01/10/2024 às 13h11min - Atualizada em 01/10/2024 às 13h11min
Achocolatada lembrança
Lauro A. Bittencourt Borges - cronista gastronômico, viajante compulsivo e membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista
Instagram: @lauroborges
Lauro e Josiane Borges em Vevey, Suíça (maio 2018); à direita, a sede da Nestlé
Moleque, fim dos anos 1970, eu tomava café da manhã lendo os rótulos da escassa variedade de itens à época. Na maioria das vezes, Claybom Cremosa e Nescau eram os únicos objetos de leitura matinal à mesa do infante glutão. Vez ou outra, o requeijão Poços de Caldas estava também por ali, para ser lido e lambuzado nas bengalas da padaria da Dona Elza. O leite era gordo, o café era Negrito e a Tereziano Valim era deliciosamente residencial.
Na lata do clássico achocolatado Nescau, um nome curto, simpático e sonoro me fazia viajar na imaginação: Vevey. A cidade suíça onde fica a sede da colossal Nestlé. Idealizava o lugar com aquelas paisagens helvéticas de calendário. Vaquinhas em verdes pastagens, chalés, céu azul, cheiro de chocolate e picos nevados.
Corta para maio de 2018. O dia 12 terminava. Depois de um almoço inesquecível na francesa Yvoire e de passeios lindos pela região do Lago Léman, Josi quis fazer uma parada rápida em Vevey. Ela também sonhava conhecer a cidade mencionada nas latinhas de leite condensado.
O pit stop foi de menos de hora. Injusto julgar Vevey pelos poucos minutos passados no entorno da matriz da Nestlé num fim de tarde chuvoso, mas aquele prédio moderno, aquelas ruas vazias, aquela arquitetura triste, fria e sem charme, aquele silêncio, nada daquilo tinha o gosto de infância, o gosto de Chokito, o gosto gostoso de assistir Sessão da Tarde comendo Leite Moça com Nescau.
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