Irarema: o vulcão descansa, o azeite corre

Lauro A. Bittencourt Borges - cronista gastronômico, viajante compulsivo e membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista
25/03/2025 15h35 - Atualizado há 6 dias
Irarema: o vulcão descansa, o azeite corre
Mauricio Carvalho Dias bancou um sonho e, hoje, produz um dos melhores azeites do Brasil

 

Na região vulcânica em que São Paulo encontra Minas - o município é São Sebastião da Grama, mas o coração bate forte em Poços de Caldas - a Fazenda Irarema se espalha entre montanhas guardando dádivas oleosas. O que era para ser apenas um refúgio de moradia para a família de Maurício Carvalho Dias virou, sem querer querendo, um polo de azeite premiado e turismo rural. O sujeito foi buscar sossego e acabou encontrando oliveiras, prêmios e uma legião de turistas e foodies de olhos brilhando e pão na mão, prontos para provar a lava dourada que escorre da casa.

Tudo começou em 2016, quando Maurício decidiu plantar oliveiras. Antes mesmo da primeira safra, resolveu investir em uma planta de extração, confiando no projeto como quem aposta em receita de avó: sem erro. E não é que deu certo? A ideia pegou tanto que os vizinhos também se animaram a cultivar oliveiras, e a região passou a sonhar com um novo sobrenome: “Toscana Brasileira”. Exagero? Talvez. Mas quem prova o azeite da Irarema sente que o sonho tem fundamento.

Em 2018, com duas safrazinhas modestas nas costas, decidiram mandar o azeite para o New York Olive Oil Contest, sem grandes expectativas. “Vamos ver o que eles acham”, pensaram. Pois bem, Nova York não apenas aprovou, como elegeu o Irarema Blend Suave o melhor do mundo na categoria. A família acordou famosa, o telefone tocava sem parar (telefone ainda toca?), e a fazenda virou ponto de romaria para apreciadores do bom azeite. Uma curiosidade: a aduana brasileira tentou taxar o troféu vindo dos EUA. A peça só foi liberada depois que provaram, com paciência e bom humor, que era um prêmio azeitado, não contrabando de luxo.

De lá para cá, a coisa tomou proporções sérias. O olival cresceu, de 5 mil para 20 mil pés, e a produção pulou em 2024 para 100 toneladas de frutos. O azeite não apenas se multiplicou, como ganhou variações: frutado, defumado e aromatizado com alecrim, alho, limão siciliano e manjericão. Um cardápio para deixar qualquer salada azeitada de emoção.

Moacir Carvalho Dias, filho, é o cara do azeite na Irarema. Formado em engenharia civil, se especializou em oleotecnia em Portugal e na Espanha, trazendo conhecimentos técnicos essenciais para a qualidade do produto. Reza a lenda que ele já foi DJ por aí. Dos bons! Dizem que seu som azeitava festas como nenhum outro.

O óleo de avocado/abacate entrou para o portfólio da marca em 2022. Com mais pesquisas e investimentos, a fazenda elevou o azeite da fruta a um produto gastronômico de excelência, consolidando o rótulo Irarema como o maior do Brasil no segmento.

Com tanto sucesso, a fazenda virou destino de passeio. Aos fins de semana, centenas de visitantes sobem a serra para conhecer o processo de produção, saborear azeites e, claro, almoçar ou lanchar com aquela vista de tirar o fôlego. A área de vendas, degustação e café não é apenas um espaço funcional, mas um espetáculo à parte: um prédio de design arrojado, onde madeira, ferro e vidro se entrelaçam em harmonia, criando um diamante arquitetônico no meio das oliveiras. Um cenário que convida não apenas à contemplação, mas ao prazer de viver a experiência em todos os sentidos.

O restaurante e a cafeteria estão sob os cuidados da filha Gabriela, enquanto Mônica, a mãe, gerencia uma linha de cosméticos à base de oliva. Na confeitaria, Lídia adoça a experiência com bolos e doces tão caprichados que dá pena de comer. Mas a gente come.

E no alicerce de tudo isso, ainda está o patriarca Maurício, 76, o homem que trocou a paz de um retiro pelo frenesi de um sonho bem-sucedido. Seu legado é uma estância que não apenas produz azeite, mas também alimenta histórias, encontros e memórias.

A arquitetura, as cores, os aromas, o entorno de natureza, o clima de montanha. Impossível não se envolver, não se apaixonar, não se embasbacar com o conjunto da obra.

Josi Borges no primeiro brunch na Fazenda Irarema (maio de 2019): um empório com tesouros gastronômicos da região


FONTE: Instagram: @lauroborges
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