Angela Caruso e Mônica Miglioranzi Frison: "O melhor da SIC pode ser o café, mas antes dele, as pessoas!"
Batom na Xícara aterrissou na Semana Internacional do Café (SIC), em Belo Horizonte, na última quinta-feira, para registrar uma das maiores feiras do mundo quando o assunto é café. Um evento anual que promove o encontro de profissionais ligados ao café em toda cadeia de produção: da semente à xícara, gerando oportunidades de acesso a mercados, negócios e conhecimento. O evento acontece em três dias, sempre no mês de novembro, em Belo Horizonte (MG), maior estado produtor de café do país. Durante esse período, uma agenda repleta de workshops, competições, palestras, cursos, pesquisas... e muito café para ser degustado.
Podíamos resumir a SIC com uma única expressão: muita emoção! Lá dentro, um mundo “conectado pelo café”. Só gente boa! Só pessoas especiais!
Este foi o Lugar de Café que escolhemos para a coluna deste mês. Os convidados? Todos que cruzaram nosso caminho, nos abraçaram e nos serviram um café. Muita gente! Tantas histórias incríveis que infelizmente não temos espaço aqui para registrar. Parecia que havíamos chegado numa grande festa! Cada um que nos reconhecia gritava, pulava e chegava de braços abertos para o abraço. Quem ainda não nos conhecia, fazia festa também, e servia café e tirava foto.
Flow é uma expressão usada para definir um estado mental avançado quando estamos totalmente absorvidos numa atividade que nos traz prazer, conexão e satisfação. Foram oito horas neste Lugares de Café, em estado de Flow! Sem lembrar que era preciso parar um pouco, descansar o corpo, alimentar-se, usar o banheiro. Oito horas provando café de todas as regiões produtoras do país, preparado e servido por seus produtores, ouvindo suas histórias e criando novas conexões. Oito horas num Lugar de Café que reúne histórias de superação, de sucesso, de compromisso com qualidade... E, principalmente, pelo amor e respeito à tarefa de produzir café.
O que chamava atenção eram as mulheres, muitas mulheres à frente da produção de cafés especiais. São mães, filhas, netas, esposas que cada vez mais ampliam conhecimento e expertise, da semente à xícara. Algumas conquistaram espaços sozinhas com apoio da família, outras em cooperativas. A maioria herdeira de lavouras, que investiram em qualidade e hoje produzem Cafés Presidenciáveis - cafés especiais acima de 90 pontos - e ganham concursos e mercado externo. Elas também marcam presença à frente dos torradores de café, como provadoras, avaliadoras, baristas...
Infelizmente não teríamos espaço nesta coluna para revelar todas as histórias, porém, num compilado, vamos dar destaque, especialmente aos produtores da nossa região e seus feitos nesse evento.
O primeiro abraço foi de Roberta Bazilli - produtora do Café Bazilli, em Caconde, Região Vulcânica, nossa parceira -, que nos contou das dificuldades de participar do concurso de torra pela primeira vez. Alegria maior, quando na sexta-feira seu nome foi anunciado: 2º. lugar no Concurso de Torra 2024. Roberta tem dedicado a vida ao café especial, é agora nossa Musa da Torra, além de toda admiração que temos por sua trajetória. Alegria em dobro nessa família: Theo, seu filho de 9 anos, recebeu o troféu de 2º. lugar no Concurso Espresso Design - que premiou os melhores design de embalagem de café - com a embalagem de seu café Dino Coffee. Theo e a mãe Roberta vivem sozinhos no sítio. Desde pequeno, esta mãe tem dado a oportunidade para que o filho cresça junto à natureza e aprenda os caminhos da cafeicultura. Quando ele tinha anos, ela resolveu presenteá-lo com uma marca própria para os nanolotes produzidos no sítio e Theo escolheu o nome Dino (nem precisa dizer que ele adora dinossauros). Foi ele quem deu as coordenadas de como deveria ser a estampa na embalagem que concorreu ao prêmio.
Outro produtor que merece destaque é Ivan Santana. Ivam começou quase com o Batom na Xícara, lá em 2019. Foi um dos primeiros produtores de Cabo Verde (MG) a nos enviar amostras do café para participar da seleção da nossa equipe de curadoria e ter seu café, todos os anos, nos kits para os assinantes. Ivan foi campeão de torra em 2023. Ele produz café de altíssima qualidade junto com a família - pai, mãe, esposa e o filho de 4 anos, mais conhecido como o Gerente. Ivan criou uma embalagem com uma estampa do filho. A proposta é de que cada pacote do Gerente vendido, a quantia vá para uma aplicação financeira garantindo os estudos do garoto. Ivan, simpatia e cordialidade, é um nome respeitado no meio e somos muito gratas em tê-lo como parte da nossa história.
