24/09/2024 às 13h42min - Atualizada em 24/09/2024 às 13h42min

Guiomar Novaes e o quadragésimo sétimo setembro colorido

Lauro A. Bittencourt Borges - cronista gastronômico, viajante compulsivo e membro da Academia de Letras de São João da Boa Vista
Instagram: @lauroborges
Teatro Municipal de São João da Boa Vista

 
Feito homem numa família de políticos e militantes, Nelson Mancini Nicolau ingressou precocemente na vida pública. Assumiu a cadeira de vereador na Câmara de São João da Boa Vista em 1972, com apenas vinte e cinco anos de idade. Sua sigla era o MDB, o partido que fazia oposição à Ditadura naquela pesada década em que o país era governado por generais.
 
Um grupo sanjoanense de jovens idealistas, em 1976, concebeu a candidatura de Nelsinho a prefeito. Ele enfrentou a Arena (agremiação que dava suporte aos militares no poder), o conservadorismo da província e os nomes tradicionais da política na cidade. Contrariando prognósticos, foi eleito com larga margem por um eleitorado que clamava por mudanças e novas práticas de gestão.
 
A Cultura foi uma das prioridades do governo comandado por aquele rapaz que assumia cheio de gás o Executivo do seu torrão natal. Democratizar o acesso à arte era urgente. O nome de Guiomar Novaes, a pianista crepuscular mundialmente reconhecida, teria que ser usado para dar visibilidade às propostas da pasta. Depois de hábeis costuras e negociações junto ao governo estadual paulista, em 1977, São João testemunhou e aplaudiu a primeira edição da Semana Guiomar Novaes, com a ilustre presença da própria. Desde então, sem interrupções, ocorreram quarenta e sete edições celebrando as mais diversas formas de manifestações artísticas.
 
Neste 2024, assisti a três espetáculos da Semana. Extasiado fiquei em todos. A programação que terminou no nascer da primavera foi das melhores de todos os tempos. Compartilho, a seguir, algumas impressões do meu êxtase.
 
15/09/2024 - Veterano e talentosíssimo, o mais do que versátil Osmar Prado veio pela primeira vez a São João. Sua atuação em O Veneno do Teatro é arrebatadora. Ele contracena com outro gigante dos palcos: Maurício Machado. Ao fim do espetáculo, e também no camarim, Osmar foi convicto quando disse que o texto desta peça é o melhor dos seus sessenta e cinco anos de carreira.


 




















16/09/2024 - Será que o sanjoanense tem noção da dimensão da Semana Guiomar Novaes? Impressionante a qualidade dos espetáculos! Impressionante como os artistas (todos) ficam embasbacados com o nosso Teatro! Ver e ouvir Lucinha Lins numa segunda-feira foi um privilégio das centenas de pessoas que lotaram o Municipal de São João da Boa Vista. Ao lado do filho Cláudio (cara, jeito, trejeitos e talento do pai, Ivan Lins), Lucinha, um ícone da música e da dramaturgia brasileira, deu um show de voz, simpatia, versatilidade e respeito à plateia. Num momento da apresentação, ela baba no rebento: “Você é bom, hein menino?!”. A genética é forte e ele não nega: “Aprendi tudo isso lá em casa!”.
 
20/09/2024 - Cresci ouvindo e admirando a geração caetânica da MPB. Vai daí que demoro a conhecer e ouvir gerações mais atuais da música brasileira. Josi, mais eclética e antenada, disse-me que Ana Cañas é uma grande e relativamente nova voz do cenário artístico do país. Quando vi Badi Assad na plateia do Teatro, antevi outra antológica noite da Semana Guiomar Novaes. E foi! Ana Cañas é um furacão de talento. Energizada, carismática e emotiva, cantou ela mesma e cantou alguns compositores da MPB. Contou, ainda, um pouco da sua cheia de superação história de vida. No palco, Ana Cañas é arte e exuberância; é, sobretudo, um símbolo vital de contestação, vigor, força feminina, resistência e provocação. Ana Cañas é, ao mesmo tempo, bossa nova e rock’n roll!



 

 
 
 
 
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