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Algumas palavras sobre São Thomé das Letras

Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
19/05/2025 15h12 - Atualizado há 1 dia

 

Era inevitável. Minha paixão pelas palavras (muitas vezes, não correspondida) iria me levar, um dia, a São Thomé das Letras, no sul das Gerais. Optei por inserir o “h” no nome, embora desde 2020 o IBGE tenha determinado o Thomé sem o “h”. Contudo, no letreiro, logo na entrada da cidade, consta em letras garrafais, do ponto (.) turístico: “SÃO THOMÉ DAS LETRAS”.
Então, só para contrariar, vai com “h” IBGE, com sonoridade e respeito.

Como nunca tinha ido, utilizei o Uaize (ou seria Waze?), que verdadeiramente, não tem nada de mineiro, pois não gosta de prosear e, prático e objetivo, só me ordenava: “Em oitocentos metros, saia na segunda saída”. Confesso que, por tantas curvas, cheguei já meio zureta.
Na estrada, a alguns quilômetros de distância, já era possível ver a cidade em um platô. Pensei: seria pouso de discos voadores?
Além disso, a cor predominantemente branca (resultado da extração das pedras), me induziu a pensar em um lugar místico, enevoado, misterioso, com bruxas e duendes. “Só vendo para crer”, como nos ensinou São Tomé.

Cheguei, controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez, como ensinou o mestre Raul, na ideia de que seria não apenas uma viagem turística, mas interplanetária, se é que me entendem.
Imaginei até um carro de som rodando pela cidade: “Pamonha, Pamonha, Pamonha”, a gente pira e se acaba. Qualquer semelhança com outra palavra em rima, não será mera coincidência.

Buscando entender o topônimo (origem de um nome geográfico e, nesse caso, porque a cidade fica no topo), usei a minha BI, burrice intelectual, através da IA. O nome do município deve-se a uma lenda sobre o suposto encontro, no final do século XVIII, de uma estátua de São Tomé, em uma gruta por um escravo, João Antão, juntamente com uma carta de escrita perfeita (impossível a um analfabeto). Já o “das letras” refere-se ás inscrições rupestres (ou seria extraterrestres?) na gruta onde teria sido encontrada a estátua.

Então, assim que cheguei, lembrei-me imediatamente de Drummond, que talvez tenha se inspirado na cidade, quando escreveu. “No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho”. Aliás, estando lá, atualizaria a frase: no meio da pedra tinha um caminho. Isso porque é possível encontrar pedras de todos os tipos, notadamente a de São Tomé, utilizada em piscinas, calçadas e fachadas. Fiquei curioso para saber se os quase 8 mil habitantes da cidade, teriam pedras nos rins, ou na vesícula...hehe.

Vale dizer que melhor é ir no centro de 4 x 4, já que você pode voltar mais alinhado com a vida, porém, depois de rodar pelas ruas, seu carro precisará, certamente, de alinhamento e balanceamento. Melhor é andar a pé e, pelo sim pelo não, com fé, pois essa não costuma faiá.

Como era fora de temporada, muitas pousadas, restaurante e lojas estavam com suas portas fechadas e havia um silêncio ensurdecedor nas ruas. Contudo, a cidade pulsava de andarilhos, viajandões, pessoas simples, atendentes e turistas como eu. Alguns até futuristas, diria.

Para finalizar texto tão obscuro, repleto de vielas e pedregulhos, penso que o misticismo é sim, um produto à venda em qualquer esquina em São Thomé. Embora “yo no creo em brujas, pero que lás hay, lás hay”, acredito que vale muito a visita a São Thomé pelo charme rústico que a cidade oferece.
A cidade nos possibilita sair, ainda que na consciência do apelo turístico, mesmo por pouco tempo, das pedras da materialidade e do consumismo.

Valeu a viagem para São Thomé, principalmente, pelas pessoas que encontrei por lá. Pude perceber que, na evolução em que estejam, a seu modo, erradas ou certas, elas parecem desejarem achar um tipo especial de pedra: a filosofal, em busca da perfeição, iluminação e bem-aventurança. Desejam encontrar o segredo da vida, “vendo as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar”.

 

 

*O Brand-News não se responsabiliza por artigos assinados por nossos colaboradores


FONTE: [email protected] - FOTO: Acervo pessoal
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