Vamos despir a fantasia.
O carnaval de ontem: o do corso e das marchinhas, lança perfume, confetes e serpentinas, Pierrôs e Colombinas, dos bailes de salão, só existe na memória emocional de quem passou dos 40.
Certo, vivemos a moda retrô e tentamos retroceder no tempo buscando eternizar a “inocência” dos carnavais de outrora.
Ô abre alas que o passado quer passar.
O carnaval do presente tenta ser o carnaval do passado. Tudo muito válido, pois desejamos verdadeiramente reviver a Máscara Negra que nos transformava em mais de mil palhaços no salão.
É como se olhássemos um álbum de fotografias e buscássemos repetir no presente e com recursos digitais de Photoshop e Instagram, o que um analógico filme fotográfico registrou décadas atrás em preto e branco.
O carnaval de outrora foi um rio que passou e as águas estão rolando de maneira diferente.
Se você fosse sincera, Aurora, admitiria que não dá mesmo para que isto ocorra. Já não somos os mesmos, o mundo mudou.
Há tempos, a passarela do samba foi invadida pelo capital na Festa do interior. Os patrocinadores é que são os destaques na avenida e os camarotes, locais disputados por aqueles que desejam os holofotes da fama.
Taí, muitas escolas de samba viraram universidades no show business da passarela. Até a quarta-feira de cinzas já não traz a tristeza dos dias de outrora.
Definitivamente, não se fazem mais carnavais como antigamente, e por mais que cantemos marchinhas, reconheçamos: o universo mudou a marcha.
Temos fome de alegria e parece-nos que em outros carnavais ela nos saciava, pois era servida quente para todas as classes, sem rótulos, nem marcas.
A alegria contemporânea é produto que se vende em embalagens diferenciadas durante o ano todo e o carnaval é apenas mais uma na gôndola do prazer.
Em todo este cenário, só nos resta uma certeza: o Me dá um dinheiro aí é enredo dos carnavais do século XXI. Mas, haverá certamente um folião, que em passos lentos, cantará seu lamento na avenida. “Confete, pedacinho colorido de saudade, ao te ver na fantasia que usei, confete, confesso que chorei”.
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