20/04/2023 às 16h02min - Atualizada em 20/04/2023 às 16h02min
Um affair faz chegar o café no Brasil
Por Angela Caruso - @batomnaxicara / www.batomnaxicara.com.br
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O ditado ‘quem conta um conto aumenta um ponto’ também vale para o mundo do café, cujas narrativas em torno de sua existência estão sempre envolvidas em lendas e boas histórias.
Desde o surgimento da comercialização do café, ter uma planta do cafeeiro era algo quase impossível. Dominada pelos árabes, foram os holandeses que quebraram o monopólio e via desvios espalharam a produção do café em suas colônias na Ásia e na América Central. A chegada da planta na América do Sul aconteceu nas colônias europeias como Suriname e Guiana Francesa.
E diz a lenda que foi assim, clandestinamente, que as primeiras sementes ou a primeira muda de café teriam chegado ao Brasil, graças a um homem galanteador e uma mulher apaixonada.
Era fevereiro de 1727, quando João da Maia Gama, então governador do Maranhão e Grão-Pará, indicou Francisco Mello Palheta para comandar uma missão na Guiana Francesa a fim de resolver uma disputa territorial entre portugueses e franceses. Secretamente, confiou ao adido militar uma ordem muito peculiar:
“E se por acaso entrar em quintal ou jardim ou Rossa ahonde houver cafee com pretexto de provar alguma fruta, verá se pode esconder algum par de graons com todo o disfarce e com toda a cautella, e recomendará ao dito Cabo que volte com toda a brevidade e que não thome couza nenhuma fiada aos francezes nem trate com elles negocio.” (transcrição do documento original)
Em outras palavras, Palheta recebeu a missão de trazer, de qualquer forma, uma muda de café para o Brasil.
Estando na Guiana Francesa, o militar brasileiro foi recebido na casa do governador Claude d’Orvilliers, durante sua visita à capital, Caiena. Ali hospedado, Palheta, com seu charme e sedução, envolveu-se num romance com a esposa de seu anfitrião, Madame d’Orvilliers, de quem ganhou confiança e certa intimidade. Na noite anterior à partida do amado e na certeza de que nunca mais tornaria a encontrá-lo, Madame d’Orvilliers foi ao encontro de Palheta, e num abraço de despedida, teria deixado cair no bolso do casaco de seu amante sementes de café, como recordação dos dias que passaram juntos.
Há outra versão, menos romanceada, sobre a chegada da rubiácea em solo brasileiro, mas o que se sabe é que Francisco Palheta cumpriu a missão a ele conferida, além de tornar-se um grande produtor de café e ser responsável, ao longo da história, por fazer acontecer, nos dias atuais, o poderoso império brasileiro do café.
Chegando ao Brasil, as primeiras sementes foram plantadas no Pará. Anos depois o cultivo do café se espalhou sobretudo no Vale do Paraíba, e fortemente nos estados de São Paulo e Minas Gerais, graças ao solo e clima férteis para a produção.
Quanto ao affair relatado, mito ou verdade, o que importa é que o episódio faz muito mais sentido para a história desse grão tão sedutor, e muito aclamado pelos brasileiros.
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