27/01/2023 às 15h35min - Atualizada em 27/01/2023 às 15h35min
O “Robin Hood” dos anos 70
Por Odair Camillo - Jornalista
Acordei mal-humorado nesta manhã de domingo. Como de costume, olhei para o lado e Lurdinha não estava. Depois lembrei-me que ela havia “viajado” para longe, sem minha permissão, e me deixara sozinho. Tentei dormir mais um pouco, mas não consegui. Ainda na cama, revirando de um lado para outro, resgatei algumas lembranças não muito agradáveis de minha vida.
E então, os iminentes problemas vieram à tona. Entre eles, a necessidade de concluir e publicar minhas lembranças em forma de anotações esquecidas no fundo de uma gaveta, e de um caderno com inúmeros recortes de jornal, já amarelados pelo tempo, guardados se necessário para serem instrumentos de prova e transformados em um livro, o “Resgate de um sonho”.
Rascunhos imprescindíveis para avivar minha memória, ainda razoável. Meus amigos atuais, pouco ou nada sabem dos reveses que passei nas décadas de 70. Mas nada relacionado à minha vida particular, social e jornalística ao lado de Lurdinha, ou nas viagens que fizemos por esse mundo afora.
Na gaveta está a minha “vida paralela”. Anos sofridos intensamente no combate a uma parte poderosa, miserável e egoísta da população, para manter e salvar a entidade que criei visando o menor carente e desassistido: a Guarda Mirim.
Cheguei na época a ser chamado de “Robin Hood”, o herói que não “roubava” para si, mas que cobrava da nobreza que possuía automóvel, uma taxa para a utilização das vagas de estacionamento, funcionais e necessárias, cujo resultado financeiro seria destinado aos Guardinhas Mirins. Uma luta inglória contra tudo e contra todos. Mas a justiça prevaleceu, e venci em parte a batalha!
Já desperto dessas tristes lembranças, levanto-me e vou até o escritório. O interfone toca, e atendo. Do lado de fora do prédio, uma voz grave pergunta: “É o senhorzinho do primeiro andar? Por favor, desculpe, aqui é o Jonas do Abrigo do Menor. Vim receber a sua contribuição mensal”.
No mesmo instante, sinto uma sensação de alívio, e meu mau humor parece dissipar-se. E imediatamente, penso comigo: “Felizmente ainda há pessoas e entidades que se dedicam a salvar e promover o menor carente!”.