Novembro chegou chegando. Nem bateu na porta, foi entrando. A gente realmente, não é dono de nada. Tudo é emprestado. A vida emprestou-me um dia, a idade de 30 anos. Ah, eu gostei tanto! Bastou chegar novembro pra ela pegar de volta. Aí, emprestou-me o 31. Fiquei sem graça. Trinta anos tinha charme, nem menino nem adulto, puro charme. Foi assim que, de novembro em novembro, a vida foi se intrometendo na minha vontade, subjugando-me aos seus empréstimos, cobrando a reciprocidade por eles. Por vezes, no escuro da madrugada, eu me vesti de preto na tentativa de me tornar invisível e, sorrateiramente, correr na contra mão do tempo, quiçá chegar nos trinta e ficar por lá. A vida, no entanto, tem todas as cores, inclusive o preto. Não se engana a vida! Inexoravelmente, lá vem novembro outra vez, agora para levar os 77. A que ponto eu cheguei: antes, eu esbravejava contra o novo empréstimo. Eu queria ficar com o empréstimo antigo, pra que trocar se estava tudo tão bem? Hoje, resignado, eu devolvo o empréstimo antigo com gratidão e espero, ansioso, pela confiança ainda, do empréstimo 78.