05/08/2024 às 15h52min - Atualizada em 05/08/2024 às 15h52min
Exit row: saída de emergência
Retornando de Orlando, Flórida, para Campinas com a Azul Linhas Aéreas Brasileiras, no mês de julho, passo por uma surpresa inusitada.
Vou fazer o meu check-in. Aproximo da mocinha simpática e digo a ela que voluntario para me sentar na saída de emergência, em caso de alguma necessidade, pois fui comissária da United Airlines por mais de 10 anos [é um ato de boa vontade se oferecer para ajudar, em caso de emergência, durante o voo. Assim, somos doutrinadas nas cias aéreas americanas].
Ela, educadamente, se vira para mim e informa que não posso sentar na saída de emergência, pois tenho 60 anos (falou sem nenhum constrangimento, me deixando terrivelmente constrangida).
Eu comecei a rir. - Desde quando? Perguntei.
- Desde sempre.
- Não de acordo com as Leis americanas da FAA, eu questiono.
E ela: - Mas somos regidos pelas leis da ANAC, somos uma cia aérea brasileira.
- Mas estamos em território americano.
- Mesmo assim...
- Ok, concordei chocada.
- E quando as comissárias têm mais de 60 anos? O que fazem com elas? Jogam no lixo, descartam?
Pois não seremos jovens e belas eternamente em uma profissão extremamente extenuante no nosso corpo, nossa vida pessoal e no nosso psicológico.
Ela riu e concordou.
- A 30 mil pés, querida, você realmente desafia a Lei da Gravidade, e tudo cai muito rápido, diria mesmo, despenca. Só os aviões não podem cair... nossas rugas, pés de galinha, varizes, etc, etc... foi pro saco... um saco.
Esperando na área de embarque, fui ao Google consultar a veracidade da afrontosa Lei. E lá estava: “idosos de 60 anos não podem ocupar as saídas de emergência”.
Imediatamente fiz um print e enviei a todos os meus colegas de profissão, todos na ativa. Foi um susto geral.
Ou seja, aos 59 anos você é ainda capaz de operar uma porta de emergência. Aos 60 anos, número mágico, criado por não sei quem, você se torna incapaz.
Nesta lei da ANAC podemos ver, ler claramente uma declaração preconceituosa de ETARISMO e INCAPACITISMO. E preconceito é crime.
Mas veja bem, nos EUA isso seria ilegal de fato. As normas da FAA (Federação Americana da Aviação) jamais escreveriam um disparate destes.
Porém, a clausura da ANAC, reflete a mentalidade do Brasil, um país permeado de preconceitos vários.
Outro dia no Instagram, vi um post de aniversário de 86 anos de um senhor muito elegante, lúcido e feliz. E me pergunto: quem é que tem o direito de impor limites nas pessoas, baseado em números aleatórios? Gostaria de saber. Provavelmente pessoas sem visão, sem bom senso e sem experiencia de vida.
Mas acabei deixando pra lá. Vou usar o sistema a meu favor. Da próxima vez que viajar, vou até pedir cadeira de rodas. Principalmente se o aeroporto for o MIA internacional ou IAD, Washington Dulles. Porque vamos combinar... ninguém merece andar tanto entre um gate e outro, depois de uma viajem de 8 horas.
When in Rome, do like the romans.
Por Rita Freitas - Ex-comissária de bordo da United Airlines
E-mail: Rita Freitas - [email protected]
NOTA DA REDAÇÃO - Rita Freitas é de Belo Horizonte (MG), onde se formou em Letras pela UFMG. É atriz profissional pelo SATED MG. Escritora registrada na SBAT. Foi morar nos EUA em 1987 e se tornou comissária da United Airlines, fazendo uma carreira internacional na aviação americana. Está radicada em Poços de Caldas desde a pandemia do Covid-19. Morou em Los Angeles, Chicago, Nova York, Miami, Washington DC e Roma (Itália). Escolheu Pocos de Caldas, pois se encantou com a beleza, gastronomia e cultura da cidade.