ao acaso, a importante reunião em caráter de “Consulta Pública” tenha acontecido em ambiente morno e nos embalos do jargão “sextou bebê” largamente difundido por um comediante mineiro. Como consequência, a participação de público foi pequena, pouco representativa da relevância exigida para o tema. Ainda que, em horário e dia inadequado para importante apresentação, em observação atenta como representante do executivo ressalto a presença e escuta importante do secretário municipal de Turismo Arison Siqueira, recém empossado.
Em exercício do papel de fiscalizador dos interesses públicos tivemos representatividade ativa do vereador Tiago Mafra que, por certo, levará o tema à nossa casa de leis para ampliar a necessária discussão. Representatividade do Conselho Municipal de Turismo, Juliano Silva, que irá levar o tema como pauta da próxima reunião. No mais, uma maioria de agentes da Codemge - Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais, poucos servidores da empresa terceirizada de serviços gerais, permissionários de serviços estéticos e terapêuticos atuantes no balneário, locadores de espaços nas Thermas, e alguns interessados nos desdobramentos do edital para eventual participação na concessão.
A Codemge fez preliminar apresentação apresentando diretrizes e modelagem econômica financeira, demonstrando desafios e potencialidades do modelo de negócio proposto. Em nenhum momento a audiência pública conferiu hipótese da não concessão dos serviços. A proposta de privatizar as operações do balneário veio formatada e impositiva, não considerando em absoluto a possibilidade de o balneário continuar em operação nas mãos do Estado por instrumento de gestão da própria Codemge, aos moldes do que ocorre atualmente, com bom desempenho, qualidade dos serviços e avaliações extremamente positivas por parte dos usuários e todo o corpo de agentes atuantes na vida utilitária do nosso centro público de bem-estar e saúde. É fato, que há por parte da Codemge uma zeladoria apurada e governança ativa do espaço.
Aqui me dirijo principalmente aos poços-caldenses e assim dispenso enaltecer os predicados e significados marcantes do imponente prédio que nos traz pertencimento e orgulho.
Mas, não estamos falando de um espaço público sucateado, negligenciado e esquecido. Muito ao contrário, o trabalho proposto pela equipe de analistas favoráveis à concessão, trouxe uma nítida análise de viabilidade operacional atrativa que deve encher os olhos dos candidatos à eventual concessão, justamente pelo grau elevado de conservação e condições atuais do icônico prédio das Thermas Antônio Carlos e toda sua atratividade.
Exponho aqui minha opinião contrária à avançada intenção de conceder a exploração dos serviços termais para empresa privada. Nesse sentido, conclamo uma reflexão coletiva ponderada sobre o tema, seguido de convite para adesão a um movimento que promova a sensibilização das autoridades e da população em defesa da continuidade da gestão em domínio público por atuação do Estado de Minas Gerais.
É importante ressaltar que, além de ser uma agência de desenvolvimento econômico, a Codemge, na tão atual busca pelos pilares da sigla corporativa - ESG -, tem como ramificação de sua missão, a promoção da responsabilidade social e foco no bem-estar do povo mineiro. Nesse aspecto, não cabe a incoerência de propor ação que versa sobre subtrair dos direitos da população a gestão da propriedade coletiva de um bem mineral, bem como seu acoplado equipamento de profusão de benefícios terapêuticos, tão profundamente permeado na formação histórica, cultural, econômica e científica da cidade de Poços de Caldas.
Extrair da esfera de domínio público a tradicional atividade do balneário Thermas Antônio Carlos é imediatamente deletar a vestimenta do único corpo material literalmente palpável que realmente consubstancia e valida o nosso fenótipo genuíno de estância climática sulfurosa.
Entre muitos outros argumentos passíveis de serem relatados em momento oportuno, há em curso um nobre trabalho sendo desenvolvido para atribuir à região de Poços de Caldas um conceito de valorização do Território Origem Vulcânica, visando agregar valores imateriais à produtos e atividades em caráter integrado com municípios limítrofes que são abraçados pela borda da caldeira vulcânica do planalto de Poços de Caldas. A Codemge tem papel e função compatível com esse plano de desenvolvimento regional. Cabe a ela, ao contrário de querer desenvolver economicamente apenas um ator de personalidade jurídica privada, contribuições muito relevantes para a implementação definitiva dessa chancela que se dá por certificação de denominação de origem, somando esforços com outras organizações que se debruçam sobre o tema, a exemplo do SEBRAE MG e Associação dos Cafés Vulcânicos.
Portanto, temos que resgatar e fortalecer a cobrança de atuação do Estado em prol de benefícios coletivos amplificados. Temos que perder a mania de normalizar o discurso de que o Estado não tem competências e habilidades para gerenciar e atuar de forma eficaz. Para além de viabilidade econômica há também o papel de promover institucionalmente nosso grande diferencial advindo das águas sulfurosas. Acatar passivamente esse processo de concessão das Thermas, além dos prejuízos à nossa identidade, valores e orgulho sulfuroso, abranda nossa força de cidadania, diminui nossos direitos de contribuintes e nos promove a um caráter de resignação muito perniciosa para o presente e para as gerações futuras.
Vamos abraçar as Thermas Antônio Carlos!
Por Gabriel Tarquinio Bertozzi - Engenheiro agrônomo, gestor ambiental e empreendedor