29/05/2023 às 15h38min - Atualizada em 29/05/2023 às 15h38min
Fora de Moda
Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
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Imagem meramente ilustrativa - Reprodução Google C
Ultimamente ando me sentindo fora de moda, como um par de galochas competindo com botas de última geração em uma moderna sapataria.
Para ter uma ideia disso, ainda faço nome do pai em frente à igreja. Ainda peço licença para passar entre as pessoas e o volume do som do meu carro serve apenas à minha audição.
Acredite se quiser, mas ainda busco uma lixeira para jogar o papel e quando vejo alguém jogando uma latinha na rua, quase me mordo de vontade de jogar a pessoa no lixo.
Estou realmente fora dos novos tempos.
Quanto estou sentado e vejo uma gestante em pé, fico incomodado até oferecer o lugar. Continuo dizendo com muita frequência “por favor” e “obrigado” e, ao conhecer alguém, falo “muito prazer em conhecê-lo”. Coisa mais antiga, né?
Me espanto, de um lado, com o comportamento dos políticos e de outro, com a passividade do brasileiro.
Fico indignado ao ver o descaso do patrão com o empregado e o descaso do empregado com a empresa. Incomoda-me a tecnologia sem limites sendo mais valorizada que o humano e o comportamento sem limites dos que se dizem defensores da liberdade.
Por ser jornalista, ainda acredito na velha forma de divulgar uma notícia, certificando-me da fonte, pesquisando sobre a veracidade do assunto e, antes da divulgação, ouvir os vários lados da mesma história.
Verdadeiramente sou peça fora de catálogo, àquela ceroula branca em tempos de pijamas de grife.
Muito mais que mensagens virtuais, ainda valorizo o olho no olho, o abraço presencial, o artesanato das relações humanas.
Meus olhos ainda teimam em lacrimejar ao ver o cuidado de uma enfermeira com a paciente idosa. O sorriso aberto de um motorista de ônibus em meio ao trânsito insuportável. As mãos grossas de um jardineiro podando os espinhos de uma rosa e a professora de braços abertos recebendo as crianças na porta da creche.
Sinto-me realmente um peixe fora d ´água.
Leio poesia ao cair da noite. “Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, perdeste o senso. E eu vos direi, no entanto, que, para ouvi-las, muitas vezes, desperto e abro as janelas, pálido de espanto.” (Olavo Bilac).
Sou ainda aquele guarda roupa com espelho na porta em tempos de sofisticados closets e verdadeiramente, as roupas deste mundo moderno não servem em mim.
Ah! Tudo bem. Nunca gostei de uniforme.
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