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26/11/2024 às 15h11min - Atualizada em 26/11/2024 às 15h11min

A poesia do frugal

Lauro A. Bittencourt Borges - cronista gastronômico, viajante compulsivo e membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista
Instagram: @lauroborges
Bolinho de bacalhau do Dito prova que a humanidade (ainda) não está perdida

 
Há algo fascinante nas descobertas gastronômicas que estão recônditas em pequenos estabelecimentos, onde o acepipe autêntico, dos deuses, nasce da simplicidade e da alma de quem cozinha. É ali, na estufa do bar puído de esquina ou na lanchonete com cardápio rabiscado, que está aquele petisco que a plebe trabalhadora pede no fim do expediente: um torresmo crocante, uma coxinha receita de família ou uma empada de frango que nos faz crer que a humanidade (ainda) não está perdida. Esses beliscos do underground carregam tradições, até que, de repente, saem do anonimato e ganham o olhar do mainstream. Tornam-se cult e viralizam no Instagram, mas não perdem charme genuíno de suas origens. É o êxito do despojamento, a poesia do frugal.
 
Vai daí que um certo bancário, metido a cronista, glutão incurável, segue firme na exploração das trilhas aromáticas e condimentadas da região. Sintam o cheiro da narrativa - com o perdão do trocadilho sofrível - do Dito cujo!
 
Nivaldo Ferreira, o amigo paulistano-pratense, deu a dica num tom quase de súplica. Acatei sem vacilar a sugestão que atiçou meus instintos com algumas palavras-chave irresistíveis: bolinho de bacalhau, camarão, Mercadão, botequim, chope, Poços. A coisa toda, numa tarde quente de sábado, rolou na Mercearia do Dito, cujas mesas na calçada têm vista privilegiada para o Cristo. No lado externo do Mercado Municipal de Poços, desde 2019, Dito e seu time, de segunda à segunda, servem a freguesia num espaço despretensioso que mistura informalidade, movimento de rua, comércio popular, cerveja gelada e, principalmente, comida boa. O bolinho de bacalhau e a porção de camarão que protagonizam esta publicação devem, obrigatoriamente, figurar em qualquer enciclopédia dedicada aos melhores deste pedaço vulcânico.


 
O poços-caldense Benedito Aparecido Silva de Oliveira, 61 anos, rodou o Brasil pra ganhar o pão. Voltou ao torrão natal para vendê-lo, para ser o velho Dito do bairro Santana. Regressou para replicar em seu boteco o espírito do Mercadão de São Paulo, o lugar que mais influenciou sua paixão por temperos e sabores. Retornou para triunfar e fazer história.
 
Mercearia do Dito
Mercado Municipal de Poços de Caldas, MG
Segunda a sábado, das 9 às 18h
Domingo, das 9 às 14h

   

 
 
 
 


 
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