FONTE: IBE Business Education - FOTO: Reprodução Google/Arquivo Pessoal
C Muito se fala sobre direito das mulheres e nunca a pauta feminina foi tão evidente. O assunto não é novidade, mas o mercado está longe de nos enxergar. Basta olhar as campanhas dedicadas ao público feminino. Falta de conhecimento sobre nossas dores reais e “estereotipização” são alguns dos erros cometidos que nos fazem, além de não consumir, sermos embaixadoras negativas de algumas marcas. Nós, mulheres, desejamos ser representadas para consumir produtos que estejam de acordo com nossos valores pessoais. E outro erro dos desenvolvedores de campanha está em apoiar suas ações no mito de que todas as mulheres são iguais. Não, não somos.
É inegável que a indústria da publicidade vem acompanhando o crescimento do movimento feminista - entenda-se feminismo, e não sexismo. É possível observar que nos últimos 25 anos o marketing vem se apropriando, e contemplando, o conceito de "femvertising" - palavra formada pela junção de dois termos em inglês: "feminist" (feminista) e "advertising" (propaganda). A ideia da expressão é descrever o aproveitamento da retórica do movimento que defende a igualdade de direitos entre homens e mulheres para vender produtos ou serviços.
Pesquisa divulgada pela Nielsen revela que somente nos últimos cinco anos o percentual de riqueza produzido por mulheres cresceu em 25% ao redor do mundo. As estimativas apontam, ainda, que aproximadamente 1 bilhão de mulheres devem entrar no mercado de trabalho nos próximos cinco anos. Para completar a importância dos dados, a agência J. Walter Thompson mostrou, em sua última pesquisa, que em 61% dos lares brasileiros a mulher é a grande responsável pela decisão de compra, desde artigos pessoais a compras domésticas. Somente no Brasil, 30 milhões de mulheres cuidam de seus lares e filhos sozinhas. E mesmo assim, a publicidade falha, às vezes, indesculpavelmente, na tarefa de entender as aspirações e desejos das mulheres. Por isso, quando decidir desenvolver qualquer estratégia de marketing para mulheres, é preciso fundamentar muito bem.
É visível e notório que o mundo está ganhando novos contornos sobre os hábitos de comportamento, e o marketing digital tem papel fundamental nesse processo acelerado de mudança, graças à democratização da internet que literalmente está à mão de todos. Afinal, atualmente, quase tudo é em formato virtual e digital graças às transformações tecnológicas e à pandemia de COVID-19, que impossibilitou o contato presencial.
Antes mesmo da pandemia, os dados sobre o acesso à internet já vinham em crescimento com destaque para a participação feminina. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) mostra que a cada 10 brasileiros, 8 possuem um smartphone com acesso à internet. O levantamento ainda revela que a utilização da internet em qualquer local cresceu de 74,7% para 78,3% no geral. Em homens, aumentou de 73,6% para 77,1%, enquanto que as mulheres registraram uma crescente de cerca de quatro pontos percentuais - de 75,7% para 79,3%. Entretanto, mesmo com crescente participação das mulheres na sociedade, a importância delas no mercado e o cada vez maior engajamento social pela igualdade de gêneros, até as marcas mais conscientes sobre o tema feminino, como a icônica Dove, com a campanha "pela beleza real", lançada em 1994, considerada o "marco zero" do femvertising, já erraram feio. A Dove sofreu duras críticas por um anúncio de sabonete líquido no qual uma mulher negra parece "se metamorfosear" em uma mulher branca. A marca acabou se desculpando ao reconhecer que não soube se expressar quando, na verdade, o produto seria apropriado para todo o tipo de mulher. O deslize, no entanto, deixou claro que a ação não foi planejada e pensada tendo em conta as dores do público.
Quem não se lembra, ainda, da trágica campanha da Skol no Carnaval de 2015 encorajando os foliões a "esquecer o 'não' em casa" durante a festa? A propaganda "viralizou” contra a marca com a modificação do tema para "Esqueci o não em casa... E trouxe o nunca". Milhares de cartazes em que a jornalista Mila Alves e a publicitária Pri Ferreira apareciam mostrando o dedo médio estendido foram espalhados.
No ano passado, o Burguer King também se envolveu em uma polêmica com a campanha “lugar de mulher é na cozinha”, no Reino Unido. Eles queriam dizer que o lugar podia ser na cozinha se fosse da vontade dela, em uma ação para expressar a falta de chefs mulheres. Você já pode imaginar a repercussão negativa que teve, não é mesmo? Uma enxurrada de críticas sobre a ideia forçou a agência deles a lançar uma linha de produtos, com todos os lucros revertidos para uma ONG que trabalha com ações relevantes para o tema feminino.
Outra marca cuja estratégia de "femvertising" também deu errado foi a Audi. Em 2021, a empresa pagou por 60 segundos no intervalo do Superbowl - a final do campeonato de futebol americano dos EUA - para mostrar como estava comprometida com iniciativas de igualdade salarial entre homens e mulheres. Só para constar: os intervalos do Superbowl são atualmente o espaço publicitário mais caro de todo o mundo, e, apesar das boas intenções, os ativistas foram rápidos em apontar a suposta hipocrisia no anúncio. É que, na época, a montadora não tinha nenhuma mulher entre os seis integrantes de seu Conselho, e só 16% dos diretores da empresa eram mulheres. O percentual ficava abaixo até mesmo dos 20% de mulheres que estavam em postos de comando nas 500 maiores empresas dos EUA listadas pela revista Fortune. Já a rival BMW tinha 30% de mulheres diretoras.
Apesar das gafes, muitas marcas têm sido exitosas em promover ações realmente impactantes e, com isso, tocar nossos corações promovendo mais do que vendas, mas engajamento. Por isso, principalmente quando se trata de estar na web, onde a opinião está liberada, você precisa estar preparado para conversar com seu mercado e não expor seu produto ou serviço ao risco. E mais: pode apostar que, onde estiver seu anúncio, as críticas, sejam elas boas ou ruins, serão expressadas nas redes sociais. Aliás, este é o principal espaço para consolidar sua marca com o seu público. Por isso, nunca menospreze o poder das redes.
Para começar, deixe de lado clichês e tudo o mais que fazia sentido para você até o ano passado. Recomece do zero com empatia e paixão pelo seu produto ou serviço. Estude seu mercado, estude o comportamento feminino e seu público central levando em conta a sua persona. Durante o processo, converse com suas avós, tias, mães, amigas, colegas de trabalho, mas também fale com suas filhas, sobrinhas, enteadas, afilhadas, filhas das suas amigas. É preciso compreender o abismo que existe entre essas gerações, dores e anseios de cada uma delas. Depois, coloque isso na sua mente e no seu coração, aplique todo seu ferramental teórico e implemente sua estratégia. E monitore tudo o tempo todo. Se errar, seja rápido para reconhecer, consertar e recomeçar.
**Erica Gomes é Partner da LC4 Comunicação, Marketing e Estratégia, empresa que compõe o ecossistema de negócios Startwp. Pós-graduada no MBA em Gestão de Pessoas e Liderança pela Fundação Getulio Vargas, bacharel em Jornalismo pela ESAMC-SP e técnica em TI pelo CEMEP-SP. Possui cursos de extensão em Marketing Digital, Métricas de Comunicação e Marketing, copywriting, é especialista em Marketing de Conteúdo, além de especialista em Produção de Conteúdo para a Web.
Por Erica Gomes
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