05/11/2024 às 15h41min - Atualizada em 05/11/2024 às 15h41min
Três Batalhas: montanha, vinho e arte
Lauro A. Bittencourt Borges - cronista gastronômico, viajante compulsivo e membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista
Instagram: @lauroborges
Josi Borges, Geraldo Dezena, Angela Bonfante e o colunista. Um brinde com o Sauvignon Blanc da Três Batalhas
Um passeio pelas altitudes do meu quintal geográfico e afetivo num sábado de clima pouco amigável. Agradável, ao contrário do céu plúmbeo, foi o encontro com os amigos emoldurado pela mais cinematográfica das paisagens deste torrão. Da prosa solta em volta da mesa generosa, das afinidades, das bençãos de Bacco, dos efeitos das taças, enfim, desse caldeirão de prazeres veio a luz para a crônica que segue.
Geraldo Dezena, natural de Águas da Prata, e Angela Bonfante, de São João da Boa Vista, uniram suas existências em uma caminhada marcada tanto pela dedicação profissional quanto pela valorização das culturas locais onde viveram. Seus destinos se cruzaram no Banco do Brasil, onde Geraldo trilhou uma carreira de sucesso, ascendendo a postos importantes, como superintendente estadual na Paraíba e Bahia, até alcançar a vice-presidência de tecnologia da instituição. Angela, por sua vez, levou para a vida de Geraldo sensibilidade, talento e energia criativa como artista plástica inquieta que é. Formaram uma família com três filhos e, na estrada, aproveitaram a vivência nômade como bancários em aprendizado, estímulos e conquistas.
Após a aposentadoria, no período da pandemia, decidiram consolidar ainda mais suas raízes, adquirindo uma pequena gleba nas montanhas de Águas da Prata. Ali, na plenitude da Serra da Mantiqueira, cercados pelo verde abundante, refundaram aquele naco de chão como Sítio Mirante Azul, um refúgio de paz e inspiração para novos projetos. Um deles - nascido do hábito de Angela de fermentar e engarrafar safras domésticas -, é a produção de vinhos sob o rótulo Três Batalhas, uma homenagem à Revolução Constitucionalista de 1932 - na qual a região, situada na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, foi palco de intensos combates -, bem como aos antepassados italianos do casal e à tradição vinícola de seus clãs.
Com devoção e pesquisa, Geraldo e Angela usam a técnica da poda de inverno (ou poda invertida) para produzir néctares Syrah e Sauvignon Blanc, elaborados a partir das frutas colhidas no próprio domínio serrano. O solo vulcânico da região, rico em minerais e memórias, confere à bebida características singulares, que refletem tanto a riqueza e a alma da terra, o chamado terroir, quanto o empenho e a biografia de seus produtores. No Sítio Mirante Azul, eles não cultivam apenas uvas, mas também perpetuam o legado de seus ancestrais e a paixão pela lida no campo. Assim, a história se renova, e uma nova geração de viticultores emerge, juntando passado e presente, Itália e Brasil, trabalho árduo e poesia.
E falando em poesia, é necessário reproduzir a bela obra de autoria de Paulo Tó, compositor maior e filho do meio dos neo-vinhateiros, que está gravada nas garrafas da marca. Sintam!
Um soldado pisando com cuidado as terras altas entre São Paulo e Minas:
“Espera, soldado, espera um momento!
Olhe a colina, sinta o vento fresco da mata!”
E então o soldado, naquele doce delírio, estafado da guerra,
sonhou que o vermelho,
descendo nas águas da serra,
em vez de sangue,
era vinho!
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