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21/07/2022 às 16h28min - Atualizada em 21/07/2022 às 16h28min

Minha professora de inglês seria uma princesa russa?

Fotos: Reprodução Google
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Miss Tamara Gagarin, a “princesa russa”, foi minha professora particular
 
Com apenas 16 anos já tinha vontade de falar fluentemente uma língua estrangeira. E eu tinha pressa em aprender, optando por aulas particulares, mais caras, mas eficientes.
E em busca de um professor particular, acabei conhecendo, por intermédio de uma senhora, identificada como governanta de uma professora de origem russa, que diziam ser descendente de nobres, que falava seis idiomas e que morava na rua Santa Catarina, região central da cidade.
 
Na data agendada para combinarmos os dias e valores a serem pagos pelas aulas, fiquei um tanto decepcionado. Ela recebeu-me friamente, com extremo cuidado, desconfiada, e ao entrar, fui convidado a assentar-me a uma mesa razoavelmente desproporcional ao tamanho da sala.
 
A luz fraca não deixava transparecer o ambiente formal, próprio de uma pessoa bem idosa. Num dos cantos da sala, notei que havia um instrumento musical encostado na parede, que se assemelhava a um violão esquisito com a parte maior, onde é formado o som, na forma de uma bola grande cortada ao meio. Depois fiquei sabendo que era uma balalaica, instrumento muito popular na Rússia.
 
Mal vestida, e usando um pano na cabeça e um grande xale envolto ao pescoço, Miss Tamara, como era conhecida, dirigiu-se a mim em inglês, talvez querendo testar os meus conhecimentos da língua britânica. Como estava preparado para esse encontro, respondi da forma que sabia e logo, acertávamos dias, horários e o valor que teria que pagar por cada aula.
 
Depois de tudo acertado, três vezes por semana apresentava-me em sua residência da Rua Santa Catarina para aperfeiçoar-me na língua inglesa. Algumas vezes tive curiosidade em conhecê-la melhor, mas ela jamais se comprometeu e logo mudava de assunto.
Mais tarde fiquei sabendo que a revista O Cruzeiro, de circulação nacional, havia feito uma extensa reportagem sobre ela, como sendo a grã-duquesa Anastásia Romanov, filha do czar Nicolau II e da czarina Alexandra Feodorovna, governantes da Rússia Imperial.
Segundo relatos oficiais, toda a família foi assassinada em 1918. No entanto, diz a lenda que Anastásia, com 17 anos de idade, e um irmão, teriam escapado e fugido para outros países. Anastásia teria vindo depois para o Brasil, passando por várias cidades, estabelecendo-se finalmente em Poços de Caldas, onde viveu por 20 anos, quando veio a falecer.
 
Durante as aulas, algumas vezes cheguei a imaginar ter à minha frente uma possível princesa que falava seis idiomas e que, embora idosa, tinha todas as características de ter sido no passado, de origem nobre.
Também percebi que o método de ensino utilizado por ela, parecia eficiente. O que era ensinado numa aula, era inevitavelmente recapitulado na aula seguinte, enfocando termos e expressões gramaticais mais utilizados. Preocupado com o custo dessas aulas, tornei-me um aluno esforçado, aproveitando cada minuto para estudar, e após alguns meses, havia adquirido uma boa cultura inglesa, baseado na leitura, tradução e interpretação das mais importantes obras dos escritores de língua inglesa.
 
Depois desses meses todos dedicados ao estudo da língua inglesa, numa noite ela sugeriu-me que passássemos para a língua francesa, já que havíamos percorrido todas as fases, e que pouco, ou quase nada havia de maior importância para dar continuidade ao inglês. Evidentemente que gostei muito dessa sua observação, e já na aula seguinte, iniciei meus estudos do francês.
 
Quanto à sua capacidade de falar outras línguas, acredito que, pela sua cultura adquirida na infância e adolescência, e depois na sua fuga constante, tentando livrar-se de seus algozes e assassinos, vivendo por alguns anos em vários países, ela teve tempo suficiente para aprender ou relembrar seus idiomas, e se tornar uma poliglota. Com isso, tive a oportunidade de melhorar ainda mais o que havia aprendido, uma vez que a tradução que fazia do francês era feita diretamente para o inglês.
 
Do livro em preparação "O Menino de Paranapiacaba”

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