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05/09/2022 às 16h31min - Atualizada em 05/09/2022 às 16h31min

A paquera na época do “footing”

Fotos: Reprodução / Memória de Poços de Caldas
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Meu amigo Roberto Tereziano, atendendo a uma solicitação que lhe fiz para informar-me um pouco mais sobre lugares e pessoas que participavam da paquera romântica entre os jovens, conhecida como “footing”, que acontecia na Praça Pedro Sanches, enviou-me um texto pesquisado por ele em livros e documentos da época, com informações preciosas, escritas por personalidades de nossa cidade.
 
Segundo ele, essa modalidade de encontro romântico foi iniciado em 1911 com a inauguração do Politheama (foto), um cinema construído na avenida Francisco Salles, ao lado da Prefeitura, onde há hoje um estacionamento, formando um conjunto com o Grande Hotel. Aquele local passou a ser o ponto elegante de Poços de Caldas. Anos depois, o “ponto chic” foi transferido para a Praça Pedro Sanches, ou um pouco além, chegando até onde é hoje o Banco Itaú.
 
Com a inauguração do Palace Hotel, em 1923, e mais tarde, em 1927, com a modernização da área central, não só o trecho da praça, mas parte da Rua Minas Gerais, passaram a ser a referência romântica de nossa cidade. Bastava que o fim de tarde e começo da noite chegassem e a avenida ganhava sua função de ser o ponto de encontro dos jovens enamorados. Foi ali que muitos dos belos romances de Poços de Caldas nasceram.
 
Os rapazes e moças vestiam seus melhores trajes e caminhavam para a avenida. O “footing”, como a própria palavra significa, era feito a pé. Dispensava as paqueras de automóveis, que só viraram hábito mais tarde. O “footing” acontecia nas calçadas e até mesmo no leito carroçável da rua Minas Gerais.
A juventude da cidade formava um grande corredor, com rapazes enfileirados lado a lado da calçada, deixando no centro um espaço livre por onde as moças elegantemente vestidas desfilavam de um lado para outro nas idas e vindas, de um extremo ao outro. Era assim que as paqueras aconteciam.
Os flertes eram um sorrisinho, uma troca de olhar e o encanto acontecia. A flecha do amor havia atingido seu alvo. O jovem se aproximava e chamava a menina para um papo mais pessoal. Assim, na maioria das vezes estava começando o love.
 
Um micro-ônibus fazia o transfer do Quisisana até o Cassino Imperial

Lembro-me ainda menino de ter visto um micro-ônibus estacionado em frente ao Cassino Imperial, onde é atualmente o Banco Itaú. Ele transportava os hóspedes do Quisisana Hotel, para jogarem naquele cassino. Sua construção não foi concluída, ficando apenas no subsolo e andar térreo. Era algo muito pomposo. Seria o primeiro grande edifício de Poços de Caldas, mas a conclusão do prédio foi paralisada com a proibição dos cassinos, em 1946.
 
O prédio inacabado deu lugar a uma série de pequenas lojas que vendiam artigos artesanais. Era ali o ponto de partida. Ao atravessar a rua Prefeito Chagas, todos obrigatoriamente entravam numa loja da esquina, chamada Casa Bella. O nome não se referia à sua beleza. Bella era o nome da proprietária, esposa de um dos poucos judeus que moravam em Poços de Caldas.
Essa loja de modas, que era uma das maiores da cidade, mantinha mesmo quando o estabelecimento estava fechado, um amplo corredor interno com grandes espelhos. Era ali que os participantes dos históricos passeios pela avenida davam o “tapa final no visual”.  Ali, vendo-se de corpo inteiro, arrumava-se a roupa, os calçados, o cabelo e até a maquiagem. Só então se sentia pronto ou pronta para se lançar na paquera pelo “footing”.
 
Ao lado da Casa Bella havia outro ponto obrigatório. Uma das primeiras grandes revendas de carros importados, que era conhecida pela propaganda “Quem ainda não sonhou em ter um automóvel como esse?”. Era a Junqueira & Linguanotto, que também se promovia pelo que chamavam de “ampla garagem”, onde os diversos carros eram expostos. Os belos carros já entravam no sonho de consumo daquela juventude.
 
Pouco mais à frente estava o Restaurante Castelões, hoje uma sapataria. Era um dos restaurantes chiques da cidade, onde grande parte das pessoas nem tinha condições financeiras para entrar. Pertencia à família do Gijo, um italiano que também foi proprietário do histórico Recanto Mineiro, um restaurante que existiu onde é hoje o Recanto Japonês, antes chamado de Caixa D’água. O Castelões, em seus últimos tempos, foi dirigido por Rodolfo, um dos filhos do mestre Gijo.
 
Alguns passos adiante, lembro-me da Casa do Álvaro, uma doceria que tinha como atração, um balcão envidraçado expondo as taças de arroz doce com cobertura de canela e as gelatinas coloridas. Nas noites quentes de verão, meus pais nos traziam para nos deliciarmos.
 
 
Caminhando um pouco mais se chegava à Agência Galize, uma grande revenda de jornais, revistas e livros. Depois se chegava a outra tradicional loja pertencente ao comerciante Victor Marchesi, uma espécie de embaixador do turismo de Poços de Caldas. A loja Jeca Tatu (foto) era especializada em artesanato, doces e vinhos, e ficava aberta até mais tarde.
 
NOTA: A crônica sobre o "footing" continua amanhã
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Por Odair Camillo & Roberto Tereziano
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