19/09/2022 às 13h10min - Atualizada em 19/09/2022 às 13h10min
Antes socialistas, hoje socialites
Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
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Figura meramente ilustrativa- Reprodução Google c
Muito poucos sabem, mas meus primeiros passos no jornalismo ocorreram na capital paulista, no início da década de 1980, quando como “foca” (jornalista iniciante) arrumei uma vaguinha (que não durou muito, pois o jornal foi ‘lacrado”) no “Voz da Unidade”, periódico do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Minha função, não remunerada, era escrever sobre o calendário comunista. O referido jornal, salvo engano, durou até os primeiros anos da década de 1990.
Naquele tempo, as mulheres militantes, eram, em sua maioria, jovens “ripongas” de calças jeans e tênis, camisetas brancas estampadas com a célebre foto de Che Guevara. Os homens, de camisa social por sobre a calça preta, sapatos pretos, cabelos desalinhados e barba por fazer, bradavam contra o capitalismo tendo debaixo dos braços um exemplar de “O Capital”, de Karl Marx. Confesso que havia um encantamento ideológico que inebriava a quem, como eu, estudante de jornalismo, tentava entender as causas das injustiças sociais. Me lembro até do Lindbergh Farias que iniciava sua carreira política como líder estudantil.
Hoje, muitos daqueles jovens são os mesmos que, continuam a falar sobre a “direita golpista”, a luta de classes, a mais valia, porém, não abdicam de se alimentarem do luxo e das benesses do Sistema, tecendo críticas ferrenhas contra a elite que é exatamente a classe à qual pertencem na atualidade, embora nunca admitam. Residem em apartamentos luxuosos do Leblon e, vez em quando, filosofam sobre a vida dura de quem mora em Cascadura, culpa, claro, do “capitalismo selvagem”.
Comentar sobre a miséria humana, legislar sobre justiça social, defender as minorias e os excluídos, fica mais eloquente e saboroso, durante um jantar à luz de velas em um restaurante “elitista”, degustando um salmão e deliciando-se com uma geladíssima champagne Moët & Chandon, como bem descreve o termo também francês “esquerda caviar” sobre alguém que diz ser socialista, mas leva uma vida de luxos e glamour, termo ainda que dá título ao livro do escritor e economista Rodrigo Constantino.
Por falar em França, dias atrás comentava com um amigo sobre Chico Buarque, um dos grandes compositores brasileiros, de impagável talento, que, com todos os méritos, vive em Paris, mas vive também, à distância, comentando sobre as “agruras” do cidadão brasileiro.
Finalizando, muitos intelectuais da “esquerda festiva”, como afirmava Nelson Rodrigues, são como cientistas de laboratório. De posse de um microscópio em um ambiente controlado, analisam as causas da existência dos marginalizados sociais, indignando-se com as injustiças provocadas, afirmam, pelo poder do capital. Contudo, minutos depois, retornam para as suas mansões palacianas e lavam suas mãos com álcool em gel, importado, claro.
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