28/04/2023 às 16h33min - Atualizada em 28/04/2023 às 16h33min
Lurdinha, o que faço desta vida sem você?
Por Odair Camillo - Jornalista
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Parece que faz tanto tempo, mas apenas dois anos se passaram. Lurdinha se foi numa tarde de abril, internada num dos quartos do hospital onde lutava bravamente contra uma doença. E eu não estava presente naquele triste momento.
Naquele dia, inexplicavelmente, cheguei minutos depois do horário combinado. Todos os dias, a mesma hora e a qualquer momento, eu jamais deixaria de vê-la. E ela sempre me aguardava, se acordada estivesse, algumas vezes tentando ocultar as dores que certamente padecia.
Mesmo naquele momento de sofrimento, eu contemplava seu belo rosto de pele lisa e morena, que jamais havia visto numa mulher de quase oitenta anos de idade. Alisava seus cabelos, bonitos, que resistiam à agressão da quimioterapia. E debruçado a seu lado, ela ouvia atentamente minhas palavras de conforto e de esperança, minhas sinceras declarações de amor, as belas lembranças vividas com nossos filhos e netos, e as maravilhosas viagens que junto fizemos mundo afora. E ela parecia gostar.
Às vezes, ela tentava acrescentar alguma coisa. Mas logo o cansaço e o sono a dominavam. E ela dormia, com um leve sorriso nos lábios. Naquela fatídica tarde, seus anjos que ela tanto venerava, vieram buscá-la, certamente para levá-la para um especial cantinho reservado no céu. Acredito que se eu lá estivesse naquele momento, lutaria com todas as minhas forças, e não permitiria que ela fosse embora.
Agora, depois desse tempo de solidão que insiste em não passar, as lágrimas afloram em meus olhos ao ouvir músicas cujos versos traduzem meu sentimento e amor que sempre tive por ela. E canto baixinho ouvindo Caetano, sugestão da amiga Alexa: Agora / Que faço eu da vida sem você / Você não me ensinou a te esquecer / Você só me ensinou a te querer...