Ilma Franco é a produtora do café Rosa Franco. Ela também é parceira do Batom na Xícara, nossa amiga, nossa mestra. Ilma esperou que os filhos estivessem formados e soltos no mundo para dedicar-se à carreira profissional. Depois de longa temporada morando no Estado de São Paulo, volta a Campestre (MG), Região Vulcânica, para plantar café. Fez cursos de todo tipo e aprendeu manejos eficientes e a produzir café especial. Criou a marca, aprendeu a arte da torra e hoje é a queridinha das feiras e festivais de café. Uniformizada e o sorriso estampado no rosto, ela recebe todos que passam pelo estande, abraça, pega na mão, leva para tomar café, conta história... Ela é a imagem do Rosa Franco Café, uma cafeicultora muito respeitada por onde passa.
Gizela Jacomini Junqueira e a mãe Clineida são produtoras de café da Fazenda Santa Maria, Águas da Prata (SP). Ambas foram classificadas para a final do Prêmio Florada de Café, organizada em parceria com a Três Corações. Gizela, com o café Santa Maria, já conquistou vários prêmios desde que passou a investir em café de qualidade. Neste mês, participou do 4º Concurso Qualidade dos Cafés da Região Vulcânica e recebeu o prêmio de 3º. lugar na categoria Via Seca. Este ano, alegria em dobro, o café Dona Clineida, da mãe, também foi para Belo Horizonte. Ambas agraciadas com troféus por estarem entre os 20 melhores cafés produzido por mulheres.
Vale destacar a presença de outra mulher que nos encheu de orgulho pelo trabalho que desenvolve em terras paranaenses. Conhecemos Celene Viana no estande dos Cafés Especiais de Cabo Verde, quando fomos abraçar nossos amigos Leandro Reis, do Sítio Córrego Fundo, e Laís Podestá, produtora do Café Podestá. Celene tem uma torrefação em Cianorte (PR) e coordena um roteiro de experiencia de café em cerca de 15 cafeterias de Maringá (PR). Cada uma oferece o café num método diferente, num ambiente com características especificas ou com utensílios diferenciados. Um exemplo é a experiência “casa da Vó”, o mesmo café preparado no coador de pano e num filtro de papel V60 para comparações das percepções sensoriais. Celene, uma entusiasta do mundo do café especial, levando o café da Região Vulcânica para as cafeterias maringaenses.
Cafés, cafés, cafés! Uma surpresa feliz foi degustar os sabores dos cafés e conhecer as pessoas incríveis das montanhas do Caparaó (do guarani “águas cristalinas que descem a montanha"), região que abrange nove municípios entre os estados de Minas e Espírito Santo. Com terroir diferenciado, os cafés da região, inclusive da espécie canephora, variedade conilon, muito produzido em terras capixabas, seduziu nosso paladar. Conilons com sensoriais exóticos como cajá, jaboticaba e caramelo. E um arábica que na boca lembra milho verde, lançamento da D. Rosa Helena Vieira - Sítio Cordilheiras do Caparaó, Iúna (ES) -, o café da Rosa e Café da Ester, sua netinha. Ester é filha de Douglas Cordilheiras, todo empenho desses adultos é na sucessão familiar: respeito com a terra e compromisso com a qualidade dos grãos. Uma família que vem recebendo prêmios significativos nos concursos nacionais e internacionais.
Era muita gente! Era muito café! Cerca de R$ 80 milhões de negócios iniciados, 25 mil visitantes de 36 países, 180 expositores. Uma SIC que bate recordes e se posiciona, na cafeicultura global, como uma das principais plataformas de negócios e inovação.
Quase no final do dia, dois encontros marcantes, duas lindas jovens cafeicultoras, uma delas, Tamires Ribeiro - Café da Tamires, de Andradas (MG), também da Região Vulcânica, parceira Batom na Xícara que nos esperava com amostras da nova safra, e Dislaine Estevão, Café Soberano, de Espera Feliz, município do outro lado do estado, quase divisa com Rio de Janeiro e Espírito Santo. A jovem, tecnóloga em cafeicultura, especialista em qualidade e degustação de café, ainda produz muito pouco, porque, segundo ela, faz tudo sozinha. Dislaine usa as redes sociais não só para divulgar seu produto, mas para dar orientações técnicas sobre plantio, colheita e qualidade dos grãos. Provamos um café delicioso e esperamos tê-la como parceira para os kits de 2025.
Difícil dizer quanto café provamos, quantos abraços ganhamos, quantos novos amigos conquistamos, assim como mensurar o significado de estar nesse Lugar de Café. Enfim, o melhor da SIC pode ser o café, mas antes dele, as pessoas! Certamente, as malas da equipe Batom na Xícara já estão prontas para 2025!
SIC - Semana Internacional do Café De 20 a 22 de novembro, 2024 Belo Horizonte, MG
Angela Caruso e Mônica Miglioranzi Frison: "O melhor da SIC pode ser o café, mas antes dele, as pessoas!"
