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28/01/2022 às 16h44min - Atualizada em 28/01/2022 às 16h44min

O esplendor de nossos cassinos (1)

FONTE: Brand-News - FOTO: Brand-News
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“Memórias de meus oito anos”
 
Os saudosistas como eu, que ainda conseguiram ver os últimos momentos de nossa cidade sob o fascínio do seus inúmeros cassinos e a euforia da população nas noites iluminadas da Praça Pedro Sanches, certamente que apreciarão esta crônica.
 
Com pouco mais de oito anos de idade, lembro-me de alguns momentos inesquecíveis quando, eu e meu irmão Dárcio, agarrados aos braços de meus pais para não nos perdermos no meio da multidão, caminhávamos quase todas as noites pelas ruas agitadas de Poços de Caldas e terminávamos na “Casa do Álvaro”, onde é hoje, talvez, a sorveteria Mi Casita, para saborearmos um arroz doce, ou uma gelatina, que só o Álvaro, um senhor alto, de meia idade, e sua equipe, sabiam fazer.
 
De volta para casa, parávamos por alguns minutos à frente de algum cassino, e haviam muitos - o Palace Casino, o Gibimba, o Imperial Azul ou outro qualquer -, para apreciarmos a entrada de alguns artistas famosos da época, como Libertad Lamarque ou Pedro Vargas, Carmen Miranda ou Grande Otelo, que se apresentariam naquela noite no show, ou mesmo tentariam a sorte na mesa verde.
 
À porta do Palace Casino, o mais importante e luxuoso, o sr. Salvador Banhos, amigo de meu pai, elegantemente trajado como um oficial alemão, reverenciava a entrada de abonados casais e personagens famosos. Orgulhava-se do seu uniforme bordô, com grandes botões dourados, e de conhecer pessoalmente as maiores figuras da vida política, social e artística do Brasil e de outros países.
Foi por longos anos o rico e invejado porteiro do Palace Casino - tão rico e invejado como devia ser um porteiro de cassino, nos bons tempos do baccarat, do campista e da víspora.
 
Por volta de 1890, conta a história dos cassinos que os hotéis que existiam na cidade recebiam seus turistas em busca dos tratamentos terapêuticos proporcionados pelos banhos de água sulfurosa. E para entretê-los nas horas de ociosidade, ofereciam aos hóspedes alguns jogos como forma de lazer durante as estações de cura que geralmente duravam 21 dias.
 
Um dos cassinos pioneiros em nossa cidade foi o Cine Teatro Polytheama, que abriu suas portas em 1919, em conjunto com o Grande Hotel, construídos entre a Prefeitura e o Mercado Municipal, um fino estabelecimento marcado pelo luxo de suas instalações. “O prefeito na época era Francisco Escobar, visionário e que entendia a importância de trazer para a cidade não apenas os turistas em busca dos banhos termais, mas que podiam e queriam apostar grandes somas e exigiam requinte.”
 
Com o fechamento dos cassinos, o conjunto ficou praticamente abandonado. Lamento dizer que, na minha idade, está muito difícil encontrar uma pessoa, um amigo com quem eu possa conversar, lembrar das inesquecíveis sessões de cinema que assistíamos no Cine Polytheama – onde durante todos os fins de semana era projetado um filme seriado do “mocinho” Charlie Chan contra os bandidos armados com facas e espadas.  Tinha eu pouco mais de dez anos. 
 
Estes foram um dos poucos momentos que consegui registrar, e fixar em minha mente, sobre o esplendor dos cassinos de Poços de Caldas.  Uma cidade que se orgulhava de produzir o sonho de riqueza de seus frequentadores, como também a possibilidade de tudo perderem, em apenas uma noite de azar.

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