20/03/2023 às 15h28min - Atualizada em 20/03/2023 às 15h28min
Lurdinha sonhou ganhar na loteria. Mas nunca apostou!
Por Odair Camillo - Jornalista
Figura meramente ilustrativa - Reprodução Google C
Velhos e viúvos, zanzando pela casa, temos a mania de procurar nas gavetas e caixas, objetos e lembranças que possivelmente as esposas tenham deixado e que não ficamos sabendo.
Não as coisas valiosas, um brinco ou um anel de formatura (que já encontrei), mas, e principalmente, agendas, folhas avulsas, recortes de jornal ou pequenos papéis que possam ter alguma coisa interessante para ler, e resgatar.
E o interessante é que, mesmo encontrando coisas sem valor, sem utilidade, descartáveis, voltamos a guardá-las no mesmo lugar. Quem sabe algum dia podemos precisar?
E não é que hoje encontrei, a meus pés, sob a mesa do computador, numa caixa de papelão quase abandonada, algumas folhas manuscritas com sonhos e devaneios de Lurdinha sobre cada um de seus amados netos.
Sem uma data específica, mas supostamente reconhecida pela idade da neta mais nova que havia nascido naquele ano, presumo que elas tenham sido escritas há pouco mais de duas décadas.
E estas folhas, amareladas e corroídas pelo tempo, observa-se que foram retiradas de um caderno espiral e juntadas em ordem da idade deles. Nelas estão impressas, com sua caligrafia peculiar, o desejo de Lurdinha ganhar uma grande quantia em dinheiro, e presentear cada um dos netos com aquilo que lhes faria imensamente alegres e felizes para sempre.
Mas o seu sonho era quase irrealizável. Com sua formação religiosa, na sua simplicidade e amor ao próximo, no seu sonho onírico, ela ainda acreditava um dia ganhar na “loteria esportiva” daquela época. Mas nunca fiquei sabendo se ela, pelo menos uma vez tivesse apostado.
E seus devaneios iam de bonecas suíças para as netas mais jovens, frascos de perfume Chanel Nº 5 e anéis de brilhante para as maiores. E para os netos, brinquedos de alta tecnologia lançados no mercado, chegando até a automóveis Land Rovers.
Bem. Tenho que admitir que mesmo sendo mais realista do que ela, criterioso e ponderado, e até um pouco pão-duro, com tanto dinheiro disponível num sonho como esse, eu também faria a mesma coisa. E no final, acordaria desse sonho e diria, como ela mesmo disse ao despertar, convicta da realidade: “Acorda, perua!”