28/04/2022 às 14h39min - Atualizada em 28/04/2022 às 14h39min
Lurdinha, de repente fiquei velho...
Por Odair Camillo - Jornalista
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Após uma noite mal dormida, acordo assustado e meus pensamentos flutuam no ar, perplexos por ainda me dar conta que estou vivo. Quem sabe não gostaria mais que não acordasse...? Mas ainda tenho força para levantar-me. E devo enfrentar a vida que foi-me destinada.
Sigo a mesma trajetória de anos passados. Embora sinta muita falta de minha companheira de sessenta anos compartilhados. O café matinal que preparo há seis décadas, ainda segue a mesma receita. A mesa é posta, mas somente para mim. Ela talvez não venha... Apanho, pendurado na porta, o saquinho com o pão fresquinho trazido pelo meu genro.
A louça suja é deixada na pia. Mais tarde cuidarei dela. Agora, separo meus remédios. Três deles de uma só golada. Os outros ficam para a noite. Não vejo a hora de libertar-me deles e descobrir tudo que há no universo. Neste mundo, já desvendei quase tudo.
Ando de um lado para outro, sem saber o que fazer. Começo pelo nosso quarto a reviver as lembranças que Lurdinha me deixou. Tudo está praticamente igual. Só ela que não mais está.
Pelo corredor do apartamento, uma galeria de fotos dela e da família, fazem-me quase chorar. Na sala principal, objetos na parede lembram das inesquecíveis viagens que fizemos pelo mundo. Numa cômoda especial, bebidas e suvenires comprados nas viagens, alguns de países exóticos. Tudo no seu lugar, como ela sempre cuidava.
Na outra sala, sua galeria de telas preciosas e retratos maravilhosos. A poltrona que a acolheu nos seus últimos dias, está ali, inerte, certamente com saudade de ter abrigado o bonito corpo, mas doente, daquela mulher fabulosa. Os outros cômodos, deixo para outra vez.
Há exatamente um ano ela nos deixava, levada do leito hospitalar pelos seus anjos queridos. Com sua ausência, a partir de então, tornei-me de repente um velho...
Odair Camillo - 28 de abril de 2022
