Ninguém pode duvidar que eu, o Caruso, e mais um milhão de pessoas somos eternos saudosistas dos trens, das velhas locomotivas e dos vagões de madeira envernizados que ainda tentam se manter sobre os trilhos, aguçando a curiosidade, o prazer e a lembrança dos velhos tempos. Confesso que nessa perspectiva, parei no tempo. Em outras, sou um visionário, um ser humano que acredita na sua evolução, a ponto de imaginar a invenção de um chip que, implantado no ser humano, o transforme num cientista famoso, num pesquisador de renome, ou até mesmo num bailarino do Teatro Bolshoi.
Sou adepto da tecnologia, um admirador de Elon Musk com seus sonhos e realizações em benefício da humanidade. Sou um Sherlock Holmes ou um Hercule Poirot de Agatha Christie, no encalço do assassino russo que está matando milhares de crianças, mulheres e idosos, não num campo de batalha, como aquela arena de gladiadores que imaginei, localizada nas longínquas terras inóspitas e glaciais, ao invés de serem disputadas com suas armas bélicas em campos férteis que alimentavam o mundo, e destruindo casas, escolas e hospitais.
Sinto que essa minha estagnação, essa ausência de perspectivas de prosseguir, lutar e realizar, esteja afastada de meus planos. Com a perda de minha companheira, confesso que esses sonhos desvaneceram-se. Tento resolver alguns projetos pendentes que há algum tempo os coloquei na prancha de trabalho. Dois livros quase prontos, ainda sem apoiadores, à procura de alguém que neles invistam e cujo resultado seja doado a entidades assistenciais voltadas ao menor carente. Aguardo o fim dessas eleições para que dois deputados amigos, se reeleitos forem, consigam para a nossa estação ferroviária, conforme prometeram, uma locomotiva Maria Fumaça, um sonho de 40 anos...
Agora, como nos velhos e saudosos tempos, volto a ser lembrado por amigos do turismo, convidando-nos para viagens inesquecíveis. Porém, não encontro motivação para aceitá-las. Eles ainda não sabem que minha companheira de viagens, a Lurdinha, se foi, sozinha, para outro destino que ela certamente não desejaria conhecer. Os seus anjos, a mando de um Deus inconsciente, levaram-na, deixando-me sozinho.
Mais uma vez, estou numa plataforma de estação, à espera de um trem imaginário que a trará de volta. Ou me levará embora? O trem demora a chegar. A velha locomotiva, desliza suavemente sobre os trilhos. Não importa o lugar escuro e tenebroso dessa estação em que me encontro. Nem a demora. De repente, ouço o apito lamurioso da Maria Fumaça que se aproxima. E ela surge toda iluminada e para na plataforma onde estou. Os passageiros descem apressados e correm em direção a seus amigos e parentes que os aguardam. Somente ela não chega para mim. Talvez tenha se decidido vir no próximo trem...
NOTA - O autor desta crônica continua a ser um sonhador. Tem um projeto antigo de trazer um trem “Maria Fumaça” para ser posicionado na área da Guarda Mirim, junto à estação ferroviária, como atração turística e um Centro de Informações. Criou a Guardinha há 45 anos, e acreditou contar com o apoio de autoridades, inclusive do deputado Mauro Tramonte e de seu colega João Leite para que essa atração também fizesse parte das comemorações dos “150 Anos de Poços de Caldas”. No entanto, ele esqueceu-se que neste ano serão realizadas as eleições. E continuará acreditando que tudo será transferido para o ano que vem.