30/01/2023 às 15h29min - Atualizada em 30/01/2023 às 15h29min
Mestre sem cerimônias
Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
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Figura meramente ilustrativa - Reprodução Google c
Naquele tempo apresentava diversos eventos pela cidade, o que, por vezes ainda faço, mas com muito menos ventos que outrora.
Confesso que o título “MC” (Mestre de Cerimônias) nunca me vestiu muito bem, já que, usualmente, sempre fui “sem cerimônia” alguma, fugindo dos protocolos para tentar, de forma informal, quebrar as “Vossas Excelências”, tentando, ao máximo, não perder a excelência da celebração, cerimônia, solenidade, festa, festejo, festividade, espetáculo, encontro, sarau, serão, ato, reunião, convívio, show, conferência, congresso, palestra, convenção, simpósio, seminário, campeonato, torneio, concurso.
Assim, fui “animador” de missa, tendo abandonado a missão por andar muito desanimado. Fui “DJ” (Disc Jockey) na então Discoteca Carinhoso, até quando senti carinho pela função.
Certa feita, apresentei ainda etapa de prova de motocross, à noite, sem entender nada de moto e muito menos de cross. Foi escurecedor. “O primeiro está na frente e o último vem atrás de todos os outros”.
Mas, vamos ao que não interessa.
Um incerto dia fui convidado para apresentar uma cerimônia no Palace Casino. Auditório cheio e eu, não sei a razão, me sentindo meio vazio. Estava lá, mas não estava lá e, mesmo internado, ou seja, de terno, a vontade era de ir para casa, colocar um pijama e dormir.
Contudo, profissional é profissional. Deve fazer tudo muito bem, mesmo que se sinta muito mal. Rimou.
Recebi uns “papeizinhos”, assim mesmo, com os nomes das pessoas, com suas funções, que iriam “compor a mesa”. Daí, tem os pratos, os talheres, os garfos...ops, desculpem-me. Sigamos o protocolo. No momento de compor a mesa, as autoridades devem ser chamadas de acordo com a ordem de precedência, ou seja, do menor grau de relevância hierárquica para o maior, de maneira que, ao final, restará apenas a cadeira do centro para ser preenchida pela autoridade maior. Isso.
Detalhe importante: os nomes nos papeizinhos estavam escritos à caneta, ou seja, era necessário decodificar a letra da escrevente, que, data vênia, parecia a minha: indecodificável.
Daí, ao mesmo tempo que eu lia, falava. Atitude imperdoável na apresentação de um evento, nada recomendável protocolarmente, já que é necessário saber o nome das pessoas para evitar erros de pronúncia e função. Pois bem. Se alguma coisa tem a chance de dar errado, certamente dará (Lei de Murphy).
Lendo e falando, aconteceu o acontecido. Em determinado momento, peguei um papelzinho para ler o nome da autoridade e o meu mundo caiu. O nome escrito no papel era: Antônio Veado.
Porém, pintou a dúvida, já que estava à caneta. E se a autoridade não fosse “Veado”? E se fosse Vlado? Vrado?
Ocorre que eu já estava lendo e, fui, nos milésimos de segundo separando o nome do sobrenome, estendendo o primeiro nome para pensar no que faria.
- Antôniooooooooooooooo...
Daí uma senhora sentada nas primeiras fileiras, percebendo meu dilema, sussurrou:
- É isso mesmo!
Com a devida licença daquela senhora, enchi os pulmões e completei o sobrenome do Antônio, gritando:
- Veadoooooooooo!
Foi com tanta ênfase que, desnecessário dizer, houve um misto de risadinhas e risadonas na plateia.
Profissional que era me recompus, terminei de fazer a (des) composição da mesa e o evento seguiu normalmente, ou quase.
Ao final, a mesma senhora que havia me dado o sinal verde se aproximou de mim e muito educadamente se apresentou como a esposa do Antônio, ao que eu, surpreso, ressaltei:
- Muito prazer! Então, a senhora é a esposa do Veado?
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