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28/08/2024 às 15h37min - Atualizada em 28/08/2024 às 15h37min

Por onde andam os líderes na geração “Plástico-Bolha”?

FONTE: Kariny Fortunato - [email protected]
Figura meramente ilustrativa - Reprodução Google

 
Vivemos em uma época peculiar. Enquanto a tecnologia avança, as oportunidades se amplificam para as novas gerações. Em outro artigo, citei a geração atual como “floco de neve”, mas fiz questão de mostrar o quanto - em vários aspectos - são mais beneficiados do que fomos. “Hashtag Inveja”? Para muitas coisas, sim! Para outras, neutralizando o cinismo de maneira momentânea, me resta preocupações.
 
Acredito que uma das preocupações mais pulsantes é sobre a intolerância à crítica e necessidade quase patológica de validação. Alguns especialistas apontam o dedo para a criação em ambientes superprotetores, o que afasta muitos jovens de enfrentarem verdadeiras dificuldades. Enquanto pai, confesso que há uma grande dubiedade entre o que sei que devo fazer e o que quero fazer. Nós estamos sempre nos esforçando para poupar do fracasso, da rejeição, da pressão, mas é justamente em ambientes de criticidade que evoluímos. Ou não? Sem essas experiências chegaríamos à vida adulta despreparados - mais ainda - para os rigores do mercado de trabalho, dos relacionamentos e, consequentemente, a equalização utópica dos coitadismos, nos afastaria completamente de qualquer aptidão mínima de para os desafios da liderança.
 
Certo. Até aqui, arroz com feijão. Eu sei, tu sabes, ele sabe, nós sabemos. No entanto, a história nos ensina que é precisamente em tempos de crise e em estados de exceção que os verdadeiros líderes emergem. Líderes são forjados no fogo das adversidades, nas batalhas contra a incerteza e o medo. O líder não nasce no parquinho do condomínio fechado, mas na necessidade de agir quando todos os outros hesitam. Historicamente, o líder nasce quando a normalidade é interrompida e há uma necessidade urgente de que alguém assuma a responsabilidade.
 
Puxa a cadeira aí e vamos olhar pra trás. Historicamente, líderes emergem em momentos de caos e incerteza. Winston Churchill, por exemplo, se destacou durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Grã-Bretanha enfrentava a ameaça existencial do nazismo. Lincoln liderou os Estados Unidos durante a Guerra Civil em uma das épocas mais divisivas da história do país. Pausa para explicação. Não importa o que você aprendeu na escola, esses líderes não eram apenas políticos, eram figuras que entenderam que seus papéis eram necessários naquele momento. Alguém tinha que fazer.
 
O estoicismo prega a resistência às paixões e a aceitação dos eventos como parte de um todo maior. Isso não significa se tornar uma máquina de metal. O estoicismo é praticamente a discussão da solução e não do problema. Pra frente que atrás vem gente. Mas assim também não deve ser a vida? Crises são inevitáveis e as pessoas estão sempre buscando com os olhos a quem seguir. Há uma ânsia tremenda por egrégora, por participar de uma tribo, por pertencimento, isto é essência da humanidade e em momentos de fragilidade de caráter e força como o que vivemos, qualquer mediano com o tom de voz certo pode vir a se tornar um espelho para muitos e é aqui que mora o temor maior, o qual pretendo compartilhar.
 
Vivemos em uma idiocracia embasbacada por uma cortina de fumaças onde as fragilidades se sobrepuseram às necessidades de olhar para o futuro com os pés no presente. Relacionamentos e ideais extremamente líquidos. A minha reflexão não tem a ver com a geração z, y ou beta. Tem a ver com a obviedade de que nossas escolhas, inclusive filosóficas, tem a ver com referências. Escolhemos sempre o caminho menos pior. Nossa medição é sempre referencial e comparativa e, isso, meu amigo, it’s a fucking problem. As habilidades de liderança estão sendo medidas com réguas de notas que não passariam em uma prova do primário.
 
A minha reflexão não vem como líder ou empresário, ela vem como pai, homem, pensador, ser existente. Quem guiará e quem será guiado? Algumas vezes penso que estão mais perdidos que Adão no dia das mães ou, se preferir, que político honesto no Brasil ou, ainda, que cupim em metalúrgica. Se a matéria-prima principal da liderança é, de fato, "gente", a equalização crowleyana foi um tiro no pé. Todos podem tudo, mas ninguém parece se propor a nada. Tal crença foi disseminada de tal maneira que chegou até aos púlpitos de igrejas, onde Deus é servo e está ali para atender pedidos da Coitadolândia.
 
Mas, tudo bem. Neutralizando o cinismo para encerrar um pouco mais otimista, o líder do futuro tem muitas armas - positivas - em suas mãos. Ele pode emergir não apenas em tempos e estados de exceção, mas para conduzir em tempos de paz. De todo modo, a artificialidade tecnológica não pode sufocar a humanidade de tal ponto que seres humanos continuem a sentir que o mundo lhes deve algo, assim como a gestão holística deve entender que equilíbrio é tudo.
 
A celebração da individualidade não deve ser mascarada por hipocrisia de bandeiras ideológicas falhas e líquidas e os novos líderes devem compreender a complexidade dos seres humanos, incluindo sua repleta gama de adjetivos bons e inacreditavelmente ruins. Despir-se para enxergar a nudez do próximo, este é o caminho.
 
Por Lucas Atanazio Vetorasso - CEO da ATNZO


 
 

 
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