Eu nasci há pouco tempo. Uns tantos poucos dias atrás. Parece que foi ontem. E eu já estou ficando velho! Só não estou muito velho porque eu acho que nasci há pouco tempo atrás. Todavia, quando tento medir o meu tempo, eu me assusto com o tanto que ele se encompridou. Que galope maluco tem sido a minha vida! Eu nasci no dia 16 de novembro de 1945. Parece que foi ontem! E lá se foram 79 anos. Tão perto e tão distante! No meu peito bate ainda um coração menino. Um velho coração menino. Como escreveu Mário Quintana: “Lá se foram 60 anos. É tarde agora. Já não há tempo para tirar o diploma”. Sou um eterno aprendiz da vida.
Nos lombos do meu alazão seguirei galopando pela estrada, que começou ainda ontem, mas já vai longe, apequenando-se na distância. Na minha lembrança, muitas fotografias estampam-se e ganham movimento quando penso na longa e tão curta estrada que já percorri. Acho que nasci num momento interessante, quando do alvorecer da mais maluca evolução. Evolução tecnológica, evolução científica, conceitual, evolução da consciência popular. No decorrer desse tempo que permeia o meu nascimento o entanto, e os surpreendentes 79 anos, aconteceu também o “estouro da boiada”. Efeitos colaterais de uma globalização insana, modismos resultantes das ideias lançadas a esmo pelos veículos formadores de opinião. Assim, em tão pouco tempo, tão pouco que eu pude vivenciar, coisas boas foram sendo abolidas, apagadas, abandonadas, por conta de uma banalização de princípios pejorativos, normatizando a vulgaridade. O amor perdeu sua plenitude e banalizou-se nos imediatismos. O sexo perdeu sua intimidade e banalizou-se na pornografia escancarada. O respeito humano tornou-se piegas e banalizou-se nos individualismos e nos imediatismos dos desejos. O poder já não se lembra do idealismo, banalizando-se nas corrupções. A justiça perdeu o senso da igualdade de direitos e rendeu-se aos subterfúgios das pretensas razões, comumente abalizadas pelo poder. A vida, maior de todos os direitos, banalizou-se pela impunidade e pela covardia da justiça.
Eu nasci há tão pouco tempo e já faz tanto tempo que nasci! Por isso sinto saudade... Saudade da linguagem vibrante do olhar, da magia do toque, da sensualidade escondida. Sinto saudade do respeito humano, da sabedoria do poder, da ingenuidade da criança, do poder da palavra, das janelas sem grade. Sinto saudade do arrepio pelo primeiro beijo. Sinto saudade da verdade. Hoje eu tenho 79 anos... E eu que nasci há tão pouco tempo, fiquei velho e nem percebi a velocidade da vida.
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