Estava, como centenas de pessoas, pelas ruas centrais de Poços durante a enchente que atingiu a cidade em janeiro de 2016.
Senti, como muitos, um misto de tristeza, desolação e impotência.
Em meio a lama e lamentos, carros empilhados, estabelecimentos comerciais inundados e mercadorias sendo levadas pelas águas, pude perceber, além do murmúrio das vozes que comentavam a tragédia, um silêncio inquietante como estivéssemos todos em uma mesma procissão de dor. Inevitável perceber que o slogan “cidade das águas”, naquele momento, nos sinalizava conotações muito diferentes daquelas enaltecidas pelo turismo termal.
Impossível não se sensibilizar com proprietários de lojas, colaboradores e pessoas anônimas solidárias que tentavam juntas, ao retirar a lama, ao limpar o chão, ao recolher mercadorias, minimizar os prejuízos diante de tantas perdas e danos.
Pensei então, como muitos, nos possíveis motivos que provocaram tal tragédia e também nas limitações humanas diante das forças da natureza. E se águas rolaram pelas ruas e avenidas, se muitas lágrimas rolaram pelas faces, o que contabilizar diante de tudo aquilo que os nossos olhos registravam?
Passados alguns anos, o momento hoje é de fortalecer a nossa consciência sobre nossas ações no cotidiano, as ações do poder público, o cuidado com as nossas nascentes e a ação permanente de limpar rios e córregos que circundam a cidade.
Á água é um elemento que tem entre as suas funções a de limpar o que se encontra sujo. Nesta premissa, fundamental não promover a “caça às bruxas”. Todos nós, uns mais, outros menos, temos nossa parcela de culpa e cometemos nossos pecados diários, ao lançar dejetos nos rios, ao fazer ligação irregular do esgoto nas redes pluviais, ao poluir nossas matas, ao não deixar “respirar” a natureza.
Que a triste lembrança da enchente em 2016, seja instrumento de reflexão inundando a consciência de todos, para repensarmos nossas ações diárias de descompromisso com a natureza e com o futuro da cidade.
“Água que nasce na fonte serena do mundo e que abre um profundo grotão. Água que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão”- (Planeta Água - Guilherme Arantes)
*O Brand-News não se responsabiliza por artigos assinados por nossos colaboradores