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20/04/2022 às 16h23min - Atualizada em 20/04/2022 às 16h23min

Perdas e danos

Jornalista, publicitário, escritor e professor universitário
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Figura meramente ilustrativa – Reprodução Google
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A responsabilidade de condenar ou absolver alguém é da Justiça, seja pelo veredicto de um juiz ou de um júri popular, após as palavras de advogados, acusados e testemunhas, análise de documentos e respeito à legislação.
Aos que assistem, sejam eles familiares ou amigos dos réus ou das vítimas, cabe respeitar a sentença proferida. E assim, me posiciono.
Porém, registro que fiquei muito triste com a condenação do Dr. Álvaro Inhaez no caso do menino Pavesi.
 
Em 2014, escrevi o texto abaixo, que resume até os dias atuais o que penso sobre o assunto.
 
É inimaginável a dor de um pai pela perda irreparável da vida de um filho.
Mais que isto, como mensurar o tamanho deste sofrimento, se este pai acredita que a perda foi provocada por erros médicos?
É incalculável o dano social provocado pela paralisação de serviços de transplantes de órgãos em uma cidade. Como calcular a perda de vidas humanas que poderiam ter sido salvas pelo ato voluntário da doação?
É impossível dimensionar a dor de médicos que têm sua credibilidade atingida e que de repente se veem impedidos do exercício da profissão, presos em celas, suspeitos de terem cometido um crime? Como avaliar o dano moral e espiritual da perda da liberdade? Como colocar algemas em mãos que, livres, tinham o compromisso de salvar vidas?
É indescritível o dano provocado à imagem de uma cidade que tenha seu nome veiculado em todas as redes sociais e mídias tradicionais por supostamente abrigar uma rede clandestina de transplantes. Como medir o que isto afeta a idoneidade da classe médica deste município?
Sim, claro, temos a Justiça que tarda, mas não falha, ou que exatamente por tardar é falha. Tentamos acreditar que ela (a Justiça) se fará presente e dará o veredicto para tal situação. Contudo, quer isto aconteça ou não, cabe contabilizar que o vaso se quebrou e as partes coladas já não representam o mesmo vaso.
Perdemos todos: os pais, os médicos, os doentes na fila de transplantes, a sociedade.
O que nos resta?
Apenas lamentar tanto sofrimento e calar nossa vontade imperiosa de julgar o certo e o errado. Refrear nossos inquestionáveis argumentos de absolvição ou condenação. Deter nossa pretensão de sentenciar a culpa ou a inocência de alguém.
Neste caso, o silêncio talvez seja nossa maior expressão de lamento. Não é omissão, é impotência. Silenciar, por vezes, é uma forma de pranto. É o grito contido de desalento entre tantas perdas e danos.
 
 
NOTA - Conforme a Justiça, quatro médicos teriam sido responsáveis por procedimentos incorretos na morte e remoção de órgãos do menino Paulo Veronesi Pavesi, em abril de 2000, após ele cair de uma altura de 10 metros no prédio onde morava. O exame que apontou a morte cerebral teria sido forjado, e o garoto ainda estaria vivo no momento da retirada dos órgãos. Os quatro negam qualquer irregularidade, tanto nos exames quanto nos transplantes aos quais o garoto foi submetido. 
Em janeiro de 2021, José Luiz Gomes da Silva e José Luiz Bonfitto foram condenados a 25 anos de prisão. Já Marcos Alexandre Pacheco da Fonseca foi absolvido pelo júri.
Álvaro Ianhez foi condenado ontem (19) por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e pelo fato de a vítima ter menos de 14 anos. A pena é de 21 anos e oito meses de prisão em regime fechado. A defesa disse que vai recorrer da decisão e que vai entrar com um pedido de habeas corpus para que ele responda em liberdade.
 



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