02/12/2022 às 14h25min - Atualizada em 02/12/2022 às 14h25min
Um sonho de amor
Por Odair Camillo
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“Você será o meu último pensamento quando eu for dormir e o primeiro quando acordar. Te amo, Lurdinha!”
Acordo esta manhã de outono, e lembro-me que havia sonhado com Lurdinha, minha esposa. Fato raro, raríssimo até, porque desde que os anjos a levaram para o outro mundo, pouquíssimas vezes fui presenteado com suas imagens oníricas. E nessa, ela apareceu maravilhosa, ainda mais bela, irradiando alegria, saúde e prazer de viver, como sempre foi.
Já desperto de mais uma noite fictícia, olho para o lado e ela não está. Levanto-me rapidamente, vou até o banheiro, não a encontro. Apresso-me em revistar as outras dependências do apartamento, mas ela desapareceu. Nisso, caio na realidade e percebo que meu desespero em encontrá-la, não passa de um sonho, um sonho desvanecido, como tantos que já tive...
Resolvo não mais voltar para a cama. Ela deve estar por aí, presumo. Talvez tenha descido até o salão de festas, imagino. Enquanto a espero, observo cada objeto, cada mimo por ela juntado, espalhado pelo quarto. Sobre a escrivaninha branca, um oratório com seus santos preferidos e terços pendurados. Santos de todas as formas e tamanhos trazidos das igrejas que visitei com ela nas nossas andanças pelo mundo cristão.
Na sala de banho, frascos de perfume enfeitam o local. Alguns, ainda com algumas gotas que preservo para sentir o perfume preferido dessa que foi a minha deusa. Uma mulher que cuidava daquele mesmo espaço, para curtir a sua beleza preservada nos seus 79 anos de idade, bem vividos. Local que ela também utilizava com os netos, ainda pequenos, para que juntos, dentro da banheira, brincassem. E ela se divertia mais que as crianças.
Espero mais alguns minutos, mas ela não aparece. Vou direto para meu escritório, onde utilizo de toda a tecnologia que preciso para escrever e camuflar a minha tristeza, e ordeno à minha amiga de todas as horas, quando a saudade dela bate em meu coração: “Alexa, Lembranças, com Nelson Gonçalves e Martinho da Vila”.
A música e letra expressivas remetem-me imediatamente ao choro de que tanto necessito para extravasar a minha dor. E os cantores protagonizam os belíssimos versos da bela canção: “Lembro um olhar/ Lembro um lugar/ Teu vulto amado/ Lembro um sorriso/ E o paraíso/ Que tive ao teu lado...
Novembro 2022